domingo, 27 de junho de 2004

frases da semana:

O problema é que o Fulano tem duas mãos esquerdas. E ele é destro.
(Luciano)

- o Zé tem TOC (transtorno obsessivo compulsivo), tem mania de lavar as mãos toda hora.
- mas sabe a quem ele puxou?
- a Pôncio Pilatos.
(Paulinho)

Sexta à noite, Alice no bar chama a garçonete:
- moça, por favor.
- pois não.
- quem matou Lineu?
- ah, foi a Laura, o segurança acabou de me contar.
- brigada.
- nada. mais dois chopes?





aquela noite

acabei de me deitar e ouvi os gritos lá longe. não era comemoração de jogo. o som numa cadência, pareciam palavras de ordem numa passeata de protesto, seriam os camelôs? mas àquela hora, mais de meia-noite? afinal eu moro onde tudo é possível, Copacabana princesinha do maremoto. mais provável seria uma manifestação daquelas do tráfico, de incendiar os carros pelo caminho. mas essas não costumam ter palavras de ordem (e nem mesmo de desordem) repetidas disciplinadamente pela multidão. bem, o som se aproximava, talvez desse pra entender alguma coisa.
- Brizola/ guerreiro/ do povo brasileiro!
entendi.
liguei a TV e pela primeira vez vi os repórteres da Globo elogiando os Cieps, o Sambódromo, o nacionalismo, a coragem, a coerência, a determinação da liderança popular capaz de atrasar um golpe militar por três anos só com a mobilização do povo pela rádio montada nos porões do Piratini, sede do governo estadual gaúcho, em 61. lembrei do Allende, bombardeado em circunstâncias parecidas. lembrei da revolução que não houve e das nossas baixas reais, lembrei de coisa pra caramba. de como a vaidade pessoal pode embaçar a clareza da visão política, de como é difícil ceder espaço e confiar nos outros, reconhecer a hora de agir como a locomotiva e a hora de ser escada, é tão difícil sair do papel principal e continuar no palco. lembrei da Ópera do Malandro e de como a Lucinha Lins tá cantando inacreditavelmente bem, à altura de todo o elenco perfeito.
lembrei de uma infância de desbravadora bandeirante dos cerrados, dos sonhos de progresso inexorável dos anos 60, do futuro escrito nas estrelas, dos foguetes e naves espaciais, das onças que a gente queria caçar no Paranoá, das palavras gravadas na parede dourada do palácio em construção que tinha telefone na banheira: deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e confiança sem limites no seu grande destino, Brasília capital da esperança, do barro vermelho, da politicagem, do b-rock e do tédio infinito.
lembrei daquela outra atriz contando o quanto lhe custou desencarnar do personagem que foi seu ídolo na vida real, tão melhor que ela; lembrei daquele filme, da estrada no escuro, dos faróis azuis iluminando a praia e do meu coração subindo até a garganta; lembrei de ter sido tão livre; lembrei de ter sido tão boba; lembrei da Sereiazinha perdendo sua voz e dançando sobre facas por escolha própria e virando espuma no fim; lembrei de quantas vezes paguei pra ver, com mais que a voz ou uma cauda de peixe, paguei e não vi mais do que o pouco que existia, mas não virei espuma; lembrei de um remoto ano nebuloso de solidão e auto-engano, da vontade tornada impulso imperioso e destino inescapável, e do risco de entregar o que tinha de melhor em mãos despreparadas e desatentas; lembrei do desprezo que toda covardia me provoca, da promessa de cuidar melhor das pérolas e da quebra de todas as promessas; lembrei da perda de confiança em todos os futuros possíveis, e do quanto custa reorganizar a vida depois de desmontada pedrinha por pedrinha; lembrei que sempre se consegue reorganizar a vida por pior que pareça; lembrei da sorte, da estrela, do inexplicável que põe no caminho o que é preciso e nem adianta fechar os olhos porque a gente tropeça.
notei que minha vida já recomeçou do ponto onde parou, sem áreas proibidas, sem auto-censura, sem muletas, sem alarmes, sem a vulnerabilidade extrema às maldades do mundo cruel. de repente percebi o fim do intervalo de readaptação, das defesas exageradas e do medo de fraquejar. o fim do medo de passar de novo pelos problemas inevitáveis. lembrei do quanto é ridícula a ilusão de evitar problemas. lembrei do Henfil, do Wolinski e dos Malvados.
já posso voltar.
ou melhor, faz tempo que voltei, pra essa ilha de doçura e paz insuspeitadas no meio da agitação dos prazos curtos, das balas que tentam achar, da vida nômade de sem-tela-própria, dos monitores solares e programas desconhecidos, das linguiças envenenadas, do metrô que escapa da trilha e dos ônibus que fogem do ponto.






tu precisava ouvir os greatest hits arqueológicos da Secretária Telefrônica.


diz que eu não sou de respeito
diz que não dá jeito
de jeito nenhum
diz que eu sou subversivo
um elemento ativo
feroz, nocivo
ao bem-estar comum

fale do nosso barraco
diga que é um buraco
que nem queiram ver
diga que o meu samba é fraco
e que eu não largo o taco
nem pra conversar com você

mas fica
mas fica ao lado meu

você sai e não explica
onde vai e a gente fica
sem saber se vai voltar

diga ao primeiro que passa
que eu sou da cachaça
mais do que do amor
diga e diga de pirraça
de raiva ou de graça
no meio da praça, é favor

mas fica
mas fica ao lado meu

você sai e não explica
onde vai e a gente fica
sem saber se vai voltar

diz que eu ganho até folgado
mas perco no dado
e não lhe dou vintém
diz que é pra tomar cuidado
sou um desajustado
e o que bem lhe agrada, meu bem

mas fica
mas fica, meu amor
quem sabe um dia
por descuido ou poesia
você goste de ficar

isquindum, isquindum
isquindum, isquindum








preparem seus corações, seus bolsos, seu estoque de tempo: o animamundi vem aí.

quinta-feira, 17 de junho de 2004

a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar
mas eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá

acho improvável voltar tão cedo.
digamos que o blog exigiu férias e não pude negar.
foi bom estar com vocês, foi bom brincar com vocês.
valeu mesmo. saudades terei, padawan.
beijos múltiplos, coletivos, indistintos e simultâneos porque virtuais, e até qualquer dia, talvez, quem sabe.