quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Meu lar

Pois todo dia me esbarro com a tal realidade e ela está incandescente, de tal modo que não consigo enxergar nada.
Vou andando e ignoro o calor, ignoro minha ignorância sobre o que acontece realmente e penso naquela casa.
É lá. Lá não tem violência, fome, carências, crises, ambiente degradado. Lá é longe, porque se fosse perto estaria contaminada.
Lá é talvez antiga, talvez esteja no futuro, porque no presente, com certeza, não está, a gente logo percebe.

Lá tem casas grandes cheias de gente. Gente que vive e aproveita, gente que trabalha e produz maravilhas para todos e para si. Gente que se diverte em grupo ou solitariamente, gente que se cansa e descansa, que come bem, bebe melhor, que tem muita água à disposição para qualquer uso. Inclusive para lavar calçadas com mangueira. Gente que ama, que procria, que tem tempo. Inclusive para criar os filhos. Ou para ler. Ou para dormir as tais oito horas prescritas. Ou para começar alguma coisa que só acaba no dia seguinte, assim noite virada.
Acho que lá fica bem perto da praia.

Então, lá é nos meus sonhos. São sempre grandes as casas, muito terreno livre, muitos cômodos, escadas, quartinhos lá fora, mesas gigantes. Às vezes visito as casas já vazias, lembrando os dias felizes, outras vezes moro nelas. Com muita gente. Parece o sítio dos Novos Baianos. Uma criançada correndo. Conversas, portas abertas, música. Idades variadas. Pessoas ao sol.
Ontem sonhei que estava lá, e acordei com saudades.

13/08/2015

Mas quem disse que é fácil?

Não estou me dando bem neste mundo sem coordenadas. Gosto de saber que há um caminho pra lá, outro pra cá. Claro e escuro. Dia e noite. Sim, com entardecer no meio, com penumbra, tons de cinza, com talvez e mais-ou-menos. Mas a gente tem que ter direção, definição e oportunidade de escolha.
Era mais simples quando havia o Bem e o Mal. O Certo e o Errado. O lado luminoso e o lado escuro da Força. Esse exagero de nuances morais confunde as criancinhas.

13/08/2015

Pasárgada não é aqui.

Faz tempo que estou fugindo. Expliquei pro meu analista, no tempo em que tinha analista, que a decepção, com a idade, pode ser mortal. Você tem que esperar alguma melhora no futuro. Você tem que esperar que haja futuro. Você tem que ter uma esperança. Tem que ter fé e otimismo. Você tem que acreditar em alguém, confiar em alguém, botar a mão no fogo por alguém. Você tem que achar que existe solução, que existe consideração, empatia, solidariedade, amizade, respeito, amor, aquelas coisas que mamãe & papai (e os professores!) ensinavam às crianças. Você precisa ter um objetivo na vida, um sentido, um motivo. Não precisa ser grandioso, não precisa ser A Salvação da Humanidade, mas precisa fazer você levantar com disposição a cada dia, e dar o melhor de si.

Vai daí que seguidas decepções fizeram desmoronar cada motivo, desmancharam o sentido de uma vida na poeira, enterraram a esperança, afogaram a confiança e obliteraram o futuro. E por esses dias eu li que o Universo está morrendo lentamente. Uma notícia, assim, só pra levantar o ânimo da galera. Vai levar uns decaquilhões de anos, ninguém vai estar neste planeta para ver, mas vai desaparecer um dia, como tudo na vida.

Então eu fujo como posso para não entrar em depressão profunda, mas entenda, fujo só com a cabeça. Não vou sair daqui: porque não posso e porque não vejo muita alternativa lá de onde tenho notícias (o meio do mato não é legal, tem muito mosquito e solidão). Então, vou fugindo da confusão até rearranjar o sentido da vida por perto mesmo, de preferência no meu próprio bairro, porque está difícil atravessar a cidade em menos de duas horas.

13/08/2015