terça-feira, 30 de março de 2004

das cartas:

hoje eu plantei gerânios e comprei flores amarelinhas.
já tive um canteiro de gerânios sob a janela do quarto, na outra casa, adoro aquele cheiro e flores vermelhas. mas não era como uma sacada européia, o canteiro ficava no chão, num terraço totalmente tropical onde passeavam tartarugas de água que aprenderam a sair sozinhas do seu tanque de cerâmica, pulando o muro.
o canteiro tinha também umas trepadeiras com campânulas vermelhas pequeninas e outra de sininhos brancos, maiores. esta era selvagem, peguei no mato muitos anos antes de mudar pra lá, e ela sobreviveu numa lata de biscoito. no primeiro apartamento ficava no quarto e dava a volta na janela, subindo em linhas (daquelas comuns de costura) que amarrei por todo canto, como suporte. viu Spider? pois era a minha teia de trepadeira selvagem, só que bem mais modesta, ordenada e decorativa. mas só deu flor no terraço.
andava com saudades das flores em casa (tenho dois tipos de plantas florescíveis que nunca morrem, mas no momento estão outonando, acho. e por casual incompatibilidade com os horários normais do mundo eu estou na primavera.)



tsk tsk tsk, as pessoas mentem tanto...



ontem fui às compras: adquiri por módica quantia muita castanha de caju, no moço do tabuleiro (sim, camelôs de castanha de caju, os há no meu bairro), e passei horas na papelaria (sem comprar grandes coisas mas olhando, olhando, querendo tudo).
ir às compras, aliás, não significa necessariamente chegar às vias de fato. às vezes significa ver o que há e fazer planos futuros, que se realizam ou não.



sinto muito mas tenho más notícias pra você, xuxu. os ciclos, os círculos, o que volta pro ponto de partida.
em animação funciona assim: o personagem que anda, na verdade está parado repetindo muitas vezes o ciclo do andar (as várias posições do corpo) e quem se movimenta é o cenário.



tenho algum problema com horas e preços, com os rabinhos depois da vírgula. só considero os números inteiros, sou a consumidora ideal pra quem são pensados os anúncios de ofertas a $9,99. então faço cálculos aproximados quando poderia saber exatamente quantos minutos faltam, quantas moedinhas esqueci de procurar na bolsa com antecedência e agora já era, vou ganhar mais peso na bolsa com este troco, porque os caras se vingam e só me dão moedinhas.



o mais legal na história deste sítio é que ele foi de todos e de ninguém.
uma comunidade familiar (da minha família e da família do meu ex-marido, as duas populosas), onde todos se educaram pra vida em grupo TENTANDO evitar estresses de convivência entre vários estilos, interesses, usos e necessidades de espaço, e TENTANDO colaborar pro funcionamento das coisas. (uns mais que outros, claro, mas a gente se divertiu bastante).



puxa, eu me arrependo tanto de algumas coisas. mas conto com as semelhanças entre os seres desorientados que habitam o planeta, acho que mereço tanto perdão quanto perdôo as cagadas alheias. o diabo é que demoro muito pra esquecer e não ligar mais, acho que os outros também devem demorar pra entender que eu nunca faço por mal, é pura ignorância dos processos do bem-viver.



ah, e a plantação de mandioca e mais os cogumelos alucinógenos a gente teve que destruir porque os prováveis compradores já parecem suficientemente doidos.



aliás, é difícil lembrar do que não deu certo, né não?
estive lendo minha agenda do tempo do sindicato dos metalúrgicos, antes não tivesse achado. porque só me lembrava da parte boa, nunca dos motivos que me fizeram sair correndo e não querer ouvir falar de atividade sindical nem assim por convites pra festas na Mangueira.



olha, nem queira me ver na cozinha. sou um espanto no microondas, não tem pra ninguém. esquentando gelados, é claro, ou fazendo pipoca. também sei ferver água pra fazer cappuccino solúvel. ou aprontar misturebas envenenadas passíveis de explosão (que dão certo porque a fada madrinha das cozinheiras quer me ver longe dali o mais rápido possível, e ajuda).
só sei que há um deus que criou as comidas prontas pra mim, só para mim.



talvez os poetas se enganem e a morte tenha mesmo controle.
em sentido figurado, xuxu, de anulação, a morte enquanto fim irreversível que apaga seus rastros nas curvinhas e montinhos cerebrais. (mas não acredito nela, prazeres e males da infância conservam-se com as cores originais, pelo menos na minha cabeça).
pra ser sincera não acredito nem na morte como fim total, eu que sou descrente de vidas eternas e reencarnações. acho que sempre sobra uma coisinha teimosa por uns tempos, tentando reexistir como era antes.

sábado, 27 de março de 2004

eu gosto dos que blogam em horários improváveis.
me parece muito confiável a blogação (blogagem? blogueamento?) que despreza artifícios, que acontece porque precisa acontecer e não foi distribuída por uma assessoria de imprensa.
horários improváveis não são os da madrugada, são os da manhã de sábado, noite de sexta-feira, tarde de domingo, noite de natal, qualquer hora no carnaval, 8 horas da manhã de qualquer dia: aquela hora em que você acha que alguém devia estar fazendo alguma coisa mais interessante do que ficar (como provavelmente você também já esteve alguma vez) diante do computador tentando um contato com o além.

ah sim, não necessariamente alguém precisará blogar neste momento, e não seria menos confiável por isto. e não necessariamente os momentos de necessidade blogatória acontecem nos horários improváveis, e isto não enfraquece a sinceridade da blogação.
aliás, blogar não é só escrever no blog. é moldar os pensamentos na forma de posts pra repartir impressões, opiniões e manifestações de qualquer nível, só pelo prazer ou necessidade de repartir.
é apenas uma das formas possíveis de contato com outros humanos, nada fundamental ou de grande importância, como sabemos. é só um pouquinho mais útil que falar pras paredes, porque humanos podem até tentar te responder, e paredes só ficam te olhando com aquela cara.

e certamente não é aqui o lugar ideal para ficar nu, ou pelo avesso. pra mostrar nada, pra abrir cortinas indevidas e revelar segredos, pecados, endereços, cicatrizes.
mas vai que você tem rotinas diferentes da maioria, ou nem tem propriamente uma rotina, e é desprovido daquela preocupação com o não-parecer. com o não dar impressão de ser desocupado, solitário, sem interesses na vida offline, sem uma vida real. (que mito bobo, este, o show sem reality, o esforço de não parecer que a gente se vira com uma vida menos interessante do que todas as vidas tão cintilantes que outras pessoas sempre parecem ter).

o que eu gosto nos que blogam no sábado à noite é da companhia indireta, naqueles momentos em que todos os programas imperdíveis que te chamam do mundo não seriam capazes de substituir o mergulho nas próprias grutas submersas profundas, que só a solidão e as folhas brancas permitem. e o espaço de edição nas telas também. que lindo isso.

então estou eu aqui em casa numa hora dessas, puta da vida porque meu programa imperdível de hoje provavelmente será de impossível realização, e tudo o que eu queria é ter mais o que fazer de bom que preencher este desgramado formulário das obrigações anuais com os chefes de nossas precárias existências, mas veja, agora não dá.
por isso eu preciso da sua companhia, blogueiro confiável, pra reclamar da vida no meu diário sem me sentir a única do mundo, num sábado à noite, envolvida neste imenso incomparável afazer das abobrinhas.
cheguei. mas já vou. (depois de ler os jornais e ficar sabendo. você sabe, saber é muito importante).


e aproveitando o imenso vazio das almas de ressaca, vou cantar pra vocês:


desperta no bosque
gentil primavera
com ela chegam os cantos,
gorgeios do sabiá
laralalalalalalala
lalalalalalala



Coooooopacabana princesinha do maaaar
da sua janela imagina ela...



nos dez anos do genocídio de Ruanda é que vou me tocar do tamanho do massacre: 800 mil civis assassinados, quase um milhão de pobres num país miserável de um continente fudido, quem notou a perda?



que mundo pequeno, pequeno, muito muito micro, este nosso.



(não vejo mais o que não quero. o que não posso. não olho. deixo que as coisas me persigam, me alcancem, me peçam e agradeçam a atenção dispensada).



meu refrigerador não funcioooona (oh babe no no no)



pai, meu cavalo ontem morreu de fome e sede
enterrei-o envolvido em minha rede
era o que tinha de melhor para lhe dar




ouvi ou li em algum lugar que a saudade dura 7 meses, quimicamente falando.
nossos processos cabalístico-fisiológicos.



e a nossa marcha inexorável rumo ao Primeiro Mundo? Santa Catarina sai na frente! primeiro, neve, e agora isto! Brasil-il-il!
(ah, e não nos esqueçamos do nordeste, com a brilhante contribuição dos terremotos e ataques de tubarão!)


as águas vão rolar: que os céus protejam Floripa, tenho que voltar lá.



há ruas que nos alimentam, não há? só de andar.



Pet's Angels: você levaria seu amado animalzinho de muita estimação a uma clínica veterinária que tem como logo um cachorro e um gatinho de asas? o que te lembra? a mim, percepção enviezada por desenhos animados e quadrinhos, boas alminhas subindo aos céus.



eles não têm mais o que dizer. o que me dizer, pelo menos. mas compareço religiosamente, procurando ecos perdidos de uma estrela extinta, vozes do tempo em que os bichos falavam.
e saio de lá correndo pro porão do cientista, onde se inventa uma nova linguagem de sinais luminosos pra contato de terceiro grau com os bichos que deixaram de falar.



É para você que escrevo, hipócrita. Para você - sou eu que te sacudo os ombros e grito verdades nos ouvidos, no último momento. Me jogo aos teus pés inteiramente grata: bofetada de estalo, decolagem lancinante, baque de fuzil. É só para você e que letra tán hermosa - Exaltação - Império Sentido na Avenida - Carnaval da síncope. Pratos limpos atirados para o ar. Circo instantâneo, pano rápido mas exato descendo sobre a sua cabeleira de um só golpe de carícia, e o teu espanto!

(Ana Cristina Cesar)



hoje é uma espécie de segunda-feira.

quinta-feira, 25 de março de 2004

over the rainbow:

1.
LONDRES. Pesquisadores irlandeses desenvolveram um videogame controlado pela força do pensamento.


2.
Starry Night, de Van Gogh


3.
cientistas dizem ter detectado a 'partícula de Deus' (supostamente a origem de toda a massa do universo).


4.
ay este azul
que ha llegado a iniciarme en la luz
con campanas de asombro tal vez
habitando lo que nunca fue

quarta-feira, 24 de março de 2004

ANIBAL PHILLOT
fotógrafos brasileiros: ANIBAL PHILLOT
sabe o que é? este renascimento de todo tipo de discriminação oficial (com e sem aspas), mundial, de tudo que não seja Politicamente Adequado (a que interesses, mesmo?), com a concordância (ou com a indiferença que faz diferença) dos "esclarecidos", tá me deixando com umas coceiras incômodas ao ouvir barulho de passos em marcha. o Retrocesso tá dobrando a esquina e vem que vem na nossa direção.

não te dá medo essa obediência (sem questionamento) a regras e normas, sejam essas regras feitas e impostas por quem quer que se dê o direito de inventá-las e torná-las "leis" no âmbito restrito de sua influência? (e com que autoridade? com a autoridade da concordância ou indiferença-concordante dos subjugados, é claro).

e a regulação informal da "sociedade", por onde anda?
você é vítima potencial da regra injusta, e concorda por princípio em ser punível porque Alguém Importante (não identificável) determinou quem nasceu com o pecado original: você é o cucaracha moreno com cara de pobre no aeroporto americano. você é o negro que leva dura na blitz. você é a mulher no bar que o gringo aborda desrespeitoso. você é o jovem dirigindo o carro, atropelado pelo pedestre idoso que atravessou afobado na sua frente. você é a vítima talhada pra ser o culpado, quem mandou ser como é, agora agüenta. e caladinho. ou dizendo "tudo bem, eu mereci".

e, pior, qualquer desobediência ou protesto é tratado como banditismo, não só por quem tem poder de punir, mas pelos cidadãos-de-bem que pedem punição sem avaliar os fatos.
(se quer eliminar Fulano, disque 0800-99998, mas se prefere detonar Micrano, disque 0800-99999).

mas o que é? perdeu-se a noção do que é rebeldia? conseqüente e bem aplicada, uma reação às injustiças, ou inócua e boba, mas saudável como reação às imposições sem discussão?
qualquer manifestação individual que não seja concordante vira suspeita nesses tempos de Segurança Máxima (todos queremos extingüir a violência, não é?), qualquer desafio adolescente normal ou atitude mal-educada é comparada a vandalismo, sem nuances? não dá pra diferenciar 'gangues violentas de pitboys' dos 'blogueiros de 15 anos que escrevem palavrões e postam fotos com dedos médios em riste'?
sei lá, é como comparar 'terroristas que incendeiam ônibus com passageiros dentro', e 'pichadores de monumentos'.

todas essas manifestações não são formas de protesto nem desobediência consciente a regras, são desafios "primitivos" (sejam desesperados, sejam simplesmente pra marcar o "ser contra"), reações ao inaceitável, que incomodam indiscriminadamente, não melhoram a vida de quem faz, não mudam o que está ruim. (talvez os pitboys sejam a doença mais grave, talvez maior que a crueldade dos bandidos de origem pobre, por acabarem com a esperança de tudo melhorar quando todos tiverem uma boa vida).

mas quando a gente embola as coisas e vê com desconfiança qualquer ruptura da "ordem" (ruptura no discurso de aceitação, inclusive), uma ordem ela sim suspeita por sustentar o (des)equilíbrio duma realidade tão... inaceitável, sei lá, não te dá medo?
pois me dá.

terça-feira, 23 de março de 2004

minhas alegrias mansinhas e cristalinas chovendo e os brotinhos brotando.
I said too much, I haven't said enough
vou te confessar uma grande agonia desde o início: não poder dar copy + paste entre a tela e o papel.
não é preguiça de copiar, é o hábito instantaneamente incorporado como fantasia de Poder Sem Limites (como dar undo ou delete em atos da vida).
se eu fechar os olhos bem apertados e tampar os ouvidos com os dedos, bem forte, não ouço a martelada dos meus pensamentos? ou pode ser pior: sem buracos pra sair, alguns ralos a menos.
ei, prestenção!

ontem eu falei:
"numa hora dessas eu fico pensando como deve ser difícil ser imigrante num país que te vê como inimigo. alguém que fugiu da insegurança e está da noite pro dia vulnerável aos ataques dos intolerantes da terra estrangeira.
não é fácil ser árabe em qualquer lugar, hoje.
aliás, não é fácil estar fora do default em qualquer lugar, hoje".

mas então, quem é mesmo que tá definindo o default, hoje?
a chefe de programação da Rede Globo de Televisão? as empresas petrolíferas texanas? a cotação do dólar e do euro? o FBI manipulador de mídias pelo mundo, como confessou (oh, é mesmo? nunca imaginaríamos!) o cara na Carta Capital? o Nizan Guanaes, os marqueteiros em geral? os empresários, assessores de imprensa e "líderes espirituais" das celebridades?

quem é que determina o comportamento aceitável, a ética, os valores da tua vida? o que é pecado, o que é inconformismo, o que é reação justa, o que é bobagem?
abre o olho pra não repetir chavões sem pensar, já estamos cercados pelo Big Brother (o do Orwell, que vê muito além das câmeras do chuveiro.)

segunda-feira, 22 de março de 2004

sítio


sítio
aqui já foi o paraíso.
vai virar um retrato na parede no álbum e um cantinho relax na memória.
e o acesso a outro paraíso, naturalmente.
aí eu cheguei e dei uma geral no plantão das notícias internacionais pra saber como ia evoluindo (ou desandando) a repercussão da morte do cara do Hamas pelo mundo.
e estava assim:

19h41m
EUA querem que ONU condene China por abuso de direitos humanos

19h09m
Annan condena assassinato do líder espiritual do Hamas

19h02m
Israel envia blindados para Norte da Faixa de Gaza

19h01m
Toledo nomeia acusado de corrupção e sofre críticas

18h39m
Refúgio recente de Bin Laden foi localizado, diz ministra francesa

18h17m
Em anúncio na televisão, Kerry promete 'nova direção' aos EUA

18h02m
Hezbollah cria as Brigadas do Xeque Ahmed Yassin

17h35m
Suposta carta da Al-Qaeda ameaça EUA por causa da morte de Yassin

17h33m
Israel ordena reforço de segurança em embaixadas no exterior

17h15m
Polícia européia busca radicais islâmicos entre imigrantes

16h25m
Cinco palestinos mortos em distúrbios após morte de Yassin

16h03m
Verba do FBI deu salto em reação a atendados

15h59m
Blair e Charles vão a Madri para homenagens às vítimas de atentado

15h56m
Suprema Corte dos EUA estuda abolir menção a Deus juramento escolar

15h51m
Árabe esfaqueia passageiros de ônibus em Israel

15h41m
Condoleezza: 'Clarke não sabe do que fala'

14h45m
Explosões ferem 13 soldados britânicos no Sul do Iraque

14h32m
Assassinato deixará vácuo de liderança no Hamas, diz especialista

13h37m
Governo afegão envia tropas para conter choques no Oeste do país

13h16m
Israel entra em estado de alerta à espera de atentados, após morte de Yassin

13h10m
Quarteto de mediadores faz reunião de emergência após morte de Yassin

12h51m
Bush é acusado no '60 Minutes' de não agir contra a Al-Qaeda

12h46m
Hezbollah ataca posto de Exército de Israel na fronteira com o Líbano

12h40m
Líderes da Al-Qaeda cercados no Paquistão teriam escapado por túneis

12h39m
Líder xiita pede que ONU não aprove Constituição do Iraque

11h41m
EUA justificam assassinato de cinegrafista no Iraque

10h52m
Espanha prende mais quatro suspeitos em ataques a Madri

10h44m
Polícia britânica lança campanha para impedir ataque a Londres

10h26m
Hezbollah diz que Israel pagará alto preço por assassinato de líder do Hamas

10h06m
Vaticano condena assassinato de líder do Hamas

09h56m
Yassin está entre os três principais líderes palestinos mortos em décadas de conflito

09h37m
Casa Branca nega envolvimento no assassinato do líder do Hamas

09h30m
Sharon diz que guerra ao terror continua após morte de líder do Hamas

09h23m
União Européia condena 'assassinato extrajudicial' de líder do Hamas

09h09m
China teme impacto de assassinato do líder do Hamas no Oriente Médio

08h57m
Hamas ameaça atacar também EUA

08h26m
Número dois da Al-Qaeda diz que grupo possui armas nucleares, diz TV

08h04m
Grã-Bretanha diz que assassinato de líder do Hamas é inaceitável

07h57m
Yassin, prova de que o nacionalismo árabe pode romper fronteiras

07h54m
Ministro da Defesa de Taiwan faz pedido de renúncia

07h35m
Explosão de carro-bomba fere seis iraquianos ao norte de Bagdá

07h12m
Oposição islâmica mantém estado de Kelantan da Malásia

06h56m
China não subiu nível de alerta militar após eleições em Taiwan

05h20m
Ataque de Israel contra líder do Hamas deixou ao menos seis mortos e 16 feridos

05h04m
Arafat decreta três dias de luto por morte de Yassin

04h59m
Palestino fere três israelenses com golpes de machado perto de Tel Aviv

04h53m
Explosão atinge cruzamento na fronteira entre Israel e Gaza

04h11m
EUA pedem calma ao Oriente Médio depois de assassinato de líder do Hamas

04h02m
Israel confirma morte de líder espiritual do Hamas

03h17m
Soldado dos EUA e intérprete iraquiano são mortos em ataque perto de Bagdá

03h10m
Palestinos prometem realizar ataque geral na Cisjordânia

03h03m
Brigada dos Mártires de Al-Aqsa promete guerra aos israelenses

02h55m
Israel cerca a Cisjordânia e a Faixa de Gaza

02h37m
Hamas promete vigar assassinato de Yassin

02h24m
Israel diz que líder do Hamas estava marcado para morrer

01h33m
Autoridade Palestina condena assassinato de líder espiritual

01h22m
Ataque de Israel contra líder religioso do Hamas mata também três guarda-costas

01h07m
Supostos membros da Al-Qaeda atacam acampamento do Exército do Paquistão

00h51m
Líder espiritual do Hamas é morto em ataque aéreo de Israel

00h37m
Duas explosões atingem a Faixa de Gaza


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em não podendo mudar de mundo, e tampouco podendo mudar o mundo, restaria, no pouco que se pode, fazer mais um pouco, mas no momento sei lá exatamente o que, caramba.
parece que não vai dar tempo de ter alguma boa idéia e executar antes de explodir geral.



numa hora dessas eu fico pensando como deve ser difícil ser imigrante num país que te vê como inimigo. alguém que fugiu da insegurança e está da noite pro dia vulnerável aos ataques dos intolerantes da terra estrangeira.
não é fácil ser árabe em qualquer lugar, hoje.
aliás, não é fácil estar fora do default em qualquer lugar, hoje.


e já que "abriram as portas do inferno" e a Al-Qaeda tem armas nucleares, aproveitemos os dias enquanto há mundo, pois.

domingo, 21 de março de 2004

lua
eu vivo sempre lá.
às vezes no outro lado.

e às vezes aqui.
Uma das coisas mais interessantes que já ouvi nos últimos tempos foi uma espécie de aula indireta sobre os processos atuais que evidenciam a mudança do conceito de "normalidade". Os novos "erros", "transgressões" e pavores da sociedade ocidental em transição.
Nenhuma surpresa, mas arruma e dá sentido a leituras e palpites dispersos.
Bem por alto: a "normalidade" teria se deslocado da antiga submissão geral, e muitas vezes obrigatória, a padrões unificadores dominantes (com punição dos transgressores, como os homossexuais em algumas sociedades), para a aceitação de vários grupos onde nos encaixamos por escolha própria (mas sob pressão social pra que haja encaixe), sem punição formal para antigos desvios. Sem castigos outros que não a nossa "culpa", a responsabilidade pelos nossos atos, já que estaríamos informados pela mídia das conseqüências - sendo estas conseqüências o castigo principal (e aí não importa se as informações são instáveis, ou se contradizem, ou estão truncadas, ou ainda são incipientes, ou não atingem a todos). Você pode se assumir como homossexual, mas tem que fazer sexo seguro.

Na área da saúde, aliás, afirmações tipo "só é gordo quem quer", "morre de câncer e aids quem se alimentou e se comportou inadequadamente", e por aí vai, são a condenação prévia a todos os nossos hábitos não-saudáveis ("mas também, com aquela vida desregrada, queria o quê? tinha que morrer assim.")
O pior pavor passa a ser não ter evitado as doenças, a morte "assim". Não ter orientado as crianças, não ter evitado as "porcarias" desde criança, não conhecer todos os avanços da ciência que garantem um futuro.

Porque o futuro, que antes servia pra se fazer planos de vida, que guardava a esperança do mundo melhor, vira a meta a alcançar por ter escapado de trocentas e setenta e oito auto-armadilhas: ter sobrevivido é o mérito (e não é da questão financeira de que se trata aqui, e nem mesmo das balas perdidas e outros acidentes).

Tipo "você é livre pra fuder com sua vida, mas nós o apontaremos nas ruas como irresponsável o tempo todo".
(Pensando bem, não tão diferente do que sempre foi, o apontar. Talvez diferente seja, pros desviantes involuntários, viver correndo atrás de um prejuízo irrecuperável.)

E o Globo Repórter vai te jogando no estresse de obedecer manuais do Jornal da Família, com seus sacrifícios infindáveis pra atingir o céu e/ou pra chegar aos 200 com corpinho de 100, porque tudo o que a gente gosta, você sabe, é ilegal, é imoral ou engorda.

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pp: acho que não devia precisar, mas talvez precise, esclarecer que não acho ruim ser saudável - e até tento, razoavelmente. Como você imagina, minha vida é plácida, frugal e mesmo, por que não dizer, lírica.
Achei muito legal foi esta explicitação da "culpa social" dos novos "anormais", mesmo não sendo novidade.

pp2: a culpa judaico-cristã vai me matar antes dos vícios.

pp3: quando a tese for publicada eu ponho os créditos, por enquanto não sei.




e tropeçou no céu como se ouvisse música
e flutuou no ar como se fosse sábado
e se acabou no chão feito um pacote tímido
agonizou no meio do passeio náufrago
morreu na contramão atrapalhando o público
o portfólio de desenhos voltou, enfim.
mantive os antigos, com pequenas variações desdobrativas ou redutivas por conta do limite de tamanho do mblog. e os novos, ainda tou pensando (alguma coisa tem que ficar incompleta, né? senão perde a graça).
quem não conhece e quiser saber o que mais eu faço na vida além de pegar uma prainha básica e blogar besteirol, tá aí um dos esforços de sobrevivência. sejam bem-idos lá.
adoro a Dory, a peixinha desmemoriada companheira de aventuras do Nemo. me identifico muito, aliás.
Marcelo Yuka e sua nova banda F.UR.TO estão compondo as músicas pro primeiro cd, que será gravado mês que vem.
não ouvi e já gostei.
Não se fazem rebeliões como antigamente. Há dois anos, na Venezuela, o que restou aos cidadãos, para enfrentar um golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, foi a internet. Na semana passada, os espanhóis furaram o estado de sítio midiático imposto sobre eles por meio do uso febril de telefones celulares. A arma mais comum foram as mensagens de texto, ou... torpedos.

O volume de comunicações por celular na Espanha foi inteiramente anormal, da tarde de sábado ao domingo das eleições. As empresas telefônicas falam num aumento entre 20% e 40%, no número de chamadas completadas. Nas pequenas telas de cristal líquido circulavam, como sempre, convites para festas e encontros. Mas trafegava também a rebeldia. Questionava-se:
"quienes fueron?" Suspeitava-se:"saben y lo ocultan". Exigia-se: "la verdad!"


Do ciberespaço para o calor das ruas

Faltava algo, porém, para que a indignação saltasse do ciberespaço solitário para o calor das ruas. A fagulha foi riscada por alguém que permanece anônimo, mas cuja voz pode ser ouvida nas páginas de internet da Radiocable - uma rede de rádios espanholas que se dedica a temas semelhantes aos dos Fóruns Sociais, e produz entrevistas com gente como o subcomandante Marcos, Ignácio Ramonet, Bernard Cassen, Immanuel Wallerstein e Naomi Klein.

Na noite de sexta-feira, esta pessoa - um madrilenho, politizado e possivelmente jovem - compôs um torpedo que continha, além de sentimentos, uma proposta e um endereço, redigidos quase em linguagem cifrada:
"Aznar não engana. Chamam de jornada de reflexão, e Urdaci [o manipulador da TVE] trabalhando? Hoje, 13M, às 18h. Sede PP, R. Gênova, 13. Sem partidos. Silêncio pela verdade. Repasse!"

(O dia em que vencemos o terror. mais aqui)
já disse que o Stephan Frears é um dos meus realizadores* favoritos, pelo conjunto da obra? se não disse, digo agora.
(mas tenho muitos favoritos).

(*)como diz JM, ele também um realizador.

sexta-feira, 19 de março de 2004

outono, foto de Marizilda Cruppe, o globo
amanhã é outono.
"Eu acho o seguinte: todo mundo é maluco. Por mais normal que a pessoa pareça, lá no fundo todo mundo é realmente pirado, todas as pessoas do mundo, e nós passamos a vida toda aprendendo a não parecer pirados para os outros, que também são todos pirados. Lá no fundo nós falamos uma língua diferente - uma língua maluca que não fala com a nossa voz, não sei. Talvez berre bem alto, alguma coisa assim. Quer dizer, todos nós nascemos pirados, não é? Se nós pensarmos no comportamento dos bebês - na verdade nós nunca deixamos de ser bebês. Todo mundo quer berrar bem alto, agarrar as coisas sem pedir e quebrar tudo, mas isso não é permitido, não é? Então, o que nós precisamos ter é uma espécie de aparelho-tradutor antipiração, que traduz toda maluquice numa fala normal; depois precisamos aprender a usar o troço, que tem que funcionar direito, senão descobrem que nós somos pirados".

O pequeno Henry, do conto O Departamento do Nada, de Colin Firth.

Apré's Holden Caufield, naturalmente.


(posted by marina w , 19.03.04)
_________________

acho que nunca me identifiquei tanto com um texto.
café faz mal.
muito café faz mais mal.
muito muito café faz muito muitíssimo mal.
pára com isso.
não às drogas. drogas, tô fora. vou lá fora tomar um cafezinho e volto já.
=dazibao viagem=

1.
"Não posso, em nome de alguns empregos, legalizar o crime organizado e a lavagem de dinheiro. Se fizer isso, amanhã vão pedir que eu legalize a prostituição infantil em nome da criação de empregos. Com certeza, vamos gerar empregos no país. Mas não me peçam para cometer uma ilegalidade".

(Lula, em discurso durante a inauguração de uma maternidade em Recife, em 18/03/04).
eu ouvi no Jornal Nacional.
aí vem o Globo (jornal de papel) e dá a manchete na primeira página:
"Lula compara o bingo à prostituição infantil"

informando bem para servir-se sempre.

2.
MADRI - O governo de José María Aznar, que perdeu as eleições de domingo, deparou-se com novas acusações de ter enganado a opinião pública e seus aliados a respeito da autoria dos atentados de Madri, que mataram 202 pessoas.
O jornal 'El País', o mais influente da Espanha, traçou um paralelo entre a atuação do governo espanhol e a forma como os EUA e a Grã-Bretanha divulgaram
(falsas*) informações sobre o Iraque antes da guerra.

* (as tais das armas de destruição em massa, alguém lembra?)


pós-post: talvez não tenha ficado bem clara a intenção de comparar.
desinformação nem sempre é alterar conteúdos (2º caso), pode ser apenas escolher a forma.
e, é claro, o assunto aqui é a mídia, a verdade e sua "flexibilização", não é a opinião do Lula ou a estratégia do Aznar).

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agora outra coisa.
sobre a cota para negros nas universidades:

O programa da UnB não prevê reserva de vagas para estudantes de baixa renda. A cota será apenas racial, independentemente do poder aquisitivo do candidato, o que também é criticado por especialistas. Eles criticam o fato de um aluno com alto poder aquisitivo e que estudou em escola particular poder ser selecionado pelo sistema de cotas apenas por ser negro.
...
Ontem, o ministro da Educação, Tarso Genro, ao falar sobre cotas, defendeu uma posição diferente da UnB:
"Em diversas regiões, a maioria dos mais pobres é negra, mas em outras, não".


também estou achando, a cada dia mais, uma transposição inadequada da realidade estadunidense (nem norte-americana é), essas cotas raciais.
só para os negros, faz sentido no Rio, em Salvador, em cidades onde a discriminação dos negros justifique. mas em muitos lugares no sul, no nordeste, no norte, os mais pobres têm sangue e traços de índio, e aí? eles também não têm acesso à universidade. num país dessa diversidade, é muito risco provocar uma diferença entre "minorias" (termo mais inadequado ainda...) que só enfraquece a luta contra A discriminação em geral.

e me parece mais descabida ainda a proposta do Vicentinho de guardar uma cota para animações (desenhos animados) feitos por negros, junto com a obrigatoriedade de uma porcentagem de exibição de animações nacionais na TV.
mas o que é isso, que discriminação sofrem os animadores brasileiros negros que os brancos, amarelos e azuis também não sofram, pelo menos enquanto a profissão não exigir nenhuma escolaridade indispensável?

e tem outro ponto: animadores, desenhistas de hq, cartunistas e profissões semelhantes, são considerados artistas, por mais que se estabeleçam níveis de prestígio entre as artes clássicas e as "industriais", "pop" ou que rótulo se dê.
e é das coisas mais sinistras já acontecidas na história da humanidade selecionar artistas* pela raça, por sexo, pela religião, pela altura ou o que seja, e não pelo seu trabalho, não é?

* (artistas ou qualquer outra coisa, mas "arte" parece mais revelador por permitir ausência de formação escolar específica, formal, para o exercício da atividade - em tese, permitiria acesso sem discriminação financeira "de berço", bastando o talento. em tese, eu disse).

=fim do dazibao. continua do outro lado do muro, ou em qualquer superfície em edição extraordinária.=

quinta-feira, 18 de março de 2004

espero o caminhão. abro as janelas, dou uma geral, abro uma caixa na cozinha e faço um cappuccino solúvel rapidinho. anoto as próximas urgências a resolver na agenda, nem tem mais espaço no dia certo.
o dia certo é depois de amanhã.
o telefone toca às vezes. não tem secretária, então eu atendo, as pessoas falam, eu respondo, mas em outra língua: foi engano. obrigada por ligar, aguarde uma de nossas atendentes. desculpe, este número não existe em nossos registros. não insista, eu sei onde você mora e o que fez no verão passado.
vou deixar tudo o que detesto, não tenho mais que parecer com eles.
Siebercomix.
Novas Regras e Condutas de Trabalho

INDUMENTÁRIA:

Informamos que o funcionário deverá trabalhar vestido de acordo com o seu Salário. Se o percebermos calçando um tênis Prada de $350 e carregando uma bolsa Gucci de $600, presumiremos que vai bem de finanças e, portanto, não precisa de aumento. Se ele se vestir de forma pobre, será um sinal de que precisa aprender a controlar melhor o seu dinheiro para que possa comprar roupas melhores e, portanto, não precisa de aumento. E se ele se vestir no meio termo, estará perfeito e, portanto, não precisa de aumento.

AUSÊNCIA DEVIDO À ENFERMIDADE:

Não vamos mais aceitar uma carta do médico como prova de enfermidade. Se o funcionário tem condições de ir até o consultório médico, pode vir trabalhar.

CIRURGIA:

As cirurgias são proibidas. Enquanto o funcionário trabalhar nesta empresa, precisará de todos os seus órgãos, portanto, não deve pensar em remover nada. Nós o contratamos inteiro. Remover algo constitui quebra de contrato.

AUSÊNCIAS DEVIDO A MOTIVOS PESSOAIS:

Cada funcionário receberá 104 dias para assuntos pessoais a cada ano. Chamam-se sábado e domingo.


(tem mais)
ironia é um perigo, né? à distância, então, nem se fala. por escrito, ainda por cima, nem te conto.
você acha que está óbvio, a intenção irônica perfeitamente estampada em suas letrinhas luminosas, mas recebe o feedback inacreditável de interpretação da sua crítica como um elogio, ou vice-versa, ou versa-avesso.
puxa, mas não te creditaram nem o benefício da dúvida, da coerência.
quoi faire? relaxar e deixar rolar, que explicar ironia é como explicar piada.
Igor
metablogagem: últimas notícias sobre inutilidades indispensáveis

cada vez que dá vontade de acabar de uma vez por todas com esta brincadeira de blog, acabo é fazendo o contrário e dando aparências de recomeço, mexendo no template e postando mais que antes.

deslinquei o fotoblog. já conheceram minha galera em seu habitat, o nascimento do príncipe herdeiro, a cerimônia tribal de Retorno do Calzone (o nome é outro, mas pode inspirar interpretações equivocadas), acho que tá bom já de álbum de família. o espaço de imagens não é mais só isso, a prioridade é o serviço pra este blog (template, etc), demodosquê link permanente é desnecessário.
e quem quiser chega lá.
mas de despedida postarei outra foto do primeiro carnaval igoriano - e cada vez que a baba alcançar níveis transbordantes, postarei outras mais de bebê fofinho, pra desespero de alguns de vocês. (ah, e como sempre, de natureza-em-todo-o-seu-esplendor, de oncinha pintada, zebrinha listrada e coelhinho peludo também.)

o portfólio dos desenhos, ainda tenho que refazer. tava pensando em pôr uns novos também, mas só tenho aqui os não publicados, isso complica.
cuidarei disso num futuro próximo. brevemente numa tela perto de você.

e o template, ainda continuo testando. mas me divirto com essas experiências de cores, mesmo que o resultado não seja essas coisas.
no fim das contas, acho que gostava mais do template antigo mesmo, talvez sem os links invisíveis. mas variar é preciso, extingüir o blog (ainda) não é preciso.
na verdade o vírus era um worm já passadinho, de fácil eliminação porque já me mandaram o alerta com nome e tudo,
Virus Name: W32/Netsky.b@MM!zip
e não causa maiores danos que ficar se mandando automaticamente com um anexo (mas eu não abri anexos de desconhecidos aqui, mamãezinha, eu juro) e enchendo as caixas de correio alheias com bobeiras do tipo "something is fool".
mas o pior é que meu endereço tão salvo de spams correu mundo, espero não receber vinganças...

quarta-feira, 17 de março de 2004

liga não, é que hoje eu acordei grudada no teto e espantosamente não caía, até que, depois de tentativas desajeitadas de movimentar-me, notei: eu não era outra barata de Kafka, apenas tinha virado, durante o sono, um balão de gás desamarrado.
mas grudada no teto. com ganas de voar pro além desconhecido e ali presa no quarto.
de lá de cima podia ver a janela fechada (e eu sem mãos), a porta fechada, os caminhos fechados e minha necessidade orgânica (ah, vai, aceita: balão de borracha, látex, seringueira, floresta, essas coisas) de voar por espaços livres, amplos, infinitos.
então me concentrei fortemente, de olhos bem fechados (se eu via o quarto, já deu pra notar que ainda tinha uma espécie de rosto, né? e cérebro gasoso, provavelmente), desejando muito juntar forças mentais suficientes para abrir a janela, vai que dá, mais um pouco, não pára, não pára...
foi aí que senti uma tontura e tive medo de explodir, sabe-se lá o que pode agüentar um balão de gás em contato com faíscas de força mental, e abri os olhos num impulso.
estava novamente deitada na minha cama, vendo o teto lá em cima ocupado apenas pela luminária (e uns pontinhos pretos que podiam ser cocô de mosca), novamente possuidora de mãos e pés. já podia abrir portas e janelas, andar até os grandes espaços externos, mas estava (momentaneamente) impedida de voar pelos ares inexplorados.
então achei melhor dormir mais um pouco, e passei o dia no quarto pensando no que fazer quando acordar novamente balão de gás.
porque você sabe, já repeti milhões de vezes, I need spaaaaaaaace.
FREE FREE MIKE TYSON FREEEEEEEEEEEEE
malvados

a discussão comia solta: o suicídio ideal.
sem arrependimento no meio do processo, sem mico de fracasso da tentativa, sem levar alguém junto contra a vontade, sem muito trabalho (ou com muito trabalho, dependendo do caso) pra quem fica.
acho que ninguém ali tinha a menor intenção de praticar, foi só um exercício de planejamento inspirado pela altura do terraço.
caramba, peguei um vírus aí. não eu, o computador. e por e-mail, nunca tinha acontecido.
recebi notificações de seres e sites aos quais nunca enviei nada e nem faço idéia de quem sejam, parece que estou mandando um "attachment.zip" ao léu. então devo estar contrabandeando isto também nos emails que mandei intencionalmente, desculpem, foi mal aí.
claro que meu antivírus está atualizado, positivo e operante (achava eu), mas sei lá que espécies de cibervida interplanetária se escondem nesta redinha de surpresas.

terça-feira, 16 de março de 2004

mas olha, não adianta muito fugir dos atentados e balas perdidas:

cuidado
Os verdadeiros terroristas estao no poder! diz:
adios Aznar, hijo puta!
Hilda diz:
já pode trocar o nick?
Os verdadeiros terroristas estao no poder! diz:
mas o poder mundial ainda eh deles...
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
melhorou?
Hilda diz:
??
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
uma frase basca, viva a revolucao

...

PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
perderiam ainda por mais se nao fosse toda a manipulacao
Hilda diz:
acusar o ETA, né?
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
ate no ultimo dia manipularam, uma coisa incrivel! Revelaram ate a ultima o seu entendimento de democracia
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
imagina, ontem a noite [obs: sábado, véspera das eleições] puzeram como filme da TVE, um flme sobre um atentado da ETA...

...

PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
claro que o PSOE nao e muito melhor, mas foi lindo derrota-los
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
agora ha que estar em cima destes
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
convem nao esquecer que o PSOE formou quando estava no poder, antes do Aznar, os GAL...
Hilda diz:
mas se é o que temos parao momento..
Hilda diz:
que é GAL?
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
grupo anti-terrorista, que assassinou muitos Etarras (nunca saberemos se eram Etarras, pois eram simplesmente executados)
PP OUT! Gora Gu Ta Gutarra! diz:
grupo anti-terrorista que assassinava terroristas que por sua vez sao... anti-terroristas....

[JM, no domingo, diretamente de Barcelona para o plantão (atrasado) do viagem].
Gabriela e Igor
apronta a tua fantasia
alegra teu olhar profundo
que a vida dura só um dia, Luzia
e não se leva nada deste mundo

domingo, 14 de março de 2004

e depois dos queijos e vinhos tão aristocráticos da véspera, hoje é dia de piscinão com surrasco e sortinho e aqueeeeela loura gelada no Centro Cultural e Recreativo, porque a gente gostamos de comer e beber ecleticamente e de frequentar todos os melhores ambientes de nossa sociedade.
tim-tim.




todo mundo erra, todo mundo tem que ter chance de tentar se corrigir e deve ser perdoado pelos vacilos quando pede e corre atrás deste perdão, eu acho.
o Zeca Pagodinho tem todo o direito de se arrepender por ter topado promover cerveja ruim e ser constrangido a consumi-la em público, não tem?
claro que a Schin cobriria as oferta$ da Brahma se fosse tudo só uma jogada, um leilão de imagem.
vou te dizer, eu acredito muito, plenamente, que ele não consiga fazer nada obrigado, é o meu ídolo íntegro absoluto, um cara sincero e coerente com seus próprios prazeres, crenças e valores - e entre eles beber cerveja em paz é mais que um ritual sagrado, é um estilo de vida a preservar.
todo apoio ao Zeca Pagodinho, mas não à Brahma especificamente. todos nosotros mortales também bebemos Skol e Antártica na tendinha de Xerém. (e eu prefiro Bohemia, nesta minha fase light, mas na prainha do rio do sítio*).
como diz - implicitamente - aquele comercial semi-institucional da "nossa" multinacional Ambev: primeiro Xerém, depois o mundo!

*esta prainha aqui:
sítio




falando nisso (no fim você verá que eu também falava disso), os noticiários sobre os atentados em Madrid me lembraram da viagem à Espanha, quando passamos pelo país Basco. Os turistas foram alertados para a inconveniência de se discutir política, em qualquer nível, e ouviram a sensatíssima recomendação: "sejam gentis, tratem bem, com atenção, qualquer pessoa daqui, eles são orgulhosos e conhecem seus direitos". achei lindo, aquilo, um povo orgulhoso e consciente capaz de exigir bom tratamento dos visitantes (temerosos da violenta retaliação que a agressividade gratuita cotidiana dos turistas contra autóctones pudesse provocar).

fiquei imaginando que eu e o resto da torcida do mengão também gostaríamos de ser sempre tratados como bascos, mesmo quando não temos, ou apesar de não termos a intenção de "justiçamento" fatal dos grosseiros e desatenciosos. (mas sei lá, remember dogville...)

assim,

olhaí, galera, acho melhor a gente tomar mais cuidado com as atitudes no futuro:
= responder sempre os e-mails, recados de telefone, bilhetes, perguntas, iniciativas de comunicação (só estando previamente desculpados os silêncios nos casos daquelas mensagens irrespondíveis mesmo, pelos motivos que todos concordamos).
= jamais combinar de ir e faltar sem avisar, jamais desmarcar em cima da hora por motivos tolos esfarrapados, jamais desistir de receber alguém quando a visita já estiver no meio do caminho, enfim, jamais ser covarde e bundão/ona, simplesmente não combinar o que não se tem condições de cumprir.
= jamais explorar a boa fé, a aparente ingenuidade, a exposta fragilidade de quem parece precisar de ajuda, a sinceridade, a confiança, a tolerância e a paciência de quem lhe devota amizade.
(e por aí vai, cada um sabe onde o calo lhe aperta e como pisar nos calos alheios.)
porque senão...
= a sua imagem se auto-explodirá diante daqueles que mais o admiravam em trinta segundos.
= a sua consciência se auto-torturará quando você crescer e lembrar do que perdeu por ter sido tão bobão/ona.
= você se auto-transformará numa má lembrança, na memória dos que o amavam.
(e por aí vai, cada um sabe o que o arrependimento lhe faz quando não dá mais pra consertar os estragos causados).

mas eu falo nisso (viu?, continua o mesmo assunto, o perdão) tão sem ressentimentos das situações e pessoas que me magoaram no passado, por saber que todas as mágoas um dia se desmancham no ar.
porque só quem é importante pra gente, e enquanto é importante pra gente, é que tem o poder de magoar. depois, fica só o tsk-tsk-tsk, e depois não fica nada.

dizia Borges que o esquecimento é a única vingança, e o único perdão.
tchantchaaaaammmmmmm...

sábado, 13 de março de 2004

comandando o dragão outra vez, de dentro da sua orelha.
as barreiras de defesa vão ficando inúteis.
que bom notar, não é por defenderem mal, é que não há mais perigo.
pois então, este é mesmo o ano da Operação Pote de Geléia em todos os níveis da existência, e se quer saber, tou adorando isto.

limpeza, livrar-se dos pesos, dos sacos de areia que retêm o balão.
não parou no ano novo, não vai parar tão cedo.
só tem o pequeno detalhe de sempre: diante dos espaços vazios, o tal friozinho de dúvida, excitação, expectativa (a respiração suspensa antes do pulo).
e quando não se tem certeza dos próprios desejos no momento, o que fazer?
continuar abrindo caminho pra seja o que for, só isso.
e é este o mundo em que tu vive, rapá.
testando cores.
e pronto, links normais, como tooooodo mundo.
abandonei a experiência dos invisíveis, mas pra quem participou foi divertido.
se você olha pras coisas com olhos de saturday night live (um tantinho melhor que casseta e planeta, né?), tudo isso aí parece tão ridículo, tão dispensável, inútil, pretensioso e bobão, todos os truques expostos e as intenções de pés aparecendo atrás das cortinas, que cessa qualquer preocupação com esse teatrinho chamado vida social.
eu sei, eu sei, eu sei, não precisa falar nada. a gente não precisa participar do que não quer, não é assim? mas 'não participar' não significa ignorar, nem deixar de se incomodar com o disponível para consumo.
pior é que, mesmo sabendo de tudo, a gente entra no teatrinho, mergulha fundo no jogo, quer provar que percebe os blefes e não dá mole pra amadores sem o menor savoir faire.
besteirada, perda de tempo, esforço inútil e mal empregado, sempre me retiro com a sensação de ter vindo parar no mundo errado, você não?

sexta-feira, 12 de março de 2004

em fase de testes...
não se assuste se tudo se transforma em minutos.
essas mudanças no template são provisórias.
até que a falta de saco as torne definitivas, claro :)
enquanto isso, no País das Maravilhas...
sabe o que me deixa, como direi, chapada na mais profunda perplexidade?
é a possibilidade do governo espanhol estar se aproveitando da revolta popular contra atos terroristas pra influenciar as eleições.
porque eles estão insistindo na culpa do ETA, e isso não é de graça. o ETA não é nenhum exemplo de ação política, terror é terror.
e, sem julgamento ou com julgamento, é tão injustificável eliminar pessoas em nome de ideais tocaiando nas esquinas quanto bombardeando cidades.
mas o ETA costuma matar políticos, alvos selecionados, julgados pela organização segundo critérios, digamos, parciais (como todo julgamento, aliás) mas coerentes com seus propósitos separatistas. e mesmo dentro dessa merda ainda fazem merda, "condenando" potenciais aliados de sua causa simplesmente por participarem de eleições. enfim, não dá pra desculpar.
mas no caso do terror árabe, o "inimigo" é o que há de difuso e indistinto. dentro ou fora de seus países, os inimigos são "os outros" (quem não está comigo está contra mim), cabendo aí toda espécie de interpretação.
e mesmo quando existem justificativas políticas pra uma reação popular (à intervenção americana, por exemplo), os alvos das ações deles são pessoas comuns.
o ETA tem negado a autoria do atentado desde o início. os terroristas bem sucedidos gostam de assumir autorias, e às vezes tentam até insinuar falsas autorias para se promover.
mas um desastre desses envolvendo o "perigo interno" do ETA, além do "perigo externo" dos "árabes", num momento de eleições é um bom pretexto pra confundir os votantes de esquerda, ou os que votariam nos candidatos mais democratas, os que apóiam os bascos (mesmo que não seus métodos), além de atingir os que condenam o apoio espanhol aos EUA nas guerras do Oriente Médio. vai tudo pro mesmo saco do medo.
paranóia? pode ser, mas depois das lições de Bush, sei lá.
e seja quem for o autor dos atentados, além de desumano é burro, porque o terror trabalha politicamente contra si mesmo, anulando os efeitos que procura provocar.

quinta-feira, 11 de março de 2004

a galáxia mais antiga, mais distante, já observada
quase lá.

eu já estou com o pé nessa estrada
qualquer dia a gente se vê
sei que nada será como antes
amanhã
passei o dia procurando onde abrigar meus blogs de imagens que ainda estão no blogger br.
as imagens daqui, do template inclusive.
acho que não vão me expulsar de lá, sou assinante do globo e jb pré-internet, já mandei pro espaço um fotoblog e tenho crédito de mb. mas virou uma questão de nojo, náuseas incontidas ao ver o logotipo, não dá mais.
das alternativas prefiro o BlogBrasil , até pra prestigiar as iniciativas nacionais decentes, mas não sei se há limite de espaço, essas coisas. aguardo respostas.
o mblog passou o dia inacessível pra mim, se isso for pra dar uma idéia do que me espera, melhor nem.
até amanhã eu resolvo isto, nem que seja mudando o template.

pós-post: ainda aguardando as mudanças.
mas os bloglobos si fueram na paz do senhor.
parece que o massacre de Madrid foi mesmo obra da Al-Qaeda (aqui os extratos da carta), apesar do governo espanhol insistir na culpa do ETA.
que coisa absurda (além de todos os adjetivos de repúdio que se possa encontrar) esses atentados que atingem pessoas comuns. que tipo de objetivo "político" justificaria isto?
ah sim, só pra lembrar: é absurda como os bombardeios sobre cidades árabes que matam pessoas comuns tão humanas e dignas de solidariedade quanto os europeus.
mas não há o menor sentido em vingar um povo matando outro.
é impressionante como a necessidade de exibir pequenos (mínimos, ínfimos, ridículos) poderes instantâneos sobre os outros torna pessoas sem nenhum poder real tão felizes.
quem depende momentaneamente do "poderoso" que faz as coisas andarem - no sentido literal, como os motoristas de ônibus, ou amplo, como os burocratas que atendem ao público - pode se considerar muito sortudo se não for tratado com desrespeito e arrogância, no breve reinado do rei-serviçal.

no banco, é quase uma certeza: clientes humildes ou velhinhos em pânico diante de caixas eletrônicos, pedindo socorro, vão ser zoados (em voz alta, muito alta) pelo atendente que deveria apenas orientá-los.
no caixa, o mesmo: clientes perguntam baixinho, envergonhados, por não saber lidar com os procedimentos bancários que parecem tão óbvios e bobos pro "moço", que repete alto as perguntas ou responde alto com impaciência. não são todos, é claro, mas o surpreendente é que sempre tem algum. sempre a cena de intimidação.
eu fico pensando o que faz alguém que detém códigos específicos de uma situação determinada se achar superior a quem não está familiarizado com eles. sabe, né?, quando a gente começa a estudar alguma coisa e aprende o "dialeto" profissional, e acha que "os outros" não são suficientemente iniciados nos Mistérios do Saber e merecem desprezo (infelizmente, pra muitos a atitude dura além da adolescência). é meio assim.
já disse que (apesar de ser pequena) como a pantera brasileira do Creature Comforts, I need SPACE!
horizontes livres.
estou achando o mundo muito apertadinho.
Oslo, hoje?
e Tóquio amanhã? depois Tatoïne?
e uma escala em Oz, pode ser?
tou achando as Aerolíneas Andromedárias muito insuficientes.
sinto que meu botão Que-Se-Foda tá desligado faz um tempão, e aquele ON ali é propaganda enganosa.
muito péssimo isto.
vou ter que mudar, ou o botão ou a atitude.
de vez em quando as histórias da vida real (??!!!) ainda aparecem por aqui, à revelia.
porque eu lembro de umas coisas, ou as coisas lembram de acontecer escandalosamente na minha frente, como as batalhas nas ruas do bairro ou o inusitado encontro visual com o bandido-vigia em Santa.
não que seja o meu primeiro encontro com bandidos, só é o primeiro do tipo. assaltos são rotina, mas se você quer saber, eu sempre passei a humilhação de ver meu dinheiro recusado com todo o desprezo e deboche de que os assaltantes foram capazes. assim, por exemplo:

fim da tarde de um domingo de verão, eu voltava do sítio, deixei marido, filhas, bagagens e cachos de bananas na porta do edifício e fui guardar o carro na garagem a duas quadras dali. dirigindo descalça, cantando, com a cabeça voando como de hábito, parei no sinal da rua quase deserta, toda debruçada na janela aberta. ainda não tinham inventado o ar condicionado pra carro que coubesse no meu bolso.
o "dimenor", muito maior que eu, chegou do além e começou a gritar no meu ouvido. apesar do tamanho, tinha uma voz aguda e desafinada, mais conhecida como taquara-rachada, de adolescente em mutação.
claro que não entendi uma só palavra, e estava pronta pra entregar as chaves do carro a ele quando me ocorreu pedir pra repetir tudo, mais devagar. o menino só queria "todo o dinheiro da carteira". que eram, exatamente, dois cruzeiros. sim, duas notas de um cruzeiro. equivalentes a, mais ou menos, o preço de uma passagem de ônibus na época.
o carinha amassou as notas e jogou o lixo em cima de mim. provavelmente só não atirou, de pura raiva, porque estava desarmado. e fui pra garagem pensando na relatividade dos valores das coisas, eu jamais jogaria fora o dinheiro da passagem.

anos depois, no próprio ônibus, naqueles assaltos coletivos, um garotinho (armado) me devolveu dois reais achando que era pouco demais pras suas necessidades. devolveu jogando no chão, o malcriado. claro, ele nunca precisaria de dinheiro pra pagar passagem.

é, acho que fui educada pelo Tio Patinhas.

que só esqueceu de me ensinar como se junta e faz crescer o vil metal.
e continua o blogger br fazendo sua caquinha diária, expulsando blogs "por não respeitarem as Normas de Utilização do Blogger". alguns não aguardaram a Patrulha Bloqueadora Tabajara Em Busca do Conteúdo Perfeito e já mudaram:
Nelson, Cris, Cesar, Arnaldo (Mau Humor), Inagaki,
e foi criado o hospedeiro BlogBrasil, onde já estão o Matusca, a Fal e outros.
e o Allan Sieber, um dos expulsos como o Matusca e o Inagaki, (mas com endereço seguro na Tosco), vai pro Siebercomix na UOL, ao lado do Laerte e Angeli.
estes, os da minha lista de favoritos que já têm novo endereço.

(e a gente que pensava que as organizações Globo entendiam, no mínimo, de relações entre práticas empresariais e lucros. pois vão falir, com as bênçãos divinas e a torcida da humanidade amém.)
dshas kjfjf kajfkm!!!!!! mxjos ocooiolx mc, xc, xsc mxv2. jdfis duriwek gkjgçdl?? fjhj.
"Radio JB... O elevador vai até vc".
(Carlos D)

(e não deixe de conhecer as 200 mais belas histórias do mundo!)

quarta-feira, 10 de março de 2004

o tempo passa, o tempo voa
e as coisas continuam coisando furiosamente numa boa.


mudanças. corridas. saltos. degraus. etapas. chegadas. vitórias. pódiuns. partidas. tropeços. degraus.


o adeus às dogras, vícios, maus hábitos e pecados mortais. 44 dias de independência e pouca morte.


praticamente uma flor brotando do pântano.


não, não risquei palitinhos na parede a cada dia, só contei hoje.


e não, não eram os vícios comuns, eram os piores, tipo roer unhas, e aqueles outros.


definitivamente, por enquanto. irreversivelmente, no momento.


"pra sempre". "eternamente". "nunca mais". "definitivo". "irreversível". vou te contar, palavras difíceis.


logo eu guardiã das portas abertas, todas abertas pras incertezas, o imponderável e as dúvidas.


olhaofuturoaí, gente.


e a vida vai seguindo assim. nuns dias chove, noutros dias bate sol. às vezes tudo bem, às vezes sem razão.


fora as surpresas que caem do céu e sua ciranda do ir e vir, tão inevitável, esperançosa e triste.


o que vier, virá, o que for, irá. o que ficar, ficará?


esperar é chato. não esperar também é.


mas pegar carona nessa cauda de cometa, ver a Via Láctea, estrada tão bonita, brincar de esconde-esconde numa nebulosa é legal.


"não tem jeito, não tem mágica, não tem loucura, não tem delírio febril capaz de restaurar no ambiente ou resgatar na falível memória humana o que a fúria da natureza destruiu. impossível recriar aquelas paisagens".

dizia eu.
mas não vê? agora vem o Hubble e implanta a dúvida no seio das nossas certezas eternas: que emoção conhecer praticamente o cenário pós big-bang, as galáxias originais do universo, o início dos tempos.

depois disto, tudo é possível.


*


nas bancas: o bombeiro-Darlene da Luma, a vida e a obra de Jorginho Guinle, os famosos-quem do Big Brother, waldomiros mil do meu Brasil.


eu desisto.
não existe esta manhã que eu perseguia.



vou fechar tudo e fazer um cruzeiro pelas antilhas, antárticas, antônios, antônimos, antúrios, antíteses

(H., p/ aaa - associação dos atônitos anônimos)


*


dívidas, dúvidas, dádivas.


arpoador

quem é dono desse beco?
quem é dono dessa rua?
de quem é esse edifício?
de quem é esse lugar?

é meu esse lugar
...
eu quero meu crachá!
link

meu porto, minha paisagem.
quando tudo submergir eu mudo.
(talvez não. pode ser até melhor morar no fundo).

na cidade sangue quente
na cidade maravilha mutante



*


oh yeees, dia de catar coquinho no mato. preciso deles.


recordar é viver, sonhar é viver, raciocinar é viver, fazer planos é viver, desmiolar é viver e ir ao supermercado com vinte pratas e uma lista de necessidades e voltar sem levar um tiro é viver.


por que é sempre aqui que as coisas descem? ou melhor, sobem do porão. nossas baratas psicolúdicas.


e tudo no espaço apropriado, isto é viagem: de novos horizontes a delírios. e o mais puro besteirol, ou seu dinheiro de volta.


por falar em novos horizontes, tenho conhecido uns lugares maneirinhos. mas a vida real não interessa. todo mundo conhece lugares maneirinhos. este é um querido diário de emoções desordenadas e impressões incontidas sobre o ser e o nada. que interessam menos ainda.


eu vou me mudar. mas não agora. parece que a casa vai ser levada num tornado para as proximidades de Oz, ainda não sei.

quem sabe é a Bruxa Má do Noroeste.


não queria tudo tão diferente, só um pouquinho.


mas a coisação aparente das coisas me contenta, por ver a roda girar. a gente não sabe pra onde mas sabe que vai.


as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender

domingo, 7 de março de 2004

tombo, Peter Driben, pin up

por uma vida menos ordinária
tanta teoria, não é? tanta lição a dar, nós que nada sabemos e raramente aplicamos na vida pessoal o que ensinamos ao mundo.
repara só, com toda a honestidade: quando você critica, quando você dita o melhor comportamento a seguir em tais casos, quando você afirma sem dúvidas o que deveriam fazer para obter tais resultados, quando você repete textos que leu ou ouviu sobre "a Humanidade" em busca da onda perfeita, em algum momento você se inclui, lembra das próprias PRÁTICAS? em algum momento você considera as condições específicas em que os fatos aconteceram, as razões dos outros, as opções realmente existentes (ou a falta de opção), reconhece que os erros alheios poderiam ter sido cometidos por você em situação semelhante?
quase nunca, não é? a gente vê os outros de fora, como os outros nos vêem. é difícil julgar com acerto vendo de fora, é difícil avaliar com equilíbrio, vendo de dentro.
mas seguimos dando lições, recitando regras, distribuindo manuais e tirando o corpo fora. como crianças que quebram o vaso, dando bronca na bola.
viagem
manias: começar a comer o sanduíche pelas beiradinhas ou deixar o "melhor" tasquinho do bife pro final, abrir o biscoito recheado pra comer primeiro o recheio, feijão só se for ao lado e nunca em cima do arroz, queijo amarelo só em fatias bem fininhas, tirar todos os caroços de melancia e de uva antes de começar a comer, tanta mania, ritual, cerimônia de degustação (note bem que não estou falando de preferências de comidas e de modos de preparar, só da forma de comer).
somos todos iguais (todo mundo tem alguma mania, ou estou exagerando?) e todos diferentes (cada louco com a sua).
acho que ainda não falei da Neve. mais uma cachorrinha atropelada e abandonada na estrada, encontrada pelo Nando faminta e com paralisia temporária, que se recupera rapidamente e já consegue andar, apesar de não mexer uma das patas e ainda precisar de ajuda humana pra satisfazer as necessidades básicas, todas.
mas esta semana apareceu um volume estranho no abdômem, que a veterinária atribuiu a efeito dos remédios fortes, como primeira hipótese, e os exames revelaram ser... gravidez.
achar um dono pra Neve, neste estado (deve ter que amputar a pata imóvel, e não se sabe quando - e se - vai fazer xixi sozinha) já era um problemão. agora são mais três probleminhas que devem nascer no início da semana que vem, e não têm lugar pra ficar (já tem a Kika, paralítica, a Molie e o Thor, salvos na rua e hoje fortes, saudáveis, loucos e espaçosos).
socorro.
quis o destino que hoje, na volta da maternidade (chuva de rolinhos primavera pra saudar o mais novo habitante da área, Tomás), a gente fosse parar em Santa Teresa, onde só vou nos eventos De Portas Abertas visitar ateliês e andar pelas ruas momentaneamente populosas e muvucadas.
é um bairro lindo, eu acho. passeando pelas ladeiras cheias de casarões antigos e sobradinhos, trilhos de bonde e lugares charmosinhos pra comer, a gente esquece que tá no Rio.
então resolvemos tomar café num lugar bonitinho.
eu, numa mesinha de mármore rosa junto da janela, olhava a vegetação do morro em frente, sempre que posso escolho a cadeira estratégica pra admirar paisagens bucólicas.
e enquanto converso meus olhos vão subindo pelo morro e param num homem lá em cima, atrás do murinho. com uma arma de cano longo na mão, que não sei identificar, me encarando com aquela cara.
imediatamente a gente se lembra que tá no Rio.

*

globo: Doze mortes, carros e ônibus incendiados, seqüestro-relâmpago, assaltos e bala perdida marcam o sábado do carioca
"Doze mortes, carros e ônibus incendiados, seqüestro-relâmpago,
assaltos e bala perdida marcam o sábado do carioca"


dá pra entender por que um mar azulzinho ou as garças voando na Lagoa me deixam tão feliz?

sábado, 6 de março de 2004

cantigas de roda:

- nesta rua, nesta rua tem um bosque
que se chama, que se chama solidão
dentro dele, dentro dele mora um anjo
que roubou, que roubou meu coração

- se roubei, se roubei teu coração
tu roubaste, tu roubaste o meu também
se roubei, se roubei teu coração
é porque, é porque te quero bem

*

o cravo brigou com a rosa
debaixo duma sacada
o cravo saiu ferido
a rosa, despedaçada

o cravo ficou doente
a rosa foi visitar
o cravo teve um desmaio
a rosa pôs-se a chorar

*

ciranda cirandinha
vamos todos cirandar
vamos dar a meia-volta
volta-e-meia vamos dar

o anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou

*

Terezinha de Jesus
de uma queda foi ao chão
acudiram três cavalheiros
todos os três chapéu na mão.

o primeiro, desabamento,
o segundo, furacão.
e o terceiro, quaseperfeito, TINHA que viver no céu pilotando cometas e a Tereza não conseguia dar a mão.

blé.
o passado que absolve Peter Jackson: marionetes radicais
"Não sei se acontece com alguns de vocês, comigo sempre. Quando estou com um emprego bacana, não encontro ninguém conhecido nas ruas ou, se encontro, não se fala sobre trabalho. Quando estou caidona, sempre, sem-pre, encontro alguma amiga, geralmente que não vejo há anos. Pois a pessoa, em vez de perguntar, como você está etc, não. A primeira coisa que ela pergunta é "Você está fazendo o que?" E pergunta na lata, logo após aos dois beijinhos. Eu fico com aquela cara de mulher dos anos 50, digo "No momento não estou fazendo nada e você?" ou "Estou fazendo um projeto...", o que te deixa no maior vácuo, mesmo sendo verdade. E você tem que perguntar também, claro, porque é de praxe. E ela "Sou editora de economia do jornal tal" ou "Sou assistente de direção do rei-da-cocada-preta" ou " Sou presidente da Nestlé". Sim, porque nunca é "trabalho no Bradesco". Sempre são coisas maravilhosas e tal. Pois agora, quando alguém me encontrar na rua, vou poder dizer "Estou escrevendo um livro sob encomenda". Prestenção. Não é estou escrevendo um livro, simplesmente. Sob encomenda, sacou? Oh, yes, yes, yes."

(posted by marina w 6.3.04)
a semana "pra que Caribe?" (mar turquesa transparente, sol e brisinha) fechou com a típica tempête tropical das sextas-feiras e minha viagem combinada dançou na lama.
mas, ráááá, apareceu outra, porque a vida é uma caixinha de imprevistos previsíveis e a gente tem que se prevenir.

sexta-feira, 5 de março de 2004

o dia em que eu entendi.
foi assim: um certo dia toda a minha percepção das coisas mudou, porque entendi a relatividade da percepção das coisas.
foi um texto sobre gestalt que estava lendo, estudante do segundo grau no Pedro II, e que provava, com as ilustrações, que se pode ter leituras diferentes de uma mesma "realidade" visual.
um choque, se você quer saber, uma descoberta revolucionária. porque eu fui criança no tempo das Certezas, das Verdades, das Eternidades Imutáveis, do "certo-ou-errado", das regras que "sempre foram assim", do "todo mundo é...", imagine só a insegurança do relativismo nessas cabeças.
e se eu podia ver a taça e depois dois caras só trocando a figura pelo fundo no primeiro plano, isto queria dizer que eu podia ver o que você não via, nós dois olhando pra mesma coisa ao mesmo tempo no mesmo lugar. entendi num *clic* o poder da subjetividade (entender não quer dizer levar em conta o tempo todo, não é? eu também me esqueço).

e daí pra entender mais tarde as variadas versões da verdade, cada um acreditando em seu próprio relato "objetivo", as nuances, o filtro pessoal do "conhecimento" e as impossibilidades de reprodução fiel, as distorções político-ideológicas nas descrições e análises dos fatos, tudo ficou mais fácil. (mas, como já disse, entender não impede de esquecer e às vezes pensar/agir como se não soubesse).
então, mesmo parecendo óbvio, nunca é demais lembrar: podemos estar olhando as mesmas coisas, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e vendo REALMENTE, HONESTAMENTE, VERDADEIRAMENTE coisas diferentes.
tudo:

"o que se leva desta vida é a vida que se leva."

(meu pai sempre repete, sábio que é.)

quinta-feira, 4 de março de 2004

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma,
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.


Pablo Neruda

(: gracias :)
tem um navio ali naquela curva me esperando com alguma impaciência.
no próximo mugido de partida vou ter que ir.
estereótipos são tão pobrinhos, meu bem.
experimenta uns olhares marcianos sobre os gestos automáticos e as figuras-e-fundos.
comunicação bem sucedida: ruídos, e mais ruídos, que se anulam mutuamente (ou não).
Sabrina: os diamantes não são para comer.
era o nome de uma novela da TV Pirata, lembra? um primor de síntese de toda uma complexa questão filosófica dos relacionamentos humanos, o descompasso entre o que (presumidamente) oferecemos aos outros e (a nossa percepção d)o modo como é recebido.
ou: o profundo engano da pretensão de consciência sobre as expectativas alheias.
ou: qualquer tema pode virar monografia de cursos de inutilidades de terceiro grau, desde que você utilize as ferramentas reconhecidas pelos que detêm poder de julgamento.
duas notícias pro meu povo:

1.
panel one


2.
Anima Mundi 2004
Inscrições estão abertas até 26 de março

O Anima Mundi - Festival Internacional de Animação do Brasil chega à 12ª edição com uma importante mudança em seu formato: a partir de agora, as animações em vídeo e película participam das mesmas sessões, sem distinção de formato.
Todas as salas de cinema participantes do festival serão equipadas com projeção de vídeo de alta qualidade.
Na Mostra Competitiva, a regra é a mesma: filmes e vídeos competem nas mesmas categorias e disputam os mesmos prêmios, que variam de R$ 8 mil a R$ 500.

Os interessados em inscrever seus trabalhos do Festival, que este ano acontece de 9 a 18 de julho, no Rio, e de 21 a 25 do mesmo mês, em São Paulo, têm até 26 de março para preencher o formulário no site do animamundi. Além disso, devem enviar uma cópia da obra em VHS ou DVD para a pré-seleção para a sede do Anima Mundi (Rua Elvira Machado 7, casa 5 - Botafogo. CEP: 22280-060. Rio de Janeiro). Não há limite de inscrições por participante, desde que para cada obra seja preenchido um formulário diferente. O importante é que as animações não tenham sido exibidas ou inscritas anteriormente no festival. Os trabalhos selecionados serão divulgados em 19 de abril.
Clique com o botão direito do mouse para ver as maneiras como você pode interagir com essa pessoa.

Sou só eu ou...

Nã. Xapralá.

(Cris, mon coeur vomit 2004-01-30 15:08)
dOs Anos Oito:

Como, pra que, por que se consegue ver o espectro, a presença tênue, a sugestão de vulto no ar tremido?
Não sou particularmente dada a ver fantasmas. Mas é só olhar naquela direção, e ali está ele, a qualquer hora.
Não ele, apenas a certeza de seu estar ali, um contorno de ar no ar maior, um espaço preenchido com ar diferente.
Não é alucinação, entenda, é tão real quanto a tigela de pipoca sobre a mesa.
Você não tem que acreditar. Não é questão de acreditar, mas de saber, ou não.

***


Tem uma coisa importante que é o material de que se é feito, dá pra entender?
Duas frutas suculentas cheias de vitaminas e cores fortes; música suave, violenta e média; beijos, risadas, lágrimas, suor, impaciência e sono; sol e lua, cerâmica fria, chapa de ferro, madeira de lei; duas pedras, duas flores, dois pares de asas, duas pastilhas de ácido, duas camadas de escamas duras sobre duas gelatinas, duas conchas de mel, duas cebolas, dois raios, duas conchas de mar, dois espinhos, duas almofadinhas de algodão; muitas glândulas variadas, sal, açúcar, pimenta, chocolate, garras, seda, veneno, sangue quente e por aí vai, sempre uma porção pra cada um, mistura tudo e ferve, é a receita. Receitas iguais, a quantidade de alguns ingredientes é que varia.

É isso que falta às vezes, você fala e não entendem, por diferença de materiais.

***

E quando desabou a tempestade toda de uma vez como cortina d'água pra lá da marquise, levantando vapor do chão quente, ela gritou por dentro "eu juro! juro por Tara! nunca mais passarei por esta evasão de divisas! recolherei de volta até a última pérola desperdiçada!"

Quando a chuva acalmou ela deixou a cidade e foi viver de brisa com seu Amor Verdadeiro, que conheceu no ônibus.

(2003)
aniversário do meu pai, a festinha de sempre, uma parte do pessoal resolve ver o jogo, outra decide ir embora antes do começo.
os convidados acabam de descer, e.. tatatatatatataratá!!! a primeira rajada.
tiros. muito perto. um som muito alto pra ser no morro, que fica a uns seis ou sete quarteirões de lá.
e mais, depois mais, o túnel fechado, uma guerra ali na esquina. esta aqui.
a volta pra casa tensa, muitos telefonemas tranquilizadores trocados com os que saíram e ficaram (chegaram? nós chegamos), o trânsito desviado, medo do bandido e da polícia.
mas como, ainda não se acostumou? pergunta alguém de fora. quem é que se acostuma com uma guerra onde se morre mais que nas áreas oficialmente beligerantes do mundo?

Princesinha do Mar  Princesinha do Mar
mais detalhes das batalhas no front do Posto 5: aqui e aqui.

terça-feira, 2 de março de 2004

mas não tenta me entender, é perda de tempo.
vai fazer outra coisa, me deixa com as lembranças inúteis.
eu entendo línguas exóticas esdrúxulas simpáticas com olhos e sinais auxiliares.
línguas de bichos também, bichos que lambem.
aquelas terras geladas de silêncios gritantes e nadas extensos até o horizonte me agoniam.
mas adoro pinguins, são palhacinhos sem crueldade.
um dia vamos rir disso tudo.
no meu próximo aniversário, talvez.
mesmo porque este blog não veio pra explicar nada.
eu sei o porquê da síndrome-do-álbum-de-fotos: culpa do senhor dos anéis. mas não vou explicar, é complicado.
a porcaria daquele meio de transporte verde inútil.
(e o combustível é tão ecológico e baratinho.
mas talvez difícil de encontrar).
saudosa maloca: a vista ampla, um vôo livre pelo espaço aberto sobre a cidade, a janela pro interior - aqueles olhinhos de lago tranquilo, de água limpa, asas, plumas, ninho, mãos doces lavando a louça na cozinha. às vezes eu preciso tanto dessas lembranças.
mas hoje nóis pega páia na grama do jardim...
eu gosto deles, mas não fico mexendo nos bichos pela rua - e mesmo assim os cachorros vêm me lamber, por sua própria conta e risco.
também acho uma gracinha mas não costumo fazer bilubilus em bebês alheios, eles sorriem porque assim desejam.
do mesmo jeito gratuito, crianças desconhecidas capazes de níveis superiores de interação costumam puxar assunto comigo. adoro isto. altas conversas "adultas" (por oposição às "infantis" estereotipadas que adultos também podem ter) sobre assuntos relevantes e fundamentais, como as hipóteses sobre a causa das águas-vivas chegarem mesmo com a água morna, o vôo de acasalamento das abelhas-rainha ou os protetores de coluna mais eficazes pras manobras dos skatistas.

segunda-feira, 1 de março de 2004

e as Forças da Paz atacam novamente:

"EUA enviarão de 1.500 a 2.000 soldados ao Haiti, diz Rumsfeld
...
O presidente George W. Bush enviou no domingo fuzileiros para liderar a força multinacional que deve restaurar a ordem e a estabilidade no país caribenho depois da renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide.
...
Os Estados Unidos enviaram mais de 20 mil soldados ao Haiti em 1994 para pôr Aristide de volta no poder depois de ser derrubado por um golpe. Desde então, a força militar haitiana está desfalcada e a segurança está nas mãos de 4.000 policiais".

(eu sei que você já sabe, é só o hábito de me espantar com as coisas banais).
pego o jornal (de papel) na porta e a primeira manchete da primeira página do principal periódico carioca me conta que a gravidez de Luma de Oliveira era uma farsa.
subitamente sou arrastada de volta a um momento do passado: o enterro de Odete Roitman em manchete de primeira página no dia da morte de Chico Mendes, que o jornal ignorou solene e totalmente até que a imprensa internacional começasse a perguntar.
nós, quase todos, ignorávamos esse nome, esse cara que movimentava o mundo lá dos confins do Acre, e sabíamos quem era Odete Roitman, o jornal conhecia os leitores que seu poder de informação/desinformação ajudou a educar.
já disse que eu reconheço o valor de clichê, trocadilho, ditado, letra de música popular, bordão (idiota) de programa humorístico, anúncio ruim que repete frases óbvias (inclusive das categorias anteriores), não disse? se não disse, agora está dito.

(a Verdade é repetir até que se acredite?)

(a Verdade é o senso comum vencedor pelo cansaço?)
domingos
fui tão feliz ontem, o dia inteiro.
nem a falta de cadeiras no quiosque, nem o caixa d'água e os mengols anulados, nem os programas furados antes de nascer, e muito menos os problemas reais, que aprendo a arrumar na fila e desenjaular um de cada vez em horário comercial, nada conseguiria tirar um tiquinho da minha felicidade gratuita e sólida.
mas aí vem a hora dos zumbis do espaço e lá do alto cai batendo fundo a saudade das estrelas, aquelas.
como é difícil domar isso, a vontade.
parabéns pra você, purgatório da beleza e do caos.
dois dias de puro êxtase estético e declarações de amor da cidade às gentes povoantes e visitantes: a paisagem, é claro, o mar transparente de ver o pé, o azul do céu que te abduz (passou mais um avião, como os aviões passam, ultimamente! passam e vão) sobre morros e pedras que brotam da água, todos aqueles lugares lindos e infernais convivendo democraticamente na paz e na guerra, na alegria e na violência, na vida saltitante e na morte besta, na saúde dourada e nas doenças da subnutrição e carências gerais, e 439 anos de ah!s e oh!s dos estrangeiros que chegam e são assaltados e tomam caipirinha e entendem tudo e voltam a cada ano ou resolvem ficar pra sempre.
e você que nunca viu nada igual em seus mais de 500 anos de vida astronauta ao redor do planeta, ainda se admira com uma coisa tão banal, a paisagem.