sábado, 27 de março de 2004

eu gosto dos que blogam em horários improváveis.
me parece muito confiável a blogação (blogagem? blogueamento?) que despreza artifícios, que acontece porque precisa acontecer e não foi distribuída por uma assessoria de imprensa.
horários improváveis não são os da madrugada, são os da manhã de sábado, noite de sexta-feira, tarde de domingo, noite de natal, qualquer hora no carnaval, 8 horas da manhã de qualquer dia: aquela hora em que você acha que alguém devia estar fazendo alguma coisa mais interessante do que ficar (como provavelmente você também já esteve alguma vez) diante do computador tentando um contato com o além.

ah sim, não necessariamente alguém precisará blogar neste momento, e não seria menos confiável por isto. e não necessariamente os momentos de necessidade blogatória acontecem nos horários improváveis, e isto não enfraquece a sinceridade da blogação.
aliás, blogar não é só escrever no blog. é moldar os pensamentos na forma de posts pra repartir impressões, opiniões e manifestações de qualquer nível, só pelo prazer ou necessidade de repartir.
é apenas uma das formas possíveis de contato com outros humanos, nada fundamental ou de grande importância, como sabemos. é só um pouquinho mais útil que falar pras paredes, porque humanos podem até tentar te responder, e paredes só ficam te olhando com aquela cara.

e certamente não é aqui o lugar ideal para ficar nu, ou pelo avesso. pra mostrar nada, pra abrir cortinas indevidas e revelar segredos, pecados, endereços, cicatrizes.
mas vai que você tem rotinas diferentes da maioria, ou nem tem propriamente uma rotina, e é desprovido daquela preocupação com o não-parecer. com o não dar impressão de ser desocupado, solitário, sem interesses na vida offline, sem uma vida real. (que mito bobo, este, o show sem reality, o esforço de não parecer que a gente se vira com uma vida menos interessante do que todas as vidas tão cintilantes que outras pessoas sempre parecem ter).

o que eu gosto nos que blogam no sábado à noite é da companhia indireta, naqueles momentos em que todos os programas imperdíveis que te chamam do mundo não seriam capazes de substituir o mergulho nas próprias grutas submersas profundas, que só a solidão e as folhas brancas permitem. e o espaço de edição nas telas também. que lindo isso.

então estou eu aqui em casa numa hora dessas, puta da vida porque meu programa imperdível de hoje provavelmente será de impossível realização, e tudo o que eu queria é ter mais o que fazer de bom que preencher este desgramado formulário das obrigações anuais com os chefes de nossas precárias existências, mas veja, agora não dá.
por isso eu preciso da sua companhia, blogueiro confiável, pra reclamar da vida no meu diário sem me sentir a única do mundo, num sábado à noite, envolvida neste imenso incomparável afazer das abobrinhas.

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