quinta-feira, 11 de março de 2004

de vez em quando as histórias da vida real (??!!!) ainda aparecem por aqui, à revelia.
porque eu lembro de umas coisas, ou as coisas lembram de acontecer escandalosamente na minha frente, como as batalhas nas ruas do bairro ou o inusitado encontro visual com o bandido-vigia em Santa.
não que seja o meu primeiro encontro com bandidos, só é o primeiro do tipo. assaltos são rotina, mas se você quer saber, eu sempre passei a humilhação de ver meu dinheiro recusado com todo o desprezo e deboche de que os assaltantes foram capazes. assim, por exemplo:

fim da tarde de um domingo de verão, eu voltava do sítio, deixei marido, filhas, bagagens e cachos de bananas na porta do edifício e fui guardar o carro na garagem a duas quadras dali. dirigindo descalça, cantando, com a cabeça voando como de hábito, parei no sinal da rua quase deserta, toda debruçada na janela aberta. ainda não tinham inventado o ar condicionado pra carro que coubesse no meu bolso.
o "dimenor", muito maior que eu, chegou do além e começou a gritar no meu ouvido. apesar do tamanho, tinha uma voz aguda e desafinada, mais conhecida como taquara-rachada, de adolescente em mutação.
claro que não entendi uma só palavra, e estava pronta pra entregar as chaves do carro a ele quando me ocorreu pedir pra repetir tudo, mais devagar. o menino só queria "todo o dinheiro da carteira". que eram, exatamente, dois cruzeiros. sim, duas notas de um cruzeiro. equivalentes a, mais ou menos, o preço de uma passagem de ônibus na época.
o carinha amassou as notas e jogou o lixo em cima de mim. provavelmente só não atirou, de pura raiva, porque estava desarmado. e fui pra garagem pensando na relatividade dos valores das coisas, eu jamais jogaria fora o dinheiro da passagem.

anos depois, no próprio ônibus, naqueles assaltos coletivos, um garotinho (armado) me devolveu dois reais achando que era pouco demais pras suas necessidades. devolveu jogando no chão, o malcriado. claro, ele nunca precisaria de dinheiro pra pagar passagem.

é, acho que fui educada pelo Tio Patinhas.

que só esqueceu de me ensinar como se junta e faz crescer o vil metal.

Nenhum comentário: