quinta-feira, 11 de março de 2004

é impressionante como a necessidade de exibir pequenos (mínimos, ínfimos, ridículos) poderes instantâneos sobre os outros torna pessoas sem nenhum poder real tão felizes.
quem depende momentaneamente do "poderoso" que faz as coisas andarem - no sentido literal, como os motoristas de ônibus, ou amplo, como os burocratas que atendem ao público - pode se considerar muito sortudo se não for tratado com desrespeito e arrogância, no breve reinado do rei-serviçal.

no banco, é quase uma certeza: clientes humildes ou velhinhos em pânico diante de caixas eletrônicos, pedindo socorro, vão ser zoados (em voz alta, muito alta) pelo atendente que deveria apenas orientá-los.
no caixa, o mesmo: clientes perguntam baixinho, envergonhados, por não saber lidar com os procedimentos bancários que parecem tão óbvios e bobos pro "moço", que repete alto as perguntas ou responde alto com impaciência. não são todos, é claro, mas o surpreendente é que sempre tem algum. sempre a cena de intimidação.
eu fico pensando o que faz alguém que detém códigos específicos de uma situação determinada se achar superior a quem não está familiarizado com eles. sabe, né?, quando a gente começa a estudar alguma coisa e aprende o "dialeto" profissional, e acha que "os outros" não são suficientemente iniciados nos Mistérios do Saber e merecem desprezo (infelizmente, pra muitos a atitude dura além da adolescência). é meio assim.

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