sexta-feira, 12 de março de 2004

sabe o que me deixa, como direi, chapada na mais profunda perplexidade?
é a possibilidade do governo espanhol estar se aproveitando da revolta popular contra atos terroristas pra influenciar as eleições.
porque eles estão insistindo na culpa do ETA, e isso não é de graça. o ETA não é nenhum exemplo de ação política, terror é terror.
e, sem julgamento ou com julgamento, é tão injustificável eliminar pessoas em nome de ideais tocaiando nas esquinas quanto bombardeando cidades.
mas o ETA costuma matar políticos, alvos selecionados, julgados pela organização segundo critérios, digamos, parciais (como todo julgamento, aliás) mas coerentes com seus propósitos separatistas. e mesmo dentro dessa merda ainda fazem merda, "condenando" potenciais aliados de sua causa simplesmente por participarem de eleições. enfim, não dá pra desculpar.
mas no caso do terror árabe, o "inimigo" é o que há de difuso e indistinto. dentro ou fora de seus países, os inimigos são "os outros" (quem não está comigo está contra mim), cabendo aí toda espécie de interpretação.
e mesmo quando existem justificativas políticas pra uma reação popular (à intervenção americana, por exemplo), os alvos das ações deles são pessoas comuns.
o ETA tem negado a autoria do atentado desde o início. os terroristas bem sucedidos gostam de assumir autorias, e às vezes tentam até insinuar falsas autorias para se promover.
mas um desastre desses envolvendo o "perigo interno" do ETA, além do "perigo externo" dos "árabes", num momento de eleições é um bom pretexto pra confundir os votantes de esquerda, ou os que votariam nos candidatos mais democratas, os que apóiam os bascos (mesmo que não seus métodos), além de atingir os que condenam o apoio espanhol aos EUA nas guerras do Oriente Médio. vai tudo pro mesmo saco do medo.
paranóia? pode ser, mas depois das lições de Bush, sei lá.
e seja quem for o autor dos atentados, além de desumano é burro, porque o terror trabalha politicamente contra si mesmo, anulando os efeitos que procura provocar.

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