segunda-feira, 31 de maio de 2004

acho que vou ficar morando aqui por uns tempos.
"aqui", no caso, são vários lugares próximos, isolados uns dos outros (considerando que é um arquipélago) embora comunicáveis entre si por meio de mensagens enviadas em garrafas, ou levadas por gaivotas-correio e golfinhos treinados, ou de carona em botes de pescaria cavados em troncos de árvore, em pranchas de surfe e, caso da ilha mais inóspita e desprovida de civilidades, pelos sinais de fumaça do vulcão. o celular não funciona, porque Aqui é fora de todas as áreas.
os lugares são culturalmente variados e alguns têm energia elétrica, telefone, big mac e internet, outros não. nossa ilha não. então vivemos em constante deslocamento, porque onde há internet pode não haver peixe, onde há peixe pode ser que não haja água potável.
mas a estrada é o oceano, então abrimos uma clareira para o pouso do helicóptero (atenção: nenhuma planta sofreu danos ou maus tratos para a realização deste filme) e o atalho é pelo ar.
aqui chove. é a terra do sol, mas chove. e faz frio. e tem granizo, geada, ciclone extratropical, raios e trovões, névoa pela manhã e à tarde. mas quando chega o sol, é aquela coisa. paisagens absurdas. é quase tão lindo quanto o Arpoador.
aqui é um lugar protegido, onde a gente pode viver longe dos problemas normais, arranjando problemas nunca dantes cogitados.
acho que estou feliz.
mas um dia eu volto.
enquanto isso aparecerei quando puder, porque se não puder nem adianta querer.
de vez em quando deixarei minha rotina de escrever e ilustrar livro, preparar risotos de frutos do mar e dar aulas para crianças vizinhas, e virei até o outro lado do horizonte procurar por notícias. talvez dando voltas numa bicicleta com acesso à internet emprestada, pra economizar meus dobrões de ouro encontrados no navio naufragado. lerei os e-mails, os jornais e revistas, os blogs, saberei o que ando perdendo e do que estou escapando por estar tão longe. sentirei saudades e alívios, tomarei um drink no abacaxi, esboçarei mais um desenho do povoado e seus habitantes, conversarei no mercado, chamarei Flipper com um assovio e partirei de volta para a minha ilha, sonhando talvez com o mundo perdido, ou tendo pesadelos roteirizados por Stephen King, influenciada pelas leituras internéticas. no fim da tarde dourada reconhecerei o ronco do nosso helicóptero chegando (mesmo porque é o único helicóptero das amplas redondezas), correrei saltitante para o portão, e o resto não interessa a mais ninguém.
se eu soubesse, teria mesmo feito biologia marinha.

sexta-feira, 28 de maio de 2004

tchau, tou indo lá perder o Rock in Rio 4 com Sir Paul McCartney na abertura.
§.... coisas bregas que me fazem feliz ....§

são tantas. mas algumas nem me despertam o desejo de posse, basta olhar cada vez que uma oportunidade aparece. sabe aqueles cubos ou paralelepípedos de acrílico, com uma "esculturinha" virtual dentro? uma imagem gravada em 3 dimensões, tão delicadinha, eu vejo um por um dos chaveiros, ou pesos de papel, ou o que tiverem feito dos acrílicos com o mesmo espanto renovado e repetido.
ah, e adoro uma coisa transparente qualquer com luz atravessada se desprismando em mil arco-íris na parede (como um brilhante que partindo a luz explode em sete cores, mas convenhamos, tem aí um toque hans donner complementando jobim).
e gosto de plásticos em geral. coisas de plástico de cores fortes, em particular. prateleiras de lojas com muitos plásticos de cores diversas. nunca serei neutrinha no assunto de cores. mas não que me vista, ou arrume a minha casa como num carnaval tabajara, apenas gosto de conviver com certos comprimentos de luz no meio do negrume ou da branquidão, ou das outras cores-fundo.
e tem também as coisas que brilham, piscam, refletem, silhuetam, translucidam. de lavalamps a luzinhas de árvore de natal, passando por vidros de todas as espécies, transparentes, jateados (mas sem desenhinhos, que também é demais), canelados, molhados de chuva. coisas aparecendo por trás de vidros, coisas sutilmente sugeridas, silhuetas, reflexos deformados.
(importante observação: lavalamps, não aquelas imitando foguetinhos, mas as antigas grandonas que pareciam colunas de vidro, com muitas bolhas. e luzinhas de árvore de natal na própria árvore, porque aqueles arranjos natalinos "teia de aranha" improvisados nas portas e jardins dos prédios até acabam com a idéia positiva de breguice).
falando nisso eu nunca tive uma arvorinha de natal de fibra ótica, que acende na ponta e muda de cor. nem terei. mas gosto de ficar vendo aquilo.
e sempre tive caleidoscópios. não que ache brega, só está aqui no post porque me lembrei do primeiro caleidoscópio que se quebrou na minha frente, e o encantamento estupefaciante que me acometeu vendo aqueles pedacinhos de vidro ou plástico colorido, lantejoulas, fechos de gancho de metal, vidrilhos, botões, foi inesquecível. como aquilo tão comum podia se transformar nas imagens mais fantásticas do mundo? gênio, o inventor do caleidoscópio.
sei que a noite inteira eu vou cantar
até segunda-feira, quando volto a trabalhar
sei que não preciso me inquietar
até segundo aviso você prometeu me amar
você deve ter visto no jornal: há alguns dias atrás o líder espiritual indiano Sri Sri Ravi Shankar esteve na Rocinha, "ensinando técnicas de relaxamento aos moradores", pra combater aquele clima violento. (esta era a chamada das notícias globais, é claro que foi muito mais que isso.)
à parte as louváveis intenções, me lembrou aquela piada do recente paciente de psicanálise e fiquei imaginando o povo rocinhense atravessando o fogo cruzado todo fim de tarde pra chegar em casa, mas agora tranqüilo, tranqüilo.

quinta-feira, 27 de maio de 2004

foto Márcia Foletto, O Globo, vista do Mirante do Leblon  foto Márcia Foletto, O Globo, praia do Leblon

foto Márcia Foletto, O Globo, praia de São Conrado  foto Márcia Foletto, O Globo, praia de Ipanema

fora isto, tudo igual.
inventário: poucos bens, alguns tesouros. não vou falar da família porque pareceria discurso obrigatório clichezístico formal, o que seria (o parecer) uma injustiça com a sinceridade dos meus sentimentos. são todos mais que tesouros, são de onde eu chupo, sugo, extraio minhas forças, o melhor da minha vida, aquilo tudo o que qualquer um também diria de sua família se ela fosse como a minha (e não estaria errado em exagerar um pouquinho).
fora isso, tenho amigos, ou acho que tenho e me contento com a possibilidade de partilhar espaços, pensamentos, cervejinha, carinho, besteirol e visões de mundo com grandes, raros e incríveis seres que habitam nosso pobre (de espírito também) planeta, que eles ajudam a tornar mais suportável. ou mais complicado, dependendo da ocasião.
e tenho uma casa e um bairro - aqui pertinho um oceano inteiro - e uma cidade onde gostaria de morar eternamente enquanto não explodirem, coisa que pode estar perto de acontecer. e em toda parte tenho a porta aberta pro mundo quando der na telha (embora não possua grana que possibilite a realização de grandes sonhos viajantes no momento, mas quem sabe um dia).
tenho saúde (pelo menos física), disposição (pelo menos em certas horas do dia e certos dias da semana), a capacidade de trabalhar e o gosto pelo que sei fazer (também neste assunto, nem sempre a oportunidade de exercer meus, digamos, talentos de modo conveniente e justamente remunerado - mas às vezes um danoninho vale por um churrasco de boi inteiro).
tenho um certo entusiasmo pululante - que em épocas de inverno emocional se faz de morto mas é só dar um assovio que ele desperta (bem, às vezes tem que ir lá pegar à força, mas sabemos que ele existe, mesmo que seja no modo avestruz).
e tenho um raríssimo exemplar, talvez único, de Pinguim Avuador Gigante de Olho Azul do Extremíssimo Sul, oculto a sete chaves virtuais num ponto qualquer da Terra que às vezes até eu mesma não acho, mas que me aparece ao vivo e some de repente como pluft o fantasminha, pra manter a ilusão de sua existência real. ou me leva nos seus vôos de pinguim (seriam sonhos?) pruns lugares que vou te contar, ninguém acredita: no espaço sideral.
tenho saudades. grandes, imensas, abrangentes, do que vivi e do que não vivi, do que conheci e do que não conheci, do que passou e do que ainda não veio, do que mudou e do que ainda espero que mude, do que não era bem como eu pensava e do que foi melhor do que eu podia imaginar, de tudo que já existiu e do que simplesmente não existe nem existirá. não deixo por menos.
tenho saudades (ou que outro nome tenha este buraco do que falta) porque tenho sonhos, muitos, o tempo todo, e alguns eu realizo, outros não, como todo mundo. (talvez eu tenha mais sonhos infantis irrealizáveis que a média das pessoas, mas tudo bem, ainda não pude fazer nada quanto a isso, e até que tenho tentado, com a inestimável ajuda dos assistentes do dr. Freud).
então eu me viro com o que tenho, meus cantinhos, meus amores, meus pavores, minha história, minhas memórias, meus planos, meus desejos impossíveis e meus furos, frustrações e adiamentos (tudo meu, tudo meu!), mas sabe, hoje isto não me parece tão ruim. (aliás, hoje nada me parece ruim, e olha que não ingeri nada estranho, dieta normal).
e sim, me faltam algumas coisas que eu diria fundamentais - mas no momento falo do que possuo. (o que não me impediria de incluir as lacunas como pertences, não é? buracos rotulados. só pra não deixar nada de fora).
este inventário é pra me ajudar a perceber que tenho muito o que perder. tenho que cuidar do futuro, do presente e até do passado (pra não desmanchar o castelo tirando uma pedra olê olê olá, assim de bobeira). tenho que prestar mais atenção no que tenho, tou rica, tenho que parar de viver semanas-não só porque não são completas, tenho que espremer o suquinho de pedra de cada dia e correr atrás das mudanças e alegrias possíveis. (ai que cansaço. ser feliz dá muito trabalho).
mas tem uma coisa: deixar herança, acho que não vai dar não. tenho a impressão de que vou torrar tudo antes de morrer.
desorientação:
o filme é argentino. pensei que fosse espanhol, e continuei pensando durante um tempão. acho que andei bem ali por por aquelas ruas, mas se não me engano era Madri. ou melhor, me engano sim.
faz tempo que não reparo por onde ando.
olha, eu sei o que você pensa sobre Fidel Castro, ditaduras & democracias, paranóias e teorias da conspiração, tudo isso.
mas leia sem bloqueios, lembre-se de quem é Bush e seus esforços pra salvar o mundo do Eixo do Mal e pense por sua própria cabeça (o que é um conselho redundantemente inútil, eu sei que você faz isto sempre).
é meio grandinho, não é imparcial, mas acho que é interessante e vale a pena.
(tive que reproduzir tudo porque é pop-up e da semana passada, não sei como se linka isso)

A "próxima vítima" reage

Pressionada por Bush, Cuba vai às ruas e adota uma saída oposta à do neoliberalismo. Mesmo na crise, emprego, saúde e escola para todos.

RITA FREIRE
Havana

As ruas tomadas de Havana, no dia 13 de maio, intrigaram quem quer que observasse as imagens da multidão transmitidas no mundo todo. Apenas quatro dias depois de um pacote econômico indigesto, um chamado do governo de Fidel Castro foi atendido por um milhão de pessoas que saíram às ruas para defender o regime cubano. Mais uma vez, a defesa do país e sua dignidade se contrapunha a um "plano de redemocratização" draconiano anunciado pelos Estados Unidos.

Apostando que o orgulho ferido dos norte-americanos com o fracasso no Iraque poderá ser saciado com uma investida vitoriosa contra Cuba, Bush introduziu novas cartas no jogo eleitoral. Num plano divulgado dia 6 de maio, promete levar o regime de Fidel Castro à asfixia, cortando o fluxo de dólares que imigrantes cubanos nos EUA enviam às suas famílias e dificultando viagens à Cuba. Quer criar meios de punir empresários, inclusive de outros países, que fazem negócios com a ilha.

O primeiro alvo são os 1,3 milhões de imigrantes cubanos residentes nos EUA e que mantêm laços familiares, afetivos e solidários com Cuba. Deles vai uma parte importante da renda dos parentes que ficaram na ilha. Por ano, cada um pode mandar US$ 1,2 mil. Em tese. A partir de junho, quando as medidas entrarão em vigor, essa ajuda não poderá ser enviada a famílias ligadas ao Partido Comunista, nem a parentes de segundo grau, o que deve afetar a maioria dos casos. Levar dinheiro pessoalmente será impossível. Viagens a Cuba só poderão ser feitas a cada 3 anos, com o limite máximo de U$ 50 dólares para cada dia de permanência.

Ao mesmo tempo, o plano mira os cubanos da ilha. Bush pretende desnortear corações e mentes com a mesma máquina de guerra usada para manter a adesão amedrontada dos norte-americanos: a propaganda maciça e controlada pela Casa Branca. Neste caso, terão voz os contra-revolucionários de Miami, acusados de uma seqüência de atos terroristas contra Cuba.

Para isso, o plano requer o "deslocamento imediato" de aviões "C-130 Comando Solo" para criar plataforma que permita as transmissões da Rádio e Televisão Marti. São emissoras baseadas nos Estados Unidos e dirigidas a Cuba, hoje barradas por interferência cubana.


Pretexto para armas

Transtornar as relações entre cubanos e emigrados parece ter objetivos mais militares do que econômicos. Cuba já está cercada. A Leste, Guantánamo e o Haiti sob golpe de Estado. Ao Sul, os militares do Plano Colômbia.

Pretexto para invadir - possibilidade que preocupa também a Venezuela -, não há. Mas para os cubanos, o estopim acaba de ser montado. A asfixia econômica, a separação de famílias, a busca desesperada de melhores condições de vida, podem ter o mesmo efeito da crise dos anos noventa que reduziu, nos primeiros três anos, o PIB da ilha em quase 35% e provocou, em 1994, o famoso êxodo de balseiros de agosto de 1994. A lei Helms-Burton permite aos EUA, desde 1996, interpretar uma nova onda de imigrantes como um ato de guerra e motivo para uma resposta militar.

O ministro Perez Roque acusa Bush de forçar a crise migratória, aumentando a pressão até que exploda. A intenção por trás do plano é apontada também por cubanos de oposição à Fidel. Eloy Gutiérrez Menoyo, dissidente que está de volta à Cuba, interpreta o gesto de Bush "como praticamente uma incitação ao conflito armado". De modo geral, o relatório de Noriega foi mal visto por todos os grupos de oposição considerados não extremistas e formados no exílio, como Cambio Cubano, Arco Progressista e Projeto Varela.


Nunca em Cuba

O governo cubano reagiu ao plano de Bush com esforços diplomáticos em busca de apoio internacional (na ONU, OMC, OMS e relações bilaterais). Também adotou medidas duras dentro de casa. Elas beiram o racionamento de guerra. Ainda assim, obteve o apoio de uma das maiores mobilizações jamais vistas. A dimensão é maior se considerado que o ato restringiu-se à Capital, Havana, e foi convocado na véspera. A maré de protestos invadiu a avenida à beira-mar do Malecón, em frente à Oficina de Interesses dos Estados Unidos em Havana (em Cuba não existe embaixada norte-americana).

O sentimento cubano foi traduzido em cartazes com a foto ampliada da militar norte-americana que arrastava pela coleira um prisioneiro iraquiano. Sob ela, frase sintética: "Em Cuba, jamais acontecerá". Agudo como sempre, Fidel sinalizou aos cubanos que os dias vindouros serão terríveis. Disse a Bush que a resistência será feroz.

Considerando que o presidente norte-americano está disposto a decretar a morte da revolução cubana, Fidel não fez por menos: "Salve, César. Aqueles que vão morrer te saúdam", ousou o presidente cubano, recorrendo à famosa frase dos gladiadores ao imperador romano.

O calor de Havana indica que a população pode estar disposta a enfrentar a fome e andar descalça para suportar a radicalização do embargo econômico. Curvar-se está fora de questão. "Este povo pode ser exterminado, varrido da face da terra, mas jamais subjugado nem humilhado", avisou Fidel.


Pesadelo anunciado

As cenas de rua das vésperas do protesto de Havana não deixavam prever o espetáculo do dia 13. A mesma população altiva contra Bush podia ser vista correndo aflita às lojas que vendem produtos em dólares, para tentar estocar alimentos e produtos de higiene importados, os poucos itens permitidos pelo governo até um ajuste geral de preços que tornará a vida na ilha ainda mais difícil.

Enquanto procura induzir a população a investir o que tem em comida, o pacote de Fidel limita dramaticamente a possibilidade de consumo de outros gêneros quase igualmente importantes. Para uma população que usa as TRD - Rede de Lojas Recuperadoras de Divisas que se baseiam na moeda norte-americana - para compra de roupas, sapatos ou produtos para casa, as medidas não poderiam ser mais impopulares. Os preços dos combustíveis também voltaram a ser proibitivos para boa parte dos cubanos.

A gravidade do momento é indicada à população pelo fato de o pacote de 15 medidas não ser formalmente atribuído ao governo nem ao Partido Comunista, mas sim à "Revolução, apoiada em sua longa experiência, sua equanimidade e na sólida unidade e elevada cultura política de seu povo". Esse recurso só é utilizado em Cuba quando o regime é ameaçado e requer coesão nacional contra a ameaça. "Neste instante, a esfera política alcança sua máxima importância", diz nota oficial.

A população prepara seu espírito para a possibilidade de sobreviver na pobreza aguda. Mas o que Cuba chama de essencial - e que será garantido - desafia a lógica segundo a qual desemprego e a redução de gastos sociais são males inevitáveis em tempos de crise econômica.

A "ração de guerra" estabelecida por Cuba utiliza o avesso da receita neoliberal: é composta de políticas para manter os níveis de emprego mais altos do mundo (97,5%), educação e saúde pública para todos, acesso aos alimentos básicos a preços abaixo do custo. A produção cultural também será protegida. São bens e serviços que, "sem privilégios de nenhuma índole, devem ser recebidos por toda a população do país", como frisa a nota oficial. Qualquer coisa fora isso - incluindo vestuário, bebidas, acesso à internet e combustível - terá peso de ouro até que a crise seja superada.


Alvo fácil?

O fantasma que assombra Cuba está contido em 450 páginas, organizadas em seis capítulos por Roger Noriega, sub-secretário de Estado para assuntos da América Latina e representante dos contra-revolucionários cubanos no governo Bush. O conjunto da obra leva o nome de ?Relatório da Comissão de Ajuda a uma Cuba Livre? e prevê a ingerência radical dos EUA para forçar uma "transição democrática" do regime cubano.

"Fácil de atacar, perfeita para a valentia estilo Texas", define o lingüista norte-americano Noam Chomsky ao explicar, ao jornal mexicano La Jornada, por que Cuba foi escolhida para aplacar o descontentamento norte-americano. Reinventar um inimigo - à moda de Reagan - parece ao governo o melhor remédio para manter a adesão do "povo [o norte-americano] mais assustado do mundo", na opinião de Chomsky.

O relatório não poupa os norte-americanos de novas mentiras para justificar uma intromissão na vida cubana. Bush promete vacinar todas as criancinhas cubanas logo após a vitória, uma ofensa para o país onde não faltam remédios e que tem índices de mortalidade infantil menores do que os EUA.

(Publicado em Porto Alegre 2003: 20/05/2004)
MUMMENSCHANZ  MUMMENSCHANZ
caramba, nada se parece com isto aqui.
a gente paga pela distração. fiz uma incursão indevida à Tok Stok, aquele Templo do Consumo do mal que só tem o que eu gosto, tão simplesinho e caro, caro, caríssimamente inadquirível, quanto mais simples e despojado (e mal-acabado, e de curta duração), mais assinado e caro, o horror, e eu quero apenas TUDO o que tem lá dentro mas no momento há outras necessidades muito mais prioritárias na fila, se me entendem.
caso clássico de salivação incontida, cobiça e olho grande, tivesse eu agora um desejo gravídico e meu improvável filho nasceria no mínimo com cara de pufe-cubo laranja de 99 reais.

segunda-feira, 24 de maio de 2004

sabe quando a gente atravessa uma espécie de fronteira interna, e fica olhando de longe, muito satisfeita de ter deixado o que ficou pra trás?
é o reconhecimento de alguma mudança demorada, trabalhada, esperada, bem acabada.
mas lá pra frente, sei lá. melhor não cutucar muito pra não acordar antes da hora.

domingo, 23 de maio de 2004

i see dead people, que voltas o mundo dá.
eis que por motivos práticos somos novamente um grupo (ou pelo menos frequentamos os mesmos álbuns de fotografias).
a gente devia sempre prestar muita atenção no que é importante na nossa vida, não é? a importância pode vir de tanta coisa, detalhes tão pequenos.
ah bruta flor do querer, ah bruta flor bruta flor
partida
pronto
pranto preto
pétreo presente
prático pórtico
petrópolis
patrício patrimônio
prato partido
prostrada prata
patada
pútrida protuberância

(que mané poesia concreta, é o som, apenas o som).
metapostagem do dia:
acho que você nunca notou. mas entre as manias que eu tenho, há esta de esconder ovinhos de páscoa por aqui sem avisar.
e eu que já me diverti fazendo links e textos invisíveis, de vez em quando boto uns links póstumos em posts antigos (como neste aqui, onde taquei progressivamente um monte de buracos-de-verme nos emoticons, já faz um tempinho). mas leitores de blog tinham que ser muito curiosos mesmo pra procurar trecos assim no escuro e encontrar por acaso numa visita a mais.
ou tinham que ter manias semelhantes, sei lá.
depois que eu soube de várias fontes seguras que nem tinham reparado em tanta sutileza, recuperei alguns links mais ostensivamente, como os de hoje. mas nem tudo é pra ser repetido, deixa lá.
então é isto, só estou comunicando pras mentes curiosas-mesmo que os posts continuam vivos (e podem ser, inclusive, refeitos ou deletados, ou abandonados pra sempre sem correções quando muito precisavam delas, porque não faço cerimônia neste espaço) enquanto não caírem no Grande Saco dos arquivos.
só pro caso de você se interessar por surpresinhas bobas (mas agora não tem nenhuma não, tou com uma preguiiiiiiiça).
enquanto mochileira das galáxias sem guia de viagem nem sequer 30 dólares altairenses pra começar a conhecer as maravilhas do universo exterior ao meu planeta natal, eu te conto que aqui mesmo existem uns recantos maneiros que valem o tempo dispendido e o esforço de alcançá-los sem transporte apropriado (nem mesmo uma poderosa moto de 1939), porém há que se ter ganas de aventura, curiosidade pelo desconhecido, paixão pelo inesperado e algumas roupas sobressalentes.
é sol, é sal, é sul.

quarta-feira, 19 de maio de 2004

I read the news today oh, boy

todos lêem jornais, né mesmo? e assistem noticiários na tv, ouvem no rádio e acompanham todos os acontecimentos do mundo pela internet. inclusive os profissionais da imprensa ou quem é ele mesmo a notícia, ou participante dela (excluindo vítimas fatais, incapacitados ou eremitas, obviamente).

sim, eu também sei o que está acontecendo por aí, e tenho reações e opiniões e palpites e vômitos e pesadelos e ataques de riso ou de solidariedade ou ganas assassinas, eu sou normal.

é que, por mais que a impotência pras mudanças até estimule o alheamento, a sensação de não ter nada com isso, o "que se foda, e daí?", mesmo resistindo a gente acaba se envolvendo com a manutenção do planeta de onde é inquilino, por motivos egoísticos de sobrevivência.

mas ao saber das notícias, o que eu tenho sentido mais do que tudo, mais do que seria aconselhável para a manutenção da ilusão cidadã é uma sensação de espectadora impedida de ver de perto, de aplaudir ou vaiar. uma distância extraterrestre.

e a inutilidade da opinião além do desabafo catártico, a ação sem alcance.

sabe, eu nunca quis carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim, não partilhei dos sonhos hippies de comunidades alternativas fechadas e não viveria nem em cidade pequena, gosto da muvuca metropolitana. mas de vez em quando me parece tudo tão inútil, dos objetivos de longo prazo à maioria dos rituais adotados, por obrigação ou costume, nessa vida social que já veio malhada antes d'eu nascer.

quero isso não, obrigada.

esta exposição cotidiana à violência, tão incontrolável, violência física e psíquica, violência da intolerância absurda e desses valores aí que não são meus mas me cobram, tenho que viver me explicando como se devedora fosse? tenho que me submeter a umas regras insanas pra viver pacificamente?

bem, não devia, nesta altura da vida. mas acabo tendo.

falam muito das ditaduras cerceadoras de liberdade, mas juro que não tem tanta diferença na parte da autonomia individual quando um banco manda na sua vida, ou uma empresa de petróleo, ou um consórcio estrangeiro formado para o controle das águas potáveis, energia ou sementes do lugar onde você habita. ou quando uns políticos acabam com o futuro dos TEUS pimpolhos numa depositada básica e relâmpiga dos dólares da educação e saúde nas contas da Suíça.

nosso 1984 e a homogeneidade forçada pela hegemonia, o "consenso" consentido por preguiça e as discordâncias virando "ignorância" ou "rebeldia maligna". como nas ditaduras oficiais, só que nos tempos atuais a polícia é só um braço firme da "Justiça".

(pois é, né? que mania de dar opinião inútil.)

e as certezas? quantas certezas, dio mio. quanto absoluto, quanta Verdade Incontestável.

sim, eu sei como digo besteira, e muita.
também erro muito nas minhas avaliações, na minha defesa do que me parecia justo ou no ataque do que me parecia inaceitável e que acabo descobrindo não ser tão simples assim.
erro muito, mas por isso mesmo tenho tentado julgar menos e desconfiar das certezas.
(tentado, né? o que não me impede de estar cada vez mais intolerante com algumas posturas vigilantes e patrulheiras, algumas opiniões definitivas e algumas inofensivas manifestações de imaturidade e manezice, como a pretensão de "superioridade" intelectual dos que acabaram de descobrir que a Terra é redonda, que surpreeesa!)

eu sou normal e cheia de opiniões definitivas absolutas e incontestavelmente verdadeiras.

e acumulo conhecimento para minha diversão e lazer, mas um bom prato cheio de comida bem feita serve muito mais à Humanidade que todo esse saber acadêmico pretensioso em nossas prateleiras.

(ah, liga não, este desabafo catártico sem destinatários alivia a pressão borbulhante das opiniões reprimidas - tenho andado muito calada pra evitar discussões que não valem o esforço, que não mudam nada.
e minhas opiniões andam muito instáveis, e os espinhos do mundo muito ativos, e eu muito sem saco pra estender conversa).

aliás tenho andado muito descrente de qualquer tipo de intervenção individual, até o mais despretensioso, limitado e cotidiano exercício ativo de cidadania. de que adianta reclamar - mesmo educadamente - do lixo jogado no chão, do espertinho fura-fila, do cara que grita no celular no ônibus? se não me atingir diretamente, eu é que não vou me meter. no máximo, aquela cara de tsctsctsc, e chega de interação.
mas também não fico nervosa, me mordendo por dentro e tendo ataques de fígado.

eu só quero é ser feliz e andar tranquilamente na favela onde eu nasci.

quero ser surfista em Manoku do Oeste, ou no Arpoador mesmo.

quero desenhar feito o Jano, viajando com meus bloquinhos pelo mundo cruel e étonnant.

quero viajar nas telas, ouvir música em fones de ouvido e ignorar, ignorar com afinco e militância ignorativa o que me faz mal. alienação já.

quero curar minhas feridas todas todas todas totalmente.

quero boas notícias, e pra mim no momento há um tipo de boa notícia que ultrapassa todos os outros tipos.

meu amor, cadê você?
vamos pra Andromeda construir nossa cabana de titanato de estrôncio na beira do mar de éter.

segunda-feira, 17 de maio de 2004

acho que peguei gripe pelo msn (virus são virus) e soube de fonte confiável que não há hospitais em Manoku do Oeste.*
os pajés, ou feiticeiros, ou o que seja banham os doentes em infusões de ervas daninhas num tanque coletivo e quem piorar com o frio é abatido a tiros pra ajudar a seleção natural, porque a proliferação de fracos e doentes renitentes faz cair a cotação das ações de ervas daninhas curativas no mercado internacional.
________

(*) onde se encontra S trabalhando no momento (hoje não, que tá no tanque).
e sei lá onde fica Manoku do Oeste, mas passa do fim do mundo e não há torres, não há base, as ondas de todo tipo ficam retidas nas montanhas. não há luz elétrica nem civilização sobre rodas, só se chega lá nadando. desviando de tubarões assassinos famintos que comem surfistas.
e lá chegando, os nativos te recebem com flores, danças sensuais e beberagens exóticas e vasculham seus bolsos pra não deixar entrar nenhum resquício de capitalismo selvagem que possa contaminar a pura sociedade primitiva preservada. confiscam cheques, dólares, euros, cartões, comprovantes de depósito em paraísos fiscais, tudo.
_________

pp: ah sim, esqueci de explicar o funcionamento do msn numa terra sem computadores: vai-se pra boca do vulcão (em atividade moderada) e de lá transmitem-se os sinais de fumaça de longo alcance (sinais binários de fumaça) até o centro urbano mais próximo, na Tailândia, onde são digitalizados e enviados ao destinatário. a resposta segue o caminho inverso. demora um pouco mais que o normal, mas tudo bem, melhor que nada. as cartas levavam anos atravessando mares nos botes.

tatu
tubi ornotubi?
você sabe, eu não acredito em horóscopo. (sempre digo isto, seguido de alguma coisa lida num horóscopo de jornal vagaba qualquer).
mas é que os conselhos gerais amplos abrangentes dos horóscopos podem ser aquele toque que faltava, naquele momento específico. a luzinha que acende na hora certa, um pequeno impulso pra dar coragem. um textinho que parece escrito só pra você, seja você quem for, pelos astros alfabetizados.
por isso, quando leio, não leio só o meu signo, leio vizinhos, ascendente, lua e estrelinhas. tudo. reflexões prontas express sobre a vida diária, pra quem não tem tempo de fabricar os próprios clichês.
mas não é que de vez em quando ajuda? comprei um apartamento assim.
já tinha tentado negociar, desistido por causa do preço, a proprietária não aceitava o meu como parte do pagamento e não ia dar tempo de vender, tudo encerrado.
mas eu li que devia insistir numa coisa que desejava muito, que tudo daria certo, podia confiar nos céus. li depois de ver no mesmo jornal o anúncio do apartamento, de novo. mas o telefone era outro.
liguei, e tudo se transformou. a proprietária passou a bola prum corretor amigo seu, e minhas condições foram aceitas, e loguinho depois eu tava providenciando a mudança.
acontece.
e já viu dica mais redentora que esta, pra qualquer área e momento da vida, mas especialmente naquele minuto em que as dúvidas assaltantes já te levaram todos os pertences?
"chegou a hora de chutar o balde: não há porquê se submeter a situações humilhantes, em que suas necessidades não são respeitadas e onde não há troca harmoniosa e equilibrada.
seja implacável.
Urano, o céu, te dará cobertura".
(uia. ser implacável é tudo numa hora dessas).
então eu leio, mas não que acredite, entende? é só inspiração.
DESTIERRO

gente de un lado y del otro lado, gente
que ya no vive acá ni allá sino en el puente
de un lado el trabajo y del otro los parientes
y ese cordón de luz que cruza continentes
el puente es de aire;
es incoloro, es transparente
el puente que va desde tu pecho al mío
aunque no te tenga enfrente.

Jorge Drexler

(Segunda-feira, Maio 17, 2004 * 10:48 AM * Ciça Giannetti)

_____________________________________

mas já que você vai lá, tem coisa melhor, dela mesma.
minha cumádi, o cumpádi morreu
vancê agora vai ficar sozinha
mas se vancê arresorvê casá, minha cumádi
não se esqueça, a preferença é minha
....

vamo vamo minha cumádi
vamo agora morrê junto
quero vê cumé qui cabe, minha cumádi
numa cova, dois difunto


ah que saudade eu tava de cantar pra vocês.


*


desiste. que algumas pessoas em que você esbarra pela vida, nem adianta. parece que nasceram com a programação incompleta, uma peça faltando, um erro fatal. não adianta apoio, boas condições de desenvolvimento, oportunidades, boa vontade, elas só vão ligar pros seus próprios monstros criados e alimentados em laboratório, com todo cuidado e perseverança. elas vão usar capacetes de realidade virtual com cineminha dentro, e enxergar o mundo à sua imagem e semelhança. elas vão encher o teu saco até que você perceba que não tem nada a fazer ali, não adianta.
que sigam em paz, na direção do infinito horizonte.


*


falando em horizonte, não tem nada a ver mas lembrei que no outro dia cantava músicas de ninar pro Igor e de repente veio aquela do Chapeuzinho Vermelho:

nós somos os caçadores
e nada nos amedronta
damos mil tiros por dia
matamos feras sem conta
varamos toda a floresta
por vales e cercanias
matamos onças pintadas
pacas, tatus e cotias


caramba, praticamente extinguiram a fauna nacional.
este hino bélico, arrasa-quarteirão, multiassassino de animais é musiquinha de disco infantil tradicionalíssimo e eu nunca tinha percebido como é tão educativa e exemplar para a formação das novas gerações.
mas, pelo menos até agora, todos na família que foram submetidos à experiência de ouvir disquinhos infantis sobreviveram às suas influências malignas. (no que dizem respeito a maus tratos de animais, quero dizer, porque há influências mais difíceis de neutralizar em outras áreas.)


*


e falando em música, ó mais:

adeus Sarita
vou partir para a fronteira
levando minha boiada
para vendê-la na feira
com o dinheiro desta venda
eu vou comprar
mais uma linda fazenda
e contigo me casar

no dia do casamento
vai ter baile a noite inteira
a sanfona vai tocar
esta rancheira
os vaqueiros reunidos
cantarão para nós dois
e nossa felicidade
virá depois



*


caraca, hoje bateu uma saudade da Clarinha. nem preciso de analista pra entender porque.
minha cachorrinha fiel e companheira, sempre junto de mim, sempre.

você vai me seguir
aonde quer que eu vá



*


e encerrando a nossa apresentação desta tarde,

olha benzinho, cuidado com seu resfriado
não tome sereno
não tome gelado
o gin é um veneno
se cuide, benzinho, não beba demais
se guarde para mim
a ausência é um sofrimento
e se tiver um momento
me escreva um carinho
e mande o dinheiro do apartamento
que o senhorio não é como eu
não sabe esperar

o amor é uma agonia
vem de noite, vai de dia
é uma alegria
e de repente uma vontade de chorar

domingo, 16 de maio de 2004

é fantástico o show da vida.
tantas janelas.
pra não dizer que não falei de podres: junto-me ao coro dos descontentes com o novo blogger piorado (se é possível complicar, pra que deixar facinho, né mesmo? sem tortura não é tão divertido.)
"Di-Glauber:
O curta-metragem Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera, somente a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável, em que Glauber Rocha registrou o funeral do pintor Di Cavalcanti, em 1976, pode ser visto depois de 25 anos de proibição. Di-Glauber, que não pode ser exibido no país por ordem da Justiça que acatou pedido da filha adotiva do artista plástico, foi parar na internet graças a uma estratégia de João Rocha, sobrinho do cineasta.
Além de poder assistir ao curta, qualquer um pode fazer o download gratuito de Di-Glauber, nome pelo qual ficou conhecido o filme".
(daqui)

e a metade do valor da obra é este nome impressionante (de "Versos íntimos", do Augusto dos Anjos).
é fim-de-semana-não, mas deixa rolar, que a segunda-feira aparece abrindo as janelas, espantando o bode do quarto porque precisa varrer o chão, espanar os móveis, mudar a roupa de cama, e não quer saber de frescura nenhuma atrasando a vida.

sábado, 15 de maio de 2004

por que são simpáticos os sábados de chuva:
porque a gente pode tomar café da manhã grupal fora de hora na Cafeteria Perfeita; porque a gente pode jantar pipoca e pizza e biscoito polvilho e chocolate; porque a gente sempre torce pela equipe que perde na Guerra do Ferro-Velho e vai montar uma empresa de efeitos especiais pra ficar explodindo coisas que nem os Mythbusters; porque a gente ouve música pra abafar o pianista alucinado e pode redescobrir uns discos velhos; e pode adivinhar os pensamentos dos outros (que deverão usar capacetes de folhas de alumínio Rochedo pra se proteger); porque a gente pode usar meias, botas e casaquinho quentinho fofinho pra variar do calor de sempre; e pode conversar horas sobre símbolos, signos e animais sagrados acebolados com batatas fritas, e vírus que fazem os peixes perder o rumo e nadar em círculos e são transmitidos pra cientistas que não conseguem sair do laboratório, e a supremacia da natação, do boxe tailandês e do sexo tântrico sobre a psicanálise, e tantos outros assuntos relevantes; porque a gente pode cochilar no sofá e perguntar sobre a parte que perdeu do filme, e depois contar a parte que outro cochilante perdeu, porque o filme é praticamente um tratamento anti-insônia; porque a gente pode ver uns desenhos repetidos tão legais inesquecíveis desde a remota infância.
mas tem também aqueles momentos em que chove dentro e não há strokes que consertem.
em que outro lugar do mundo você é submetido a um dvd de show dos rolling stones e em seguida exposto a um dos ramones, enquanto se entope de crepes estonteantes e cerveja com limãozinho dentro?
(coisa mais comum? mas seu bar não tem uma parede dessas!)
yonza
eu sei que não devo, eu sei.
mas não dá vontade de abrir um e-mail de lixo eletrônico que tem como subject isto aqui?
______________________________

¥Î¤»­Ó²Å¸¹¬ÝÀ´¥þ¥@¬É­^¤å¥u­n$199
______________________________

irresistível.

sexta-feira, 14 de maio de 2004

comentários atrasados porque eu tava olhando pro tempo enquanto vocês discutiam aí:

não fui ver os Pixies. já perdi tantas vezes Omelhorshowdaminhavida, pelos motivos mais relevantes ou mais fúteis, que nem esquento.
e se há alguma coisa onde a marca adolescente passa longe dos meus hábitos, é show. não aguento pessoas gritando no meu ouvido, prefiro escutar as músicas. não gosto de bonecos de mola pogando pra cima de mim, de empurração. enfim, se o show me interessa mesmo, estando só ou acompanhada não vejo graça em nada que esteja acontecendo fora do palco, ou que não esteja repercutindo gratificantemente dentro do meu próprio eu individual pessoal e intransferível - divertimentos digressivos só nos intervalos.
mas fiquei com pena de, pela 1738ª vez, não ter conhecido Curitiba.



nebulosa Retângulo Vermelho, a 2.300 anos-luz da Terra (Hubble)
paisagens



ai, essa reação indignada desproporcional e politicamente insensata do Lula, atiçando o fogo do que era fumaça. ai, essa reação indignada das pessoas politicamente sensatas que nunca foram atingidas por indignidades através da imprensa. ai, que difícil é reagir sensatamente quando se está assando no fogo das paixões, políticas ou não.



lá vem mais cota. a correção da exclusão não tinha que começar pelo fim da escolaridade, oras bolas.
deficientes de educação precisam é de cura, de educação de qualidade, pública e gratuita, desde os primeiros anos de vida, democraticamente distribuída pela população e útil para seu futuro de profissionais adultos.
enquanto isso não vem, precisam de bons cursinhos vestibulares digrátis que antes de tudo lhes contem o segredo que os formados já conhecem: diploma não garante emprego, cargo não se consegue por mérito, salário não tem a ver com desempenho, infelizmente, sentimos muito, foi mal aê.



antes que tudo mude, e porque nunca é tarde pra agradecer: Ave, Julio Cesar.



e como vão as coisas por aí? não tenho conversado instantaneamente por meios virtuais, mas eu me lembro de suas existências e peço por vocês em minhas orações. (bem.. se as fizesse, pediria).
mas é que a vida, não sabe? as voltas que o mundo dá, e coisa e tal. afazeres. adesmanchares. arresolveres. aesqueceres. agostares. aempurrares-com-a-barriga. muita realidade analógica pro meu limitado apetite pras realidades.
aí eu pego de repente e leio um monte de blogs de uma vez e é como se trocasse uma idéia, umas figurinhas, um abraço coletivo. saudades. fiquem bem. beijão, té outro dia.

quinta-feira, 13 de maio de 2004

das cartas (3):

é a família reunida em Brasília pro aniversário do meu tio. (S fotografou quase tudo e pra variar censurou a publicação das fotos em que aparece. ai esse pavor de lhe roubarem a alma que não passa).
estas comportadinhas cheias de pose pra posteridade são da câmera dos meus pais, que eu esqueci a minha. se me mandarem outras boas eu repasso ou até boto no blog (depende do nível de autocontrole - ou ou seja, de álcool no sangue - dos fotografados, porque a festa durou um dia inteiro).
não ia a Brasília desde os anos 80, acho. o povo lá gosta da cidade, a primaiada só vem ao Rio em ocasiões especiais, como enterros. só conheci a maioria dos filhos deles agora.
gosto de rever meus cantinhos da infância e adolescência - fui pra lá aos 8 e voltei aos 15 anos - mas aquela é uma cidade, como direi, desnecessária. depois de milênios de ausência ficam te mostrando prédios, aqui é o CPMG, ali é o CEPLAPLAN Norte, lá é o GMFPQP etcetcetc. que tão interessante, isto.
e como em toda província, seus habitantes acham os prédios residenciais do Sudoeste, mais altos que o gabarito original e muito mais apertadinhos (mudanças autorizadas na revisão do Plano Piloto), "mais modernos". caramba, que inversão de tudo.
mas tantos se encontraram naquela vida, há gosto pra qualquer coisa neste vasto diversificado mundo de diós.



pois você sabe que não tenho medida e quero abraçar o mundo com as pernas, como se dizia outroramente. no meu projeto de tese comparava seis países africanos e seus processos de independência política (com e sem aspas), queria dar conta de praticamente um continente, ou da totalidade de formas de descolonização já tentadas.. mas no final venceu a praticidade, porque o dia do ponto final sempre chega, e fiquei só na Guiné-Bissau (mas com extensões eventuais às outras ex-colônias portuguesas sempre que houve oportunidade, pra não perder o costume de estender).


mambo-tango


tem horas em que a mardita derruba sim, mas quoi faire? não sei quanto tempo se aguenta nessas condições extremas de temperatura e pressão, o futuro é insondável e tou candando e agando pra ele no momento. mas o que me salva é ter tanta, mas tanta, mas tanta coisa que me interessa nesta vida, quando vejo o tempo passou e já é dia de ser feliz novamente, rá!



por falar nisso a família está mais pós-graduada, a Lu acaba a tese dela de doutorado e os piripaques estão findos nesta estação. estão voltando as flores, abriremos os salões em breve, das janelas se descortinarão plácidas paisagens e as refeições deixarão de estragar na geladeira.
mas o vizinho pianista infernal continua sua experiência de tortura de massas através da anti-música, demodosquê de vez em quando ainda voam sapatos descontrolados contra as paredes.



é o temor da vala comum da internet, a falta de controle do que é publicado. ele não me deixa dizer nada sobre isto.
mas sabe o que eu acho? que tudo o que é dito, mesmo pessoalmente, foi pro mundo, danou-se, não se tem mesmo mais nenhum controle. é absorvido de qualquer jeito, como saber quem entende (e como entende) o que queremos dizer? comunicação é o reino do ruído, são as caixas pretas das subjetividades tentando trocar sinais sem um código comum, tudo vai ser reinterpretado a partir deste "entendimento" truncado, sempre a história do "telefone sem fio", aquela brincadeira de passar adiante o que foi sussurrado rapidamente no nosso ouvido só pra constatar a distorção da mensagem.
então não se tem controle nunca. que cada um ache o que quiser achar.


Little Mermaid, H.C. Andersen, by E. Dulac (b.1882 - d.1953)


o que acontece mesmo, não se pode saber. mas o que aconteceria, o que talvez aconteça, isto me pertence porque é do domínio da imaginação. então é ali que me espalho, tecendo enredos com aqueles fios de algodão doce e construindo montanhas com pedras de isopor.



o mais impressionante é ver o passado contado pela boca do presente, gente pra quem nada mudou faz mais de meio século, falando da própria vida que também foi a vida dos seus pais e avós - assim é terrivelmente fácil tratar seus depoimentos atuais como História.
e por falar nisso, eu confesso que gostei mais do outro, do mais feliz (tão parecido com S, será que todos os nascidos lá por aquelas terras estranhas são assim?)


Rodrigo de la Serna


e você sabe, é inesquecível. pode sumir nas brumas do horizonte, pode mergulhar no magma ou catapultar-se até os limites do universo conhecido que não adianta, é parte da sua vida e sempre será.
uma das coisas mais legais e fundamentais que aprendi nos últimos tempos foi isto, não negar minhas experiências. mas não que me sirvam depois, nem pra tentar repetir, nem pra evitar repetir. é só um modo de ver do que somos capazes, para o bem ou para o mal, e entender como todo julgamento no fundo é pretensioso e imaturo.



mas nos intervalos entre idas e vindas tá tudo diferente, como uma rotina de mulher de piloto: como está o tempo aí em Honokuku? e Pirilampênia do Norte, tá mais desenvolvida? ah que lindo, então você me trouxe um potinho de neve de Los Glaciares, meu bem? pena que derreteu.
nada é difícil demais pra Poliana Maria, você não sabe disso?


foto do Taperouge


não achei irresponsabilidade não, achei uma decisão de muita coragem e amor pela vida.
não há o que derrube esta vontade quando ela surge, e eu acho que quem deseja muito faz melhor, com mais cuidado, com dedicação total, é a maior criação da sua vida e é irreversível, você tira forças lá de dentro pra se superar e surpreender o mundo.
e ninguém tem que dar palpite, a gente só tem que desejar muito sucesso nesta empreitada, e confiar que tudo vá dar certo, de agora até sempre sempre e sempre.