quinta-feira, 13 de maio de 2004

das cartas (3):

é a família reunida em Brasília pro aniversário do meu tio. (S fotografou quase tudo e pra variar censurou a publicação das fotos em que aparece. ai esse pavor de lhe roubarem a alma que não passa).
estas comportadinhas cheias de pose pra posteridade são da câmera dos meus pais, que eu esqueci a minha. se me mandarem outras boas eu repasso ou até boto no blog (depende do nível de autocontrole - ou ou seja, de álcool no sangue - dos fotografados, porque a festa durou um dia inteiro).
não ia a Brasília desde os anos 80, acho. o povo lá gosta da cidade, a primaiada só vem ao Rio em ocasiões especiais, como enterros. só conheci a maioria dos filhos deles agora.
gosto de rever meus cantinhos da infância e adolescência - fui pra lá aos 8 e voltei aos 15 anos - mas aquela é uma cidade, como direi, desnecessária. depois de milênios de ausência ficam te mostrando prédios, aqui é o CPMG, ali é o CEPLAPLAN Norte, lá é o GMFPQP etcetcetc. que tão interessante, isto.
e como em toda província, seus habitantes acham os prédios residenciais do Sudoeste, mais altos que o gabarito original e muito mais apertadinhos (mudanças autorizadas na revisão do Plano Piloto), "mais modernos". caramba, que inversão de tudo.
mas tantos se encontraram naquela vida, há gosto pra qualquer coisa neste vasto diversificado mundo de diós.



pois você sabe que não tenho medida e quero abraçar o mundo com as pernas, como se dizia outroramente. no meu projeto de tese comparava seis países africanos e seus processos de independência política (com e sem aspas), queria dar conta de praticamente um continente, ou da totalidade de formas de descolonização já tentadas.. mas no final venceu a praticidade, porque o dia do ponto final sempre chega, e fiquei só na Guiné-Bissau (mas com extensões eventuais às outras ex-colônias portuguesas sempre que houve oportunidade, pra não perder o costume de estender).


mambo-tango


tem horas em que a mardita derruba sim, mas quoi faire? não sei quanto tempo se aguenta nessas condições extremas de temperatura e pressão, o futuro é insondável e tou candando e agando pra ele no momento. mas o que me salva é ter tanta, mas tanta, mas tanta coisa que me interessa nesta vida, quando vejo o tempo passou e já é dia de ser feliz novamente, rá!



por falar nisso a família está mais pós-graduada, a Lu acaba a tese dela de doutorado e os piripaques estão findos nesta estação. estão voltando as flores, abriremos os salões em breve, das janelas se descortinarão plácidas paisagens e as refeições deixarão de estragar na geladeira.
mas o vizinho pianista infernal continua sua experiência de tortura de massas através da anti-música, demodosquê de vez em quando ainda voam sapatos descontrolados contra as paredes.



é o temor da vala comum da internet, a falta de controle do que é publicado. ele não me deixa dizer nada sobre isto.
mas sabe o que eu acho? que tudo o que é dito, mesmo pessoalmente, foi pro mundo, danou-se, não se tem mesmo mais nenhum controle. é absorvido de qualquer jeito, como saber quem entende (e como entende) o que queremos dizer? comunicação é o reino do ruído, são as caixas pretas das subjetividades tentando trocar sinais sem um código comum, tudo vai ser reinterpretado a partir deste "entendimento" truncado, sempre a história do "telefone sem fio", aquela brincadeira de passar adiante o que foi sussurrado rapidamente no nosso ouvido só pra constatar a distorção da mensagem.
então não se tem controle nunca. que cada um ache o que quiser achar.


Little Mermaid, H.C. Andersen, by E. Dulac (b.1882 - d.1953)


o que acontece mesmo, não se pode saber. mas o que aconteceria, o que talvez aconteça, isto me pertence porque é do domínio da imaginação. então é ali que me espalho, tecendo enredos com aqueles fios de algodão doce e construindo montanhas com pedras de isopor.



o mais impressionante é ver o passado contado pela boca do presente, gente pra quem nada mudou faz mais de meio século, falando da própria vida que também foi a vida dos seus pais e avós - assim é terrivelmente fácil tratar seus depoimentos atuais como História.
e por falar nisso, eu confesso que gostei mais do outro, do mais feliz (tão parecido com S, será que todos os nascidos lá por aquelas terras estranhas são assim?)


Rodrigo de la Serna


e você sabe, é inesquecível. pode sumir nas brumas do horizonte, pode mergulhar no magma ou catapultar-se até os limites do universo conhecido que não adianta, é parte da sua vida e sempre será.
uma das coisas mais legais e fundamentais que aprendi nos últimos tempos foi isto, não negar minhas experiências. mas não que me sirvam depois, nem pra tentar repetir, nem pra evitar repetir. é só um modo de ver do que somos capazes, para o bem ou para o mal, e entender como todo julgamento no fundo é pretensioso e imaturo.



mas nos intervalos entre idas e vindas tá tudo diferente, como uma rotina de mulher de piloto: como está o tempo aí em Honokuku? e Pirilampênia do Norte, tá mais desenvolvida? ah que lindo, então você me trouxe um potinho de neve de Los Glaciares, meu bem? pena que derreteu.
nada é difícil demais pra Poliana Maria, você não sabe disso?


foto do Taperouge


não achei irresponsabilidade não, achei uma decisão de muita coragem e amor pela vida.
não há o que derrube esta vontade quando ela surge, e eu acho que quem deseja muito faz melhor, com mais cuidado, com dedicação total, é a maior criação da sua vida e é irreversível, você tira forças lá de dentro pra se superar e surpreender o mundo.
e ninguém tem que dar palpite, a gente só tem que desejar muito sucesso nesta empreitada, e confiar que tudo vá dar certo, de agora até sempre sempre e sempre.

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