terça-feira, 30 de dezembro de 2003

recuerdos de 2003:

foi o ano de uma nota só, marcado, registrado e carimbado do primeiro ao último dia, e arrisco a dizer, quase as 24 horas de cada um desses dias.

com aqueles ferros em brasa de gado, sabe? mas nas circunvoluções cerebrais.

o ano da fome, da sede, da falta de noção, da falta. perdida no deserto, vagando entre miragens e achando tudo normal.

pior: achando tudo bem assim mesmo.
pioríssimo: achando que ia melhorar.

e agora? agora nada. toca a comer areia pra ver se passa.



não quis fazer balanços, promessas, pedidos nem listas de nenhum tipo este fim de ano, o que morreu morreu e o que vai nascer ninguém sabe. tou de saco cheio de esperanças inconvenientes, desejos cegos, projetos absurdos, previsões otimistas e suas conseqüentes frustrações sucessivas.
mas vai daí que sempre que tou aqui fazendo hora (pra me divertir, acredite.. eu consigo), já sabe: a maldição dos Últimos Dias ataca novamente. então deixa ela.
o que foi, o que não foi, o que devia ter sido e o que não devia mas agora é tarde.
toda resolução de ano novo é inútil, mas no meu caso, em 2003 toda resolução foi inútil.
então não mais resoluções, planos e avaliações antecipadas, não mais a mania de tentar entender o que se passa e/ou adivinhar futuros (o que também é uma resolução, mas esta pode).
começar de novo e contar comigo, não deve ser tão difícil assim.


feliz ano livre.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Clarinha

minha almofadinha foi embora.
foi aos pouquinhos, cada dia menos, menos, menos, sumindo, encolhendo, tão pequenininha (e era um trator).
obrigada pelos 15 anos que passamos juntas.


quantos fins.


fúria solar.


e lacunas espalhadas pelo terreno, como minas de guerra. se você cai ali, vai parar em dimensões paralelas onde só há vácuo e suspensão do ser, do estar e do haver.



blue moon, de noite todos os gatos são blues e todos os blues são pardos.



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da série (escolar) redações inesquecíveis:

Como passei minhas férias

Dormindo e escutando rádio.

ass. P. G.

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esta cidade está ocupada. os lugares estão reservados, os espaços estão lotados, os caminhos obstruídos e ninguém sabe nada.
por precaução fechei os meus recantos secretos, disfarcei tudo com galhos e folhas espalhadas por cima e entortei as placas de direção pro outro lado.
até a volta. de todos nós.



nesses shows ao ar livre:
ninguém pede pra desligar o celular.
ninguém sabe quem é que tá lá no palco, mas sabe que no isopor ali perto do posto tem cerveja 50 centavos mais barata.
ninguém sabe onde vai parar quando entra num trenzinho que abre caminho na multidão.
ninguém entende o que aquele cara punk da faculdade tá fazendo aqui.
ninguém pede licença e ninguém escapa de cotovelada.
ninguém presta atenção no show, mas quem se importa?



falando nisso, faz tempo que eu penso em tecer comentários sobre mpb-filhos-da-trama e depois desisto, de pura falta de saco.
não é só Maria Rita, mas neste específico caso me parece que o público deslumbrado é tão "culpado" quanto a mídia, quando compara o que não tem a menor chance de comparação.
ah, qualquer dia talvez eu fale sobre isso. mas acho que não.



de repente aparece outra voando alegremente em círculos, tão verdinha com seu olhar confiante, uma que escapou.
aí você vai e pica, tritura, esmigalha, mói, passa o trator por cima, amassa, dissolve no ácido, queima os restos e sopra.
não sobra nem um tico pra fazer uma barata feliz.
agora pode dormir em paz.



preciso de uma bóia em bom estado.



ou de dois litros de sorvete de chocolate com pedaços de chocolate.



a impotência é uma merda.



"e no silêncio mentiroso, tão zeloso dos enganos
há de ser pura como o grito mais profano"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

apesar de meu endereço ser numa das ruas mais movimentadas de um bairro super movimentado de uma cidade que é só movimento, moro num prédio calmo, tranqüilo e silencioso. um dia explico melhor tal fenômeno, agora só é importante saber que QUALQUER ruído na vizinhança é ouvido, já que ruídos sobressaem nos lugares silenciosos e atraem nossa atenção.
numa situação assim, a qualidade dos vizinhos é fundamental. e tenho sorte, fora aquele pianista desgraçado só há mais um ser que incomoda com certa freqüência, e bem menos que o limiar da paciência de um cidadão de bem (limiar este só atingido e ultrapassado pelo cundenado pianista que matarei um dia desses).
mas o que incomoda no tal outro(a) vizinho(a) é mais o conteúdo que o nível de ruído: ele, ou ela, chora. muito, muito, muito. gemendo, falando alguma coisa espremida no meio do pranto.
ouvir alguém chorando é muito aflitivo.
pensei que fosse uma criança ou adolescente, me disseram que é uma "mulher maluca", não dá pra saber. também não dá pra ajudar. a impotência é uma merda, pior que a inveja.
grandes cidades são assim, com essa participação involuntária na intimidade alheia (é pior que blog, não é? por ser involuntária). você ouve alguém sofrendo pertinho e não localiza, não pode fazer nada, e aos poucos vai se acostumando com aquele choro e desligando, abafando, ignorando, como se fosse o som de um programa de tv.
caraca.



sonha alto, faz um pedido, parte a taça no chão.
feliz ano de novo, de novo, de novo, ah de novo não!



suspeitava desde o princípio:
nunca quis ver Harry Potter nem Senhor dos Anéis, não simpatizo com o estilo. Mas veio parar dentro da minha casa o Senhor dos Anéis 2, eu tava ali de bobeira, tijelona de pipoca e tal, aí a curiosidade não me deixa continuar dizendo que não vi e não gostei.
agora eu vi e não gostei.
(o Gollum não lembra um pouco o Steve Buscemi? eu achei.
e o Aragorn, que poderia ter saído de qualquer banda dos 70, é a cara do P. :)



é pau, é pedra

a última cena de Pierrot le Fou. (a última que me lembro, não sei se a verdadeira última).
a dinamite amarrada na cabeça.
é a cabeça que importa, BUUUM e pronto, não sobram nem cinzas. é bem assim.
the end de verdade.



oooooooooooooooooooooooooooooooooooc (o elo partido da corrente)



pronto. tou pronta. podemos ir.



muita calma pra pensar
e ter tempo pra sonhar
da janela vê-se o corcovado, o redentor, que lindo
quero a vida sempre assim



a casa tá fechada e o rio ruge.
raios, sombras na parede, lama, mas não faz mal. perdi todo o medo.
me roda no ar mais uma vez?

quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

reflexões óbvias porém sinceras brotadas da mais profunda e inevitável ressaca de natal:

eu gosto muito de novidade. e nesta época de recomeço a gente sempre dá de cara com os estímulos à reciclagem, à mudança. mude. mude sua aparência. mude seus hábitos. procure o novo. novo trabalho, novo amor, novo endereço, novas atividades, novas diversões.
então tá. mas só pra lembrar: o que você quer? o que te serve? o que te completa? o que te desperta, o que te mobiliza, o que te interessa, o que te atrai?
novidade é legal, viva a novidade, não só nos inícios de ano mas o tempo todo. não se cristalizar, não virar estátua, estar sempre experimentando algum treco nunca dantes navegado. mas não assim qualquer coisa que passa e pá, vamos lá. não sei, mas essa busca ansiosa pela novidade me parece muito semelhante à busca aflitiva pelo prazer a qualquer custo, aquele obrigatório, que quem não tem finge que esbanja e cobra igual desempenho do vizinho.
sei lá, mas mudança, novidade pode ser viver diferente dos manuais de felicidade que tentam nos fazer engolir.

*


o que pode acontecer de mais... irritante? incoveniente? desmoralizante? do que, em plena atividade de embrulhar os presentes natalinos, perceber que acabou a fita durex? que o restinho de cola secou e tá imprestável, e sua imprevidência juntou a falta de reservas com o horário impróprio, claro (são cinco da tarde do dia 24 e o comércio já fechou).
aí você, criativa que só, recorta uma etiqueta (só sobrou uma) em pedacinhos minúsculos e enfeita os embrulhos de quadradinhos brancos, uma gracinha.
ai deus, me faz eficiente como uma secretária executiva em outra encarnação.

*


já reparou que quanto mais se valoriza a própria liberdade, mais se corre o risco de ser trancafiado, podado e limitado por quem tem medo dela?

*


não me arrependo.
se há uma coisa que tem movimentado a macarronada dos meus pensamentos na grande panela cerebral, e desembaraçado alguns fios, é a convicção deste não me arrepender.
chega de censura prévia, censura dos fatos consumados - enfim, censuras - e de explicações.
às vezes a razão só serve pra se arranjar desculpas póstumas.
eu sempre quis entender por que. pra que. de que jeito. entender e logo explicar bem explicadinho pra não haver mal entendido, nem dúvida, nem desconfiança, nem erro, nem repetição dos problemas. nem críticas infundadas.
quanta bobagem.
eu sei tudo. me pergunte que eu digo. ensino, desdobro e disseco e classifico.
cada vez entendo mais que nada disso adianta, tem outro caminho mais rápido, mais eficaz, mais irreversível, ou quase, onde a vontade razoável é vencida por outra espécie de vontade muito mais poderosa e íntima.
e os erros, as más interpretações, não há explicação que possa evitar. críticas alheias, também não.
me arrepender por que? eu sempre faço o que posso. eu tento, nunca deixo pra lá. só desisto depois de experimentar por todos os lados. e me corrijo, volto atrás, procuro consertar o que arrebentei, mas é difícil reconhecer os obstáculos intransponíveis, as impossibilidades.
quem pode me provar que estou errada? é a minha vida, são meus interesses, eu sei o que me importa.
sem arrependimentos, então.
e sem muitas lições também, nem toda experiência serve pra situações posteriores.
da próxima vez, se vê na hora.

*


não se engane comigo. eu sou um ser muito sensível, muito mesmo. daqueles que quebram. o fato de catar e colar os caquinhos e tentar pensar em outra coisa é mero detalhe da disposição poliânica, mas não gosto de cair e quebrar só pra provar que posso colar os caquinhos novamente.

*


aí, craro, descobriram isto pra estragar a festa:
mas tirando meu pai, quem precisa de argumentos científicos numa hora dessas?

*


eu adoro ser mulher, sabe? simplesmente fui feita pra isso, se nascesse homem seria viadaça com muita honra.

*


então, em 2004 sei lá.
vamo quebrá tudo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2003

*

se você se acha impotente pra lutar sozinho contra o que tenta te esmagar todo dia, te transformar numa massa amorfa pastosa sem vontade nem direção, é porque é impotente mesmo.
o segredo é não lutar sozinho.
isto se você quer mudar o rumo dessa prosa.
mas a grande diferença de enfoque dos anos rebeldes d'antanho pra cá foi a mudança do "enfrentar" pro "escapar".
ninguém que pretenda ser algo mais que um corpo em movimento quer se submeter à sufocação massiva planejada, quer essas regras que não decidimos, quer esses objetivos de vida que o Monstro Devorador das individualidades, o tal "sistema sócio-econômico" estabelece com seus critérios e pros seus interesses através da mídia, a mãe de todas as consciências.
o "sistema", não é uma força da natureza, inexorável como um trovão, mas ele se reorganiza e se aperfeiçoa a cada ameaça de perda de poder, demodosque a gente, os indivíduos com interesses de pequeno alcance e particulares, estamos sempre em desvantagem.
mas escapar do Grande Plano concebido pras nossas vidas, isso dá pra encarar sozinho, com algumas ressalvas.
pode-se escapar pela rebeldia do murro em ponta de faca até estourar as mãos, pela loucura, pela subversão hacker desaparafusando e minando a longo prazo e um pouquinho pela arte independente (!) do mercado (pura marginalidade, no sentido clássico).
escapar assim não é garantido, os loucos e marginais de todo tipo são perseguidos, enjaulados, "neutralizados" ou morrem muito cedo.
mas também dá pra tentar a invenção de novos espaços, campos de ação, formas alternativas de inserção (aí já não é escapar, é tentar usar a força da onda a seu favor e não contra, ganhar a vida como surfista).
não é fácil, mas de vez em quando alguém descobre constrói o caminho das pedras e logo é seguido pela multidão de imitadores, inaugurando novas dependências (um puxadinho) na megaconstrução social existente.
pois é, neste ano que vem aí eu quero ver dar certo um monte de puxadinhos milimetricamente planejados.

*


talvez não seja preciso nenhum Grande Sentido, basta o dia-a-dia que dê vontade de acordar no outro dia.

*


por que nesta época, por mais que a gente resista, acaba sucumbindo aos vírus das avaliações e dos planos? que saco.

*
y qué pasó?

tudo anda assim tão, mas tão, mas tanto que nem te conto.

*

RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummond de Andrade)

"Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)

Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? Passa telegramas?).

Não precisa fazer listas de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
A partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano-Novo que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo,
Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano-Novo cochila e espera desde sempre."

*


conheça o mundo que te cerca.

1- e-forró: gerador zero (), indescritível, inclassificável, incrível (no peepshow na cavídeo encerrou com el mamut, mas no fundo no fundo é uma banda..hmm..séria), exposta à apreciação nesta galáxia. aproveitemos pois.


2- sebo Luzes da Cidade, no Espaço Unibanco (Rua Voluntários da Pátria, 35 - Botafogo):
livros, discos/cds, cartões, objetinhos e objetões maravilhosos.
quando quiser me dar um presente, favor considerar o local como uma das opções prioritárias. brigada.

*


não sei se acontece só comigo, mas acho que essas reportagens de segundos cadernos sobre corpo-e-mente-em-sintonia-por-uma-vida-mais-feliz-equilibrada-e-saudável fazem mal à saúde.

*


valiosas dicas anti-pitis(*) da vida moderna: como cancelar cartões, cheques e pedir segunda via de documentos .
(*) ou melhor, pós-pitis. o piti nesses casos é inevitável, depois você providencia a solução. ou viva sem issos, se puder.

*


albergue espanhol
dos filmes que vi este ano, um dos preferidos foi o Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole) .
é daqueles que dá vontade de ficar lá assistindo, assistindo, não precisava acabar. (aliás, o fim é meio assim, deve ter sido chato ser obrigado a inventar algum fim).
Cédric Klapisch é também o diretor d'O Gato Sumiu (Chacun Cherche son Chat) , um dos filmes mais simpáticos que eu já tinha visto (você sabe, filme simpático não dá pra definir, só vendo. e achando).
mas este é mais simpático ainda (obviamente elegi o Cédric K. o meu diretor de filmes simpáticos preferido desta semana), porque me deu saudades de tudo, entende?
ah, claro que não, mas não precisa.

*


então alguém diz sábias palavras encorajadoras.
não funciona.
o que encoraja são palavras doces.

*


Janela aberta para o universo invisível
imagens do novo supertelescópio espacial infravermelho da Nasa
galáxia em espiral, M81  o Spitzer pode registrar imagens através da poeira espacial que a luz visível ao olho humano não consegue atravessar.
berçários de estrelas, onde os corpos celestes surgem no espaço.  neste berçário as estrelas se formam a partir de vastas nuvens de gás e poeira cósmica.

(tão lindo isso, berçário de estrelas, poeira cósmica, espiral de galáxia. poemas espaciais no espectro invisível).

*


a vida da gente também contém a vida de quem se ama. e quando tudo está por um fio, desencapado e quase rompido, a gente segura as pontas, tenta dar um nó, serve de extensão, de transmissor de corrente, do que precisar.
não é o outro que a gente tá tentando salvar, é a si mesma.
minha almofadinha de segurança.

*


"Contam os antigos que no inverno mais rigoroso da Islândia, algo em torno de 40 graus abaixo de zero, a comunicação entre as pessoas andava bastante truncada. Contam que um casal, certa vez, numa cabana gélida, tentava conversar, mas as palavras saíam de suas bocas e se condensavam no ar. Contam que eles tinham de pegá-las ainda cristalizadas, fritá-las em óleo fervendo e comê-las. Só assim, no íntimo contato com a língua e as papilas, podiam saber o que elas significavam".
(Miniconto 1, Furio Lonza, 15/12/2003 )

*


Roxy
não restará prédio sobre prédio, fachada sobre fachada, história sobre história, memória sobre memória neste bairro reformado.

mas...
"o que passou, passou.
o mundo gira depressa
e nessas voltas eu vou"

*


terceiro mundo, né? quase sempre a gente trabalhou na precariedade. por falta de grana, de material adequado (conseqüência da primeira causa), de empresas mais profissionais (que dessem a devida atenção à segunda), de urgência do prazo (conseqüência da falta de planejamento, isto é, da terceira causa), de mil outros fatores semelhantes.
tem-se que improvisar, inventar, se virar.
no fim das contas foi bom, sabemos tirar leite de pedra se preciso for.
mas de repente você tem a impressão de que todas as pedras já são ordenhadas industrialmente e sugadas estudadamente até o bagaço, e o leite foi patenteado pelos japoneses e tem a distribuição controlada, fiscalizada e apropriada pelos órgãos competentes, e o que são os inventores independentes no cenário da livre concorrência justa entre as megaempresas que zelam pelo nosso bem? são criadores cheios de charme com os bolsos vermelhos de dívidas, tentando tirar leite de.. de... ah, naquele poste ali ninguém mexeu ainda.
(mas pensando bem, eu posso até aceitar ser apenas uma peça da engrenagem capitalista em troca de salário compatível com o enorme sacrifício da minha liberdade).

*


de colo, quem não precisa?
mas dor não é show, não tem que servir de pasto pra ninguém.
nem de isca.

*

um passinho à frente, faz favor.

*

sejam felizes. não é um desejo, é um conselho. não é pra tentar, é pra pegar ou largar.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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abobrinhas da estação:

quer falir em tempo recorde? no verão do Rio inaugure qualquer negócio sem ar condicionado.

*

por que parece tão difícil combinar a produção de trabalhos bons, úteis e gratificantes & a sobrevivência ganhando adequadamente por eles?
ahhh, porque faltou definir os termos "bom", "útil", "gratificante", "sobrevivência" e "adequadamente".

*

você deita na areia, fecha os olhos e sonha um pouco. desperta quando uma sombra pára sobre você. de pé na sua frente um cara assim... impressionante, tão perto que além de tapar o seu sol está pingando água fria sobre o seu corpo quente. incomodando, claro. mas ai.
toda a sua vida futura passa diante de seus olhos num segundo mas você só diz dá licença? e fecha os olhos de novo.

*

verão, veremos.

*

dizia aquela sábia pessoa: antes de sair criticando todo mundo, olhe o próprio rabo.
sempre esquecemos, né?
não se trata de abolir o senso crítico nem de perdoar o imperdoável, mas se antes de baixar o pau no alheio dicumforça a gente lembrasse pelo menos da dificuldade de aceitar críticas ou correções quando a falha é nossa.. pegar mais leve já seria um adianto.

*

eu tenho uma pick-up 4x4 com prancha de surf no bagageiro do teto e combustível de graça.

(é, é igual sim, mas a minha é bordeaux, cor de vinho chiquérrimo. e eu USO, é claro).


amor eu vou pro Tahiti
viver a vida sobre as ondas
vou ser surfista de cinema
o meu destino é ser star

o vento beija meus cabelos
as ondas lambem minhas pernas
o sol abraça o meu corpo
meu coração canta feliz

*

está aberta a temporada de comemorações, com ou sem motivo.
ou a temporada de pretextos.

*

L diz:
tem inauguração no sábado
L diz:
isso não vai prestar
Hilda diz:
por que?
L diz:
a pessoa não deve se prometer parar de beber no fim do ano
Hilda diz:
ou deve, que assim bebe um pouco menos
Hilda diz:
pelo menos começa mais tarde
Hilda diz:
fica dizendo "não, tou sem beber" durante uns quinze minutos

*

nessas noites de chuva inundante ela é a verdadeira árvore de natal das alagoas.

*

eu vi o zepelim saindo detrás dos prédios da rua da Passagem.
pairando muito alto, lento e majestoso, como uma revelação, um símbolo sagrado.
a impressão que dá é que daqui a pouco vai tocar a música, a trilha sonora da cena.

*

sabe, não tá tudo essas maravilhas, mas a gente tenta botar um pé adiante do outro, dar um impulsinho pra frente, equilibrar pra não cair e sai andando.
me dá muita raiva quando alguém tenta reduzir a alegria conservada a duras penas em ambiente hostil a uma falta de consciência dos males do mundo, a superficialidade e bobeira. eu já nem devia ligar pra isso, não tenho mais que provar o que sou a ninguém que não me interesse. mas ligo, e sinto raiva.
que só dura até que agentes provocadores desatem com seu acervo de bobagens um ataque de riso daqueles.

*

sem medo de ser pleiboa: agora eu possuo vestes e acessórios em VERDE LIMÃO.
(mas não é tão grave, nem chegam a fosforecer).

*

"Você pode se esgueirar por túneis sombrios
florestas petrificadas, pode se esconder no vão da escada
no armário da amante, no buraco da Sara, pode escorrer pelo
ralo da banheira, pode virar barata, lobisomem, camaleão
ou rinoceronte, pode pegar carona com o pássaro Roca
pode até burlar o olho vigilante de Deus.
Mas nunca conseguirá fugir do homem que
lá embaixo, na rua, na tarde ensolarada, grita
Pamonhas Pamonhas Pamonhas
Pamonhas de Piracicaba."

leiam Furio Lonza, estreando coluna!
a internet nunca mais será a mesma!

*

felizes festas, felizes férias, felizes ocupações, felizes obrigações, felizes estresses, felizes programas, felizes correrias, felizes muvucas, felizes encontros, felizes xabus, felizes surpresas, felizes dívidas, felizes dúvidas, feliz ócio, feliz pé na jaca, feliz amnésia, feliz fim de ano.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

acho que vou dar uma voltinha.
mas voltarei.

divirtam-se.
olhando assim parece que foi um ano difícil, não é? mas eu gostei tanto.
e ainda gosto, mesmo assim com este amarguinho na língua, mesmo engasgando na hora de engolir.
isto vai ser sempre meu e ninguém tasca.
queria ganhar a vida inventando recheios de crepes.
ou coberturas de pizzas. ou misturas pra omeletes. recheios de sanduíches.
plantão fiscalizador e provador no local (acompanhado dos acessórios indispensáveis à melhor apreciação do quitute) no mínimo uma vez por semana.
eu se daria bem...
faz um tempinho eu vi Solaris, a segunda versão, em vídeo.
vi a primeira também, no cinema, quando foi lançado o filme, num ano perdido nas brumas do tempo. (gostei mais da primeira, porque na segunda são dadas explicações antes de acontecerem os fatos estranhos, perde-se o mistério).
mas então eu vi Solaris, e ontem sonhei muito parecido. com aquele efeito que não vou contar (embora ache que ninguém viu ou verá o filme), mas foi muito interessante. cuidado com o que você deseja etcetcetc.
falando em Noruega me lembrei de mais um samba-do-crioulo-doido (acho que também era do Sérgio Porto), que terminava assim:
Noruega
Noruega querida
para sempre estarás em meu coração, Noruega
ôô,ôô,ôô
abre alas minha gente que a Noruega chegou
(Noruega ou num é?)

caramba, eu tenho lembrado de cada coisa.
que sol, que dias.
é só tentar abstrair a multidão, o calor, o consumo compulsivo da época, o aumento dos assaltos, os conflitos entre camelôs e polícia, a troca de balas entre o CV e o TC, os contrastes sociais e os turistas e isto aqui vira praticamente um paraíso no verão.
segunda sem lei.

domingo, 14 de dezembro de 2003

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ATENÇÃO! ALTO ÍNDICE DE ACIDENTES
uma placa que puseram na frente do meu prédio.
será que ainda não sabem que eu vendi o carro???
frustrações, quem não tem? esperanças vãs, exageradas, inadequadas, que só podiam acabar em frustrações. promessas não cumpridas, fugas, covardia. falta de noção do que se pode esperar, de quem, quanto, quando, grandes decepções por esperar errado. ilusões, fantasias, forçar a barra pra realizar sonhos pertencentes ao mundo da imaginação da xuxa.
perdas, enganos, erros de interpretação. acreditar no visivelmente inconfiável, apesar de todos os avisos. tentar outra vez, mais uma, mais um pouquinho, até o limite, até o último recurso, pra não se arrepender de não ter feito o possível, mas.
sabe o que me espanta? frustrações passadas não desanimam a gente de querer outra vez, começar de novo, de novamente esperar o máximo, da disposição de tentar quantas vezes achar necessário, de achar que desta vez vai ser diferente.
enfim: sou manoa mas sou feliz, mais mané é quem me diz.
querido papai noel, eu pediria os 33 milhões da mega-sena acumulada mas no momento me basta uma graninha básica sobrante por favor urgente porque eu preciso agora sem falta obrigada valeu.
claro, deve ser muito difícil governar. mas se te elegeram pra mudar as coisas, as dificuldades da mudança não podem ser a desculpa pra deixar tudo como está. nem a desculpa pra afastar quem continua coerentemente pedindo mudanças. nem a desculpa pra ceder aos adversários, abandonar as prioridades e desfigurar as características de seu próprio governo.
enfim, que é difícil mudar todo mundo já sabia. mas se propuseram a fazê-lo, então façam-no, oras.
pois é, a Keiko (free willy) morreu free na Noruega, de pneumonia. claro. Noruega, só podia. ela certamente preferia o México.
e morreu um baleião anônimo, mais free ainda, nas Cagarras. tão bonita, toda listradinha.
a Keiko deve ser enterrada (na terra mesmo...) na Noruega. a outra possivelmente será devorada.
puxa, e eu nunca desconfiei que aquele mendigo da Senhor dos Passos era o Saddam.

sábado, 13 de dezembro de 2003

resoluções de ano novo: não trabalhamos.

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reggae napolitano (!!??), faz tempo que não ouvia tais músicas estranhas.
acho que foi aquele bolinho.

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primeiro foi o ótimo Nove Rainhas () com "il ballo del mattone". depois o maravilhoso Plata Quemada () com "cuore". foi assim que os argentinos (!) me levaram a fazer um arrastão de Rita Pavone no kazaa (nas gravações originais da década de 60, claro, mesmo com aqueles backing vocals insuportáveis, tipo corinho de igreja - uuuuu - nas "românticas". aliás, ô década pras gravadoras enfiarem corinho em qualquer gravação, né? cada coisa nada a ver, estragando tudo em qualquer gênero musical, até Chico Buarque tinha corinho!)
mas ô bregaiada boa, trilha sonora dos amores adolescentes em Brasília (perché non è facile avere 13, 14.. 18 anni), e também responsável por minha primeira amizade-de-Napster, de Firenze, que dura até hoje.
mas tirando a alegria das recordações, é duro ouvir aquilos na frente dos outros sem morrer de vergonha...

*

para pedidos a Papai Noel, disque 2.
no momento todos os nossos ramais estão ocupados.
tente mais tarde.

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aqueles meninos de rua, que aflição, tão pequenininhos soltos pertinho do meio fio, à beira da arena dos monstros-carros búfalos bufantes que tentam abrir passagem à força.
mas eu nunca soube de meninos criados assim que morressem atropelados.

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alguns habitantes desta cidade devem ver mesmo o natal como uma provocação.

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todo dia é dia, toda hora é hora.

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você não imagina o que é caminhar de manhã por aquela rua.
de um lado tem a praia, do outro a Lagoa, mas não falo delas, falo da rua mesmo, das calçadas, das árvores e canteiros, dos prédios com varanda e sem garagem nem elevador, dos bares lavados, dos passarinhos cantantes, da luz daquela rua.
do que me faz tão bem e acerta todos os mecanismos desajustados quando ando por lá.
alguns lugares são assim, surpreendente e despretensiosamente regeneradores.

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é tão óbvio: posso viver com muito pouco, só não tentem me curar da minha polianice em momentos de reunião de forças, é uma questão de customização da sobrevivência emocional.

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um dia ainda vamos rir disso tudo.
mais ainda.

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Crumb
"uma parada muito doida q aconteceu com o Philip K. Dick e foi quadrinizada pelo Crumb" (Marcos).

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pois é, eu tenho um bebê fofo cheio de necessidades ao alcance da mão mas acabo trocando fralda de cachorra freak louca, porque isso ninguém quer.
paciência preciso eu de.

*

tem dias em que eu necessito desta Journey to the stars (man or astroman?) ou quase qualquer Dick Dale, pra ser feliz, sabe? o Tahiti é aqui. ()

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

.
a verdade está lá dentro
tanto esforço pra dar um sentido ao que fazemos, mas entende, dar e não encontrar O Sentido, não há o que descobrir nas entranhas das coisas e acontecimentos, revirando e lendo tripas carregadas de destino.
você escolhe para o que quer viver. escolhe as importâncias, o valor de cada um dos seus atos, pra que vai servir cada movimento seu.
não há atos inúteis e gratuitos. se você escolhe o pequeno, o medíocre, o bobão, vai sabendo que pequenez, mediocridade e bobeira é tudo o que receberá, cada um só dá o que tem. se você deu pérolas aos porcos, foi porque quis, não reclame.
mas a sua verdade, só você é quem sabe. suas necessidades, apoios, complementos, patologias.
quer tentar dar um sentido, vai fundo, sem ligar pra cobranças e padrões alheios, sem medo e sem fingimento.
porque certamente não há de ser com mentiras que você vai encontrar o que procura.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

perdoem a nossa falha, a ausência, a demora e falta de respostas.
tá difícil vir por aqui.
agradecimentos muito contentes (também em nome da Gabriela e do Nando) a todos que enviaram parabéns e desejos de felicidades e boa sorte ao baby Igor e a nós.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Igor
clique pra ver meu neto e a babona family lá no fotoblog
chegada
tarararatchhhhhhhhhii...tchhhhhhh
cessem os silêncios: o Igor chegou.




informo a todos que o mundo foi reinaugurado a partir deste instante e tudo o que estiver errado, quebrado, emperrado, furado terá que ser consertado imediatamente e tudo o que estiver bolado, passado, triste, jururu, maltratado, cansado e acabado terá que ser reanimado o mais rápido possível e o mundo tem que estar limpinho e arrumado sem demora e fica decretada uma espécie de carnaval interno com direito a rir sozinha e cantar alto na rua e fiquem quietinhos pra não me acordar.
Sábado, Abril 26, 2003 6:44 PM ao saber que ele vinha.

(repetindo porque agora ainda não tenho palavras, só amor em estado puro).

quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

arquipélago de Sant'ana, em Macaé - foto de Custódio Coimbra
verão sim, e não por isto, não pelo calor, não pela data que ainda não chegou, mas há evidências mais sutis no ar, no alvoroço das pessoas e no descuido com as obrigações, no lazer fora de hora e na vontade ardendo.
vontade de largar tudo e ir ser Gauguin numa ilha do pacífico, cada vez que você olha pela janela. ou qualquer outra coisa, não importa. é tudo sonho sem compromisso com a realização, é tudo plano a perder de vista, é tudo substituível pelo primeiro programa improvisado ou previsível pra que te convidam no fim da tarde.
hoje na rua era claramente verão, você via nos olhos de quem passava.
pode reparar, o verão chegou.
ontem eu vi o Declínio do Império Americano, afinal.
um dos filmes mais chatos que já assisti em toooooda a minha vida.
caramba, como intelectuais franceses (e colonizados que se acham franceses, como os intelectuais do Quebec) são insuportavelmente pedantes e chatos.
intelectuais pedantes chatos é redundância em qualquer nacionalidade, mas os franceses especialmente, pela arrogância aristocrática (diferente da arrogância troglodita dos políticos, por exemplo) e sua certeza inabalável de superioridade cultural.
e os intelectuais de todas as colônias costumam ser mais insuportavelmente elitistas que seus ídolos da metrópole, para serem aceitos como iguais, mas os das ex-colônias francesas necessitam provar sua nobre estirpe de valor universal para compensar a "falta" de história que realmente conte, a história européia.
e como se pode ser conservador, preconceituoso, sectário e inflexível, não importa que autodefinido como "de esquerda" ou "revolucionário" (eu, por exemplo, com as generalizações indevidas).
oh sim, com muito boa vontade o filme pode ser visto como crítica a esses comportamentos, como denúncia dessas contradições. pode ser visto, se você aguentar ver horas e horas de discursos pretensiosos e muito, mas muito, mas muitíssimo chatos sobre qualquer assunto.


(o ministério do espectador de cinema amador - o espectador, não o cinema - adverte:
1- não estou falando dos pensadores em geral, dos estudiosos que se dedicam à reflexão e análise tão úteis e raras na nossa era do palpite superficial e do improviso, acho que dá pra perceber;
2- já gastei muito tempo da minha vida lendo intelectuais franceses - pedantes ou não - que tinham muito a me dizer. mas não tive que conviver/interagir com eles, graças a deus;
3- gostei bastante d'As Invasões Bárbaras, do mesmo diretor e com os mesmos personagens;
4- esta é uma opinião pessoal, intransferível e totalmente desprovida de intenção e/ou capacidade de influência sobre outras mentes ansiosas pra ver o filme - resumindo, dispensável - mas eu não dispensaria uma oportunidade de emiti-la).

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

I Louve You, 1997
Alain Le Quernec , designer gráfico francês (mais aqui: ).
"A vinda de Le Quernec ao Brasil, a convite dos designers cariocas Barbara Szaniecki e Felipe Taborda, é o primeiro passo de um intercâmbio entre França e Brasil. Intercâmbio que incluirá, no ano que vem, o evento "A França em cartaz", exposição de cem cartazes franceses contemporâneos, palestras e workshops de artistas em Rio, São Paulo e Curitiba, e uma contrapartida, a exposição "Grafismo carioca", trabalhos de 12 designers cariocas no Mois du Graphisme d'Echirolles, exposição anual na cidade francesa, que tem Le Quernec como um dos curadores" .
assisti à palestra ontem, babei com os cartazes, e vou pra Echirolles no ano que vem (sonhar não custa nada, basta não acordar depois).