terça-feira, 23 de dezembro de 2003

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se você se acha impotente pra lutar sozinho contra o que tenta te esmagar todo dia, te transformar numa massa amorfa pastosa sem vontade nem direção, é porque é impotente mesmo.
o segredo é não lutar sozinho.
isto se você quer mudar o rumo dessa prosa.
mas a grande diferença de enfoque dos anos rebeldes d'antanho pra cá foi a mudança do "enfrentar" pro "escapar".
ninguém que pretenda ser algo mais que um corpo em movimento quer se submeter à sufocação massiva planejada, quer essas regras que não decidimos, quer esses objetivos de vida que o Monstro Devorador das individualidades, o tal "sistema sócio-econômico" estabelece com seus critérios e pros seus interesses através da mídia, a mãe de todas as consciências.
o "sistema", não é uma força da natureza, inexorável como um trovão, mas ele se reorganiza e se aperfeiçoa a cada ameaça de perda de poder, demodosque a gente, os indivíduos com interesses de pequeno alcance e particulares, estamos sempre em desvantagem.
mas escapar do Grande Plano concebido pras nossas vidas, isso dá pra encarar sozinho, com algumas ressalvas.
pode-se escapar pela rebeldia do murro em ponta de faca até estourar as mãos, pela loucura, pela subversão hacker desaparafusando e minando a longo prazo e um pouquinho pela arte independente (!) do mercado (pura marginalidade, no sentido clássico).
escapar assim não é garantido, os loucos e marginais de todo tipo são perseguidos, enjaulados, "neutralizados" ou morrem muito cedo.
mas também dá pra tentar a invenção de novos espaços, campos de ação, formas alternativas de inserção (aí já não é escapar, é tentar usar a força da onda a seu favor e não contra, ganhar a vida como surfista).
não é fácil, mas de vez em quando alguém descobre constrói o caminho das pedras e logo é seguido pela multidão de imitadores, inaugurando novas dependências (um puxadinho) na megaconstrução social existente.
pois é, neste ano que vem aí eu quero ver dar certo um monte de puxadinhos milimetricamente planejados.

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talvez não seja preciso nenhum Grande Sentido, basta o dia-a-dia que dê vontade de acordar no outro dia.

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por que nesta época, por mais que a gente resista, acaba sucumbindo aos vírus das avaliações e dos planos? que saco.

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