segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Clarinha

minha almofadinha foi embora.
foi aos pouquinhos, cada dia menos, menos, menos, sumindo, encolhendo, tão pequenininha (e era um trator).
obrigada pelos 15 anos que passamos juntas.


quantos fins.


fúria solar.


e lacunas espalhadas pelo terreno, como minas de guerra. se você cai ali, vai parar em dimensões paralelas onde só há vácuo e suspensão do ser, do estar e do haver.



blue moon, de noite todos os gatos são blues e todos os blues são pardos.



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da série (escolar) redações inesquecíveis:

Como passei minhas férias

Dormindo e escutando rádio.

ass. P. G.

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esta cidade está ocupada. os lugares estão reservados, os espaços estão lotados, os caminhos obstruídos e ninguém sabe nada.
por precaução fechei os meus recantos secretos, disfarcei tudo com galhos e folhas espalhadas por cima e entortei as placas de direção pro outro lado.
até a volta. de todos nós.



nesses shows ao ar livre:
ninguém pede pra desligar o celular.
ninguém sabe quem é que tá lá no palco, mas sabe que no isopor ali perto do posto tem cerveja 50 centavos mais barata.
ninguém sabe onde vai parar quando entra num trenzinho que abre caminho na multidão.
ninguém entende o que aquele cara punk da faculdade tá fazendo aqui.
ninguém pede licença e ninguém escapa de cotovelada.
ninguém presta atenção no show, mas quem se importa?



falando nisso, faz tempo que eu penso em tecer comentários sobre mpb-filhos-da-trama e depois desisto, de pura falta de saco.
não é só Maria Rita, mas neste específico caso me parece que o público deslumbrado é tão "culpado" quanto a mídia, quando compara o que não tem a menor chance de comparação.
ah, qualquer dia talvez eu fale sobre isso. mas acho que não.



de repente aparece outra voando alegremente em círculos, tão verdinha com seu olhar confiante, uma que escapou.
aí você vai e pica, tritura, esmigalha, mói, passa o trator por cima, amassa, dissolve no ácido, queima os restos e sopra.
não sobra nem um tico pra fazer uma barata feliz.
agora pode dormir em paz.



preciso de uma bóia em bom estado.



ou de dois litros de sorvete de chocolate com pedaços de chocolate.



a impotência é uma merda.



"e no silêncio mentiroso, tão zeloso dos enganos
há de ser pura como o grito mais profano"

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