quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

reflexões óbvias porém sinceras brotadas da mais profunda e inevitável ressaca de natal:

eu gosto muito de novidade. e nesta época de recomeço a gente sempre dá de cara com os estímulos à reciclagem, à mudança. mude. mude sua aparência. mude seus hábitos. procure o novo. novo trabalho, novo amor, novo endereço, novas atividades, novas diversões.
então tá. mas só pra lembrar: o que você quer? o que te serve? o que te completa? o que te desperta, o que te mobiliza, o que te interessa, o que te atrai?
novidade é legal, viva a novidade, não só nos inícios de ano mas o tempo todo. não se cristalizar, não virar estátua, estar sempre experimentando algum treco nunca dantes navegado. mas não assim qualquer coisa que passa e pá, vamos lá. não sei, mas essa busca ansiosa pela novidade me parece muito semelhante à busca aflitiva pelo prazer a qualquer custo, aquele obrigatório, que quem não tem finge que esbanja e cobra igual desempenho do vizinho.
sei lá, mas mudança, novidade pode ser viver diferente dos manuais de felicidade que tentam nos fazer engolir.

*


o que pode acontecer de mais... irritante? incoveniente? desmoralizante? do que, em plena atividade de embrulhar os presentes natalinos, perceber que acabou a fita durex? que o restinho de cola secou e tá imprestável, e sua imprevidência juntou a falta de reservas com o horário impróprio, claro (são cinco da tarde do dia 24 e o comércio já fechou).
aí você, criativa que só, recorta uma etiqueta (só sobrou uma) em pedacinhos minúsculos e enfeita os embrulhos de quadradinhos brancos, uma gracinha.
ai deus, me faz eficiente como uma secretária executiva em outra encarnação.

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já reparou que quanto mais se valoriza a própria liberdade, mais se corre o risco de ser trancafiado, podado e limitado por quem tem medo dela?

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não me arrependo.
se há uma coisa que tem movimentado a macarronada dos meus pensamentos na grande panela cerebral, e desembaraçado alguns fios, é a convicção deste não me arrepender.
chega de censura prévia, censura dos fatos consumados - enfim, censuras - e de explicações.
às vezes a razão só serve pra se arranjar desculpas póstumas.
eu sempre quis entender por que. pra que. de que jeito. entender e logo explicar bem explicadinho pra não haver mal entendido, nem dúvida, nem desconfiança, nem erro, nem repetição dos problemas. nem críticas infundadas.
quanta bobagem.
eu sei tudo. me pergunte que eu digo. ensino, desdobro e disseco e classifico.
cada vez entendo mais que nada disso adianta, tem outro caminho mais rápido, mais eficaz, mais irreversível, ou quase, onde a vontade razoável é vencida por outra espécie de vontade muito mais poderosa e íntima.
e os erros, as más interpretações, não há explicação que possa evitar. críticas alheias, também não.
me arrepender por que? eu sempre faço o que posso. eu tento, nunca deixo pra lá. só desisto depois de experimentar por todos os lados. e me corrijo, volto atrás, procuro consertar o que arrebentei, mas é difícil reconhecer os obstáculos intransponíveis, as impossibilidades.
quem pode me provar que estou errada? é a minha vida, são meus interesses, eu sei o que me importa.
sem arrependimentos, então.
e sem muitas lições também, nem toda experiência serve pra situações posteriores.
da próxima vez, se vê na hora.

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não se engane comigo. eu sou um ser muito sensível, muito mesmo. daqueles que quebram. o fato de catar e colar os caquinhos e tentar pensar em outra coisa é mero detalhe da disposição poliânica, mas não gosto de cair e quebrar só pra provar que posso colar os caquinhos novamente.

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aí, craro, descobriram isto pra estragar a festa:
mas tirando meu pai, quem precisa de argumentos científicos numa hora dessas?

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eu adoro ser mulher, sabe? simplesmente fui feita pra isso, se nascesse homem seria viadaça com muita honra.

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então, em 2004 sei lá.
vamo quebrá tudo.

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