terça-feira, 23 de dezembro de 2003

y qué pasó?

tudo anda assim tão, mas tão, mas tanto que nem te conto.

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RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummond de Andrade)

"Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)

Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? Passa telegramas?).

Não precisa fazer listas de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
A partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano-Novo que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo,
Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano-Novo cochila e espera desde sempre."

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conheça o mundo que te cerca.

1- e-forró: gerador zero (), indescritível, inclassificável, incrível (no peepshow na cavídeo encerrou com el mamut, mas no fundo no fundo é uma banda..hmm..séria), exposta à apreciação nesta galáxia. aproveitemos pois.


2- sebo Luzes da Cidade, no Espaço Unibanco (Rua Voluntários da Pátria, 35 - Botafogo):
livros, discos/cds, cartões, objetinhos e objetões maravilhosos.
quando quiser me dar um presente, favor considerar o local como uma das opções prioritárias. brigada.

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não sei se acontece só comigo, mas acho que essas reportagens de segundos cadernos sobre corpo-e-mente-em-sintonia-por-uma-vida-mais-feliz-equilibrada-e-saudável fazem mal à saúde.

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valiosas dicas anti-pitis(*) da vida moderna: como cancelar cartões, cheques e pedir segunda via de documentos .
(*) ou melhor, pós-pitis. o piti nesses casos é inevitável, depois você providencia a solução. ou viva sem issos, se puder.

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albergue espanhol
dos filmes que vi este ano, um dos preferidos foi o Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole) .
é daqueles que dá vontade de ficar lá assistindo, assistindo, não precisava acabar. (aliás, o fim é meio assim, deve ter sido chato ser obrigado a inventar algum fim).
Cédric Klapisch é também o diretor d'O Gato Sumiu (Chacun Cherche son Chat) , um dos filmes mais simpáticos que eu já tinha visto (você sabe, filme simpático não dá pra definir, só vendo. e achando).
mas este é mais simpático ainda (obviamente elegi o Cédric K. o meu diretor de filmes simpáticos preferido desta semana), porque me deu saudades de tudo, entende?
ah, claro que não, mas não precisa.

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então alguém diz sábias palavras encorajadoras.
não funciona.
o que encoraja são palavras doces.

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Janela aberta para o universo invisível
imagens do novo supertelescópio espacial infravermelho da Nasa
galáxia em espiral, M81  o Spitzer pode registrar imagens através da poeira espacial que a luz visível ao olho humano não consegue atravessar.
berçários de estrelas, onde os corpos celestes surgem no espaço.  neste berçário as estrelas se formam a partir de vastas nuvens de gás e poeira cósmica.

(tão lindo isso, berçário de estrelas, poeira cósmica, espiral de galáxia. poemas espaciais no espectro invisível).

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a vida da gente também contém a vida de quem se ama. e quando tudo está por um fio, desencapado e quase rompido, a gente segura as pontas, tenta dar um nó, serve de extensão, de transmissor de corrente, do que precisar.
não é o outro que a gente tá tentando salvar, é a si mesma.
minha almofadinha de segurança.

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"Contam os antigos que no inverno mais rigoroso da Islândia, algo em torno de 40 graus abaixo de zero, a comunicação entre as pessoas andava bastante truncada. Contam que um casal, certa vez, numa cabana gélida, tentava conversar, mas as palavras saíam de suas bocas e se condensavam no ar. Contam que eles tinham de pegá-las ainda cristalizadas, fritá-las em óleo fervendo e comê-las. Só assim, no íntimo contato com a língua e as papilas, podiam saber o que elas significavam".
(Miniconto 1, Furio Lonza, 15/12/2003 )

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Roxy
não restará prédio sobre prédio, fachada sobre fachada, história sobre história, memória sobre memória neste bairro reformado.

mas...
"o que passou, passou.
o mundo gira depressa
e nessas voltas eu vou"

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terceiro mundo, né? quase sempre a gente trabalhou na precariedade. por falta de grana, de material adequado (conseqüência da primeira causa), de empresas mais profissionais (que dessem a devida atenção à segunda), de urgência do prazo (conseqüência da falta de planejamento, isto é, da terceira causa), de mil outros fatores semelhantes.
tem-se que improvisar, inventar, se virar.
no fim das contas foi bom, sabemos tirar leite de pedra se preciso for.
mas de repente você tem a impressão de que todas as pedras já são ordenhadas industrialmente e sugadas estudadamente até o bagaço, e o leite foi patenteado pelos japoneses e tem a distribuição controlada, fiscalizada e apropriada pelos órgãos competentes, e o que são os inventores independentes no cenário da livre concorrência justa entre as megaempresas que zelam pelo nosso bem? são criadores cheios de charme com os bolsos vermelhos de dívidas, tentando tirar leite de.. de... ah, naquele poste ali ninguém mexeu ainda.
(mas pensando bem, eu posso até aceitar ser apenas uma peça da engrenagem capitalista em troca de salário compatível com o enorme sacrifício da minha liberdade).

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de colo, quem não precisa?
mas dor não é show, não tem que servir de pasto pra ninguém.
nem de isca.

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um passinho à frente, faz favor.

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sejam felizes. não é um desejo, é um conselho. não é pra tentar, é pra pegar ou largar.

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