domingo, 21 de março de 2004

Não se fazem rebeliões como antigamente. Há dois anos, na Venezuela, o que restou aos cidadãos, para enfrentar um golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, foi a internet. Na semana passada, os espanhóis furaram o estado de sítio midiático imposto sobre eles por meio do uso febril de telefones celulares. A arma mais comum foram as mensagens de texto, ou... torpedos.

O volume de comunicações por celular na Espanha foi inteiramente anormal, da tarde de sábado ao domingo das eleições. As empresas telefônicas falam num aumento entre 20% e 40%, no número de chamadas completadas. Nas pequenas telas de cristal líquido circulavam, como sempre, convites para festas e encontros. Mas trafegava também a rebeldia. Questionava-se:
"quienes fueron?" Suspeitava-se:"saben y lo ocultan". Exigia-se: "la verdad!"


Do ciberespaço para o calor das ruas

Faltava algo, porém, para que a indignação saltasse do ciberespaço solitário para o calor das ruas. A fagulha foi riscada por alguém que permanece anônimo, mas cuja voz pode ser ouvida nas páginas de internet da Radiocable - uma rede de rádios espanholas que se dedica a temas semelhantes aos dos Fóruns Sociais, e produz entrevistas com gente como o subcomandante Marcos, Ignácio Ramonet, Bernard Cassen, Immanuel Wallerstein e Naomi Klein.

Na noite de sexta-feira, esta pessoa - um madrilenho, politizado e possivelmente jovem - compôs um torpedo que continha, além de sentimentos, uma proposta e um endereço, redigidos quase em linguagem cifrada:
"Aznar não engana. Chamam de jornada de reflexão, e Urdaci [o manipulador da TVE] trabalhando? Hoje, 13M, às 18h. Sede PP, R. Gênova, 13. Sem partidos. Silêncio pela verdade. Repasse!"

(O dia em que vencemos o terror. mais aqui)

Nenhum comentário: