terça-feira, 30 de março de 2004

das cartas:

hoje eu plantei gerânios e comprei flores amarelinhas.
já tive um canteiro de gerânios sob a janela do quarto, na outra casa, adoro aquele cheiro e flores vermelhas. mas não era como uma sacada européia, o canteiro ficava no chão, num terraço totalmente tropical onde passeavam tartarugas de água que aprenderam a sair sozinhas do seu tanque de cerâmica, pulando o muro.
o canteiro tinha também umas trepadeiras com campânulas vermelhas pequeninas e outra de sininhos brancos, maiores. esta era selvagem, peguei no mato muitos anos antes de mudar pra lá, e ela sobreviveu numa lata de biscoito. no primeiro apartamento ficava no quarto e dava a volta na janela, subindo em linhas (daquelas comuns de costura) que amarrei por todo canto, como suporte. viu Spider? pois era a minha teia de trepadeira selvagem, só que bem mais modesta, ordenada e decorativa. mas só deu flor no terraço.
andava com saudades das flores em casa (tenho dois tipos de plantas florescíveis que nunca morrem, mas no momento estão outonando, acho. e por casual incompatibilidade com os horários normais do mundo eu estou na primavera.)



tsk tsk tsk, as pessoas mentem tanto...



ontem fui às compras: adquiri por módica quantia muita castanha de caju, no moço do tabuleiro (sim, camelôs de castanha de caju, os há no meu bairro), e passei horas na papelaria (sem comprar grandes coisas mas olhando, olhando, querendo tudo).
ir às compras, aliás, não significa necessariamente chegar às vias de fato. às vezes significa ver o que há e fazer planos futuros, que se realizam ou não.



sinto muito mas tenho más notícias pra você, xuxu. os ciclos, os círculos, o que volta pro ponto de partida.
em animação funciona assim: o personagem que anda, na verdade está parado repetindo muitas vezes o ciclo do andar (as várias posições do corpo) e quem se movimenta é o cenário.



tenho algum problema com horas e preços, com os rabinhos depois da vírgula. só considero os números inteiros, sou a consumidora ideal pra quem são pensados os anúncios de ofertas a $9,99. então faço cálculos aproximados quando poderia saber exatamente quantos minutos faltam, quantas moedinhas esqueci de procurar na bolsa com antecedência e agora já era, vou ganhar mais peso na bolsa com este troco, porque os caras se vingam e só me dão moedinhas.



o mais legal na história deste sítio é que ele foi de todos e de ninguém.
uma comunidade familiar (da minha família e da família do meu ex-marido, as duas populosas), onde todos se educaram pra vida em grupo TENTANDO evitar estresses de convivência entre vários estilos, interesses, usos e necessidades de espaço, e TENTANDO colaborar pro funcionamento das coisas. (uns mais que outros, claro, mas a gente se divertiu bastante).



puxa, eu me arrependo tanto de algumas coisas. mas conto com as semelhanças entre os seres desorientados que habitam o planeta, acho que mereço tanto perdão quanto perdôo as cagadas alheias. o diabo é que demoro muito pra esquecer e não ligar mais, acho que os outros também devem demorar pra entender que eu nunca faço por mal, é pura ignorância dos processos do bem-viver.



ah, e a plantação de mandioca e mais os cogumelos alucinógenos a gente teve que destruir porque os prováveis compradores já parecem suficientemente doidos.



aliás, é difícil lembrar do que não deu certo, né não?
estive lendo minha agenda do tempo do sindicato dos metalúrgicos, antes não tivesse achado. porque só me lembrava da parte boa, nunca dos motivos que me fizeram sair correndo e não querer ouvir falar de atividade sindical nem assim por convites pra festas na Mangueira.



olha, nem queira me ver na cozinha. sou um espanto no microondas, não tem pra ninguém. esquentando gelados, é claro, ou fazendo pipoca. também sei ferver água pra fazer cappuccino solúvel. ou aprontar misturebas envenenadas passíveis de explosão (que dão certo porque a fada madrinha das cozinheiras quer me ver longe dali o mais rápido possível, e ajuda).
só sei que há um deus que criou as comidas prontas pra mim, só para mim.



talvez os poetas se enganem e a morte tenha mesmo controle.
em sentido figurado, xuxu, de anulação, a morte enquanto fim irreversível que apaga seus rastros nas curvinhas e montinhos cerebrais. (mas não acredito nela, prazeres e males da infância conservam-se com as cores originais, pelo menos na minha cabeça).
pra ser sincera não acredito nem na morte como fim total, eu que sou descrente de vidas eternas e reencarnações. acho que sempre sobra uma coisinha teimosa por uns tempos, tentando reexistir como era antes.

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