sexta-feira, 19 de março de 2004

=dazibao viagem=

1.
"Não posso, em nome de alguns empregos, legalizar o crime organizado e a lavagem de dinheiro. Se fizer isso, amanhã vão pedir que eu legalize a prostituição infantil em nome da criação de empregos. Com certeza, vamos gerar empregos no país. Mas não me peçam para cometer uma ilegalidade".

(Lula, em discurso durante a inauguração de uma maternidade em Recife, em 18/03/04).
eu ouvi no Jornal Nacional.
aí vem o Globo (jornal de papel) e dá a manchete na primeira página:
"Lula compara o bingo à prostituição infantil"

informando bem para servir-se sempre.

2.
MADRI - O governo de José María Aznar, que perdeu as eleições de domingo, deparou-se com novas acusações de ter enganado a opinião pública e seus aliados a respeito da autoria dos atentados de Madri, que mataram 202 pessoas.
O jornal 'El País', o mais influente da Espanha, traçou um paralelo entre a atuação do governo espanhol e a forma como os EUA e a Grã-Bretanha divulgaram
(falsas*) informações sobre o Iraque antes da guerra.

* (as tais das armas de destruição em massa, alguém lembra?)


pós-post: talvez não tenha ficado bem clara a intenção de comparar.
desinformação nem sempre é alterar conteúdos (2º caso), pode ser apenas escolher a forma.
e, é claro, o assunto aqui é a mídia, a verdade e sua "flexibilização", não é a opinião do Lula ou a estratégia do Aznar).

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agora outra coisa.
sobre a cota para negros nas universidades:

O programa da UnB não prevê reserva de vagas para estudantes de baixa renda. A cota será apenas racial, independentemente do poder aquisitivo do candidato, o que também é criticado por especialistas. Eles criticam o fato de um aluno com alto poder aquisitivo e que estudou em escola particular poder ser selecionado pelo sistema de cotas apenas por ser negro.
...
Ontem, o ministro da Educação, Tarso Genro, ao falar sobre cotas, defendeu uma posição diferente da UnB:
"Em diversas regiões, a maioria dos mais pobres é negra, mas em outras, não".


também estou achando, a cada dia mais, uma transposição inadequada da realidade estadunidense (nem norte-americana é), essas cotas raciais.
só para os negros, faz sentido no Rio, em Salvador, em cidades onde a discriminação dos negros justifique. mas em muitos lugares no sul, no nordeste, no norte, os mais pobres têm sangue e traços de índio, e aí? eles também não têm acesso à universidade. num país dessa diversidade, é muito risco provocar uma diferença entre "minorias" (termo mais inadequado ainda...) que só enfraquece a luta contra A discriminação em geral.

e me parece mais descabida ainda a proposta do Vicentinho de guardar uma cota para animações (desenhos animados) feitos por negros, junto com a obrigatoriedade de uma porcentagem de exibição de animações nacionais na TV.
mas o que é isso, que discriminação sofrem os animadores brasileiros negros que os brancos, amarelos e azuis também não sofram, pelo menos enquanto a profissão não exigir nenhuma escolaridade indispensável?

e tem outro ponto: animadores, desenhistas de hq, cartunistas e profissões semelhantes, são considerados artistas, por mais que se estabeleçam níveis de prestígio entre as artes clássicas e as "industriais", "pop" ou que rótulo se dê.
e é das coisas mais sinistras já acontecidas na história da humanidade selecionar artistas* pela raça, por sexo, pela religião, pela altura ou o que seja, e não pelo seu trabalho, não é?

* (artistas ou qualquer outra coisa, mas "arte" parece mais revelador por permitir ausência de formação escolar específica, formal, para o exercício da atividade - em tese, permitiria acesso sem discriminação financeira "de berço", bastando o talento. em tese, eu disse).

=fim do dazibao. continua do outro lado do muro, ou em qualquer superfície em edição extraordinária.=

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