quarta-feira, 17 de março de 2004

liga não, é que hoje eu acordei grudada no teto e espantosamente não caía, até que, depois de tentativas desajeitadas de movimentar-me, notei: eu não era outra barata de Kafka, apenas tinha virado, durante o sono, um balão de gás desamarrado.
mas grudada no teto. com ganas de voar pro além desconhecido e ali presa no quarto.
de lá de cima podia ver a janela fechada (e eu sem mãos), a porta fechada, os caminhos fechados e minha necessidade orgânica (ah, vai, aceita: balão de borracha, látex, seringueira, floresta, essas coisas) de voar por espaços livres, amplos, infinitos.
então me concentrei fortemente, de olhos bem fechados (se eu via o quarto, já deu pra notar que ainda tinha uma espécie de rosto, né? e cérebro gasoso, provavelmente), desejando muito juntar forças mentais suficientes para abrir a janela, vai que dá, mais um pouco, não pára, não pára...
foi aí que senti uma tontura e tive medo de explodir, sabe-se lá o que pode agüentar um balão de gás em contato com faíscas de força mental, e abri os olhos num impulso.
estava novamente deitada na minha cama, vendo o teto lá em cima ocupado apenas pela luminária (e uns pontinhos pretos que podiam ser cocô de mosca), novamente possuidora de mãos e pés. já podia abrir portas e janelas, andar até os grandes espaços externos, mas estava (momentaneamente) impedida de voar pelos ares inexplorados.
então achei melhor dormir mais um pouco, e passei o dia no quarto pensando no que fazer quando acordar novamente balão de gás.
porque você sabe, já repeti milhões de vezes, I need spaaaaaaaace.

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