sexta-feira, 5 de março de 2004

o dia em que eu entendi.
foi assim: um certo dia toda a minha percepção das coisas mudou, porque entendi a relatividade da percepção das coisas.
foi um texto sobre gestalt que estava lendo, estudante do segundo grau no Pedro II, e que provava, com as ilustrações, que se pode ter leituras diferentes de uma mesma "realidade" visual.
um choque, se você quer saber, uma descoberta revolucionária. porque eu fui criança no tempo das Certezas, das Verdades, das Eternidades Imutáveis, do "certo-ou-errado", das regras que "sempre foram assim", do "todo mundo é...", imagine só a insegurança do relativismo nessas cabeças.
e se eu podia ver a taça e depois dois caras só trocando a figura pelo fundo no primeiro plano, isto queria dizer que eu podia ver o que você não via, nós dois olhando pra mesma coisa ao mesmo tempo no mesmo lugar. entendi num *clic* o poder da subjetividade (entender não quer dizer levar em conta o tempo todo, não é? eu também me esqueço).

e daí pra entender mais tarde as variadas versões da verdade, cada um acreditando em seu próprio relato "objetivo", as nuances, o filtro pessoal do "conhecimento" e as impossibilidades de reprodução fiel, as distorções político-ideológicas nas descrições e análises dos fatos, tudo ficou mais fácil. (mas, como já disse, entender não impede de esquecer e às vezes pensar/agir como se não soubesse).
então, mesmo parecendo óbvio, nunca é demais lembrar: podemos estar olhando as mesmas coisas, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e vendo REALMENTE, HONESTAMENTE, VERDADEIRAMENTE coisas diferentes.

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