terça-feira, 12 de outubro de 2004

graúna - Henfil

E eis que chega a vez do mblog subir no telhado e nos atirar lá de cima.
Não que eu fizesse tanta questão no momento, mas todas as imagens deste e de meus outros blogs (inclusive o portfólio dos desenhos) sumiram no espaço, sem prévio aviso. O que sobrou foi linkado diretamente de outros sites ou é resquício dos antigos álbuns do hpg, a que não tenho mais acesso para edição (eu reclamava tanto, mas pelo menos eles tiveram a gentileza de não apagar meu passado --> update suspiroso: não se pode elogiar... Tudo bem, mas não me rendo - taí tudo de novo).
Lá fui catar substituições de última hora pra evitar os deprimentes quadros vazios com xizinhos no canto. As cores descombinam, mas tomem como uma estética kitsch de protesto, algo assim. Não vou fazer outro template tão cedo, talvez nunca mais.
(update redundante: tá bom, tá bom, eu não aguentei aquelas cores e mudei as imagens. Até um blog tem que morrer com dignidade, tadinho. Mais tarde refaço o portfólio).
Pior foi pra quem perdeu o blog inteiro de repente. Ou pra nós leitores, que perdemos excelentes blogs de repente.
Mas são as regras. Quer gratuidade? Esteja preparado para as surpresas.

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Já reparou? É o fim da democracia representativa.
Não há mais intermediários: o Traficante se candidata ele mesmo, o Banqueiro, o Pastor, a Funkeira, o Contrabandista, o Povo, o Diabo. Não há mais perigo de traição dos políticos-representantes-de-interesses que mudam de lado depois de eleitos e abandonam seus financiadores de campanhas.
Os Novos Políticos não prometem, suas figuras, currículos ou sobrenomes explicitam o que desejam fazer lá. Os eleitores não podem mais se queixar de ter sido enganados.




by Brant Parker

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da série me larga, eu quero saltar:

1- Vista assim do alto mais parece o céu no chão.

Abrem a porta às quinze pras seis:
- Pessoal, a polícia tá subindo o morro, ninguém sai agora.

Sair, tá louco? E perder o espetáculo das balas traçantes?


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2- Depois de trabalhar toda a semana, meu sábado não vou desperdiçar.

- Qualé, cara, foi você que avançou o sinal!
- POLIÇA FEDERAAAAAL!!! (Tira do bolso e brande no ar os documentos, mas não mostra). E se eu não estivesse com minha namorada aqui, te enchia de tiro nos cornos!!!


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Sorte nossa de vivermos os dias atuais, de progresso tecnológico e evolução do saber.
O avanço científico da Humanidade possibilitou a troca de fatores aleatórios por um ambiente controlado para a generalização e a aceleração do processo de extinção da vida, inteligente ou nem tanto, sobre a Terra.


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kill bill
(da Telescópica)



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Não mexe comigo.
Eu conheço a técnica dos cinco pontos para explodir o coração.


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Interrompemos as férias (não minhas, do blog) para dar vazão a esta imensa perplexidade (inexplicável, já que nenhuma surpresa seria possível no contexto) com o rumo das coisas.
As coisas estão irremediavelmente perdidas por aqui. Eu moro na Colômbia. A gente não queria o povo no poder? Pois o povo, esta entidade com fins lucrativos, é assim como o formaram tantos anos seguidos de falta de educação e excesso de tv: preconceituoso, ultraconservador, fanático, comprável (bem baratinho), impressionável, obediente (servil) aos que lhe parecem "importantes" ou célebres (não necessariamente poderosos), corrupto (já dizia Hélio Luz em depoimento no documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles e Kátia Lund: mas esta sociedade está preparada para uma polícia sem corrupção? que não dê jeitinho quando os desvios da lei forem os seus?), que admira e segue ídolos espertos (porque inescrupulosos) mas não aceita a liberdade de escolha do vizinho sobre o modo de levar a própria vida, mesmo que não perturbe ninguém.
Tá tudo dominado: de um lado o Poder armado, que pode ser o do morro, o da puliça, o dos meninos de rua ou o das gangues de pitboys; do outro lado o fanatismo religioso controlador do que nos faz mal ou bem, imune a argumentos e outras frescuras da racionalidade (quem está contra mim está contra Deus e ponto final).
Nenhuma novidade, por que tanto espanto?
Porque eu sempre disse que "apesar de tudo" nunca deixaria o meu país, o Rio de Janeiro, os arredores do meu bairro. Mas este "tudo" já está ultrapassando os limites da minha ampla tolerância, e não tenho idéia de pra onde poderia ir, eu sei que o mundo é todo cruel, mas eu quero ir, minha gente, eu não sou mais daqui.
(update arrependido: passada a tempestade, daqui não saio, daqui ninguém me tira. Ou talvez tirem. Ou talvez saia. Sei lá. Mas ainda não. Hoje fez um dia lindo.)

Graúna, de Henfil

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