domingo, 17 de abril de 2005

agora eu sei que as palavras impronunciáveis escorrem pelo nariz e, uma vez na luz do mundo, cobrem as cidades com seus trovões em decibéis assustadores.
não, não era isso o que eu queria dizer.
só queria dizer que acordo impressionada com o enorme barulho do desconhecido que ruge lá de dentro, o boi cruel da cara preta que arranca braços de criancinhas e come maltrapilhos acuados em becos.
também não ia dizer isso, mas já que disse não vou explicar melhor.
eles não querem nada mais que um pouco de esperança, e escavucam chãos e paredes, arrancam tacos, incendeiam o mato em volta da casa, levitam sobre a vila com uma lupa e tudo o que encontram são escombros do que destróem todos os dias, malditos esperançosos.
e eu, que só digo o que não quero, faria melhor se fosse até a praia pegar umas ondas.



Docebel correndo pela rua imaginando campos de margaridas, aspirando vapor de gasolina do posto e sorrindo feliz pro sol das duas da tarde, os pezinhos colando no asfalto derretido.
Docebel é idiota de nascença.



já lhe disse que tenho o direito de usar meus superpoderes para eliminar alguns incômodos da minha vida. e uso, mas com moderação.
quando meu horóscopo recomenda: "hoje é dia de cianureto no cafezinho das visitas inoportunas", eu ponho uma vassoura atrás da porta e invento uma desculpa amável e claramente esfarrapada pra sair rapidinho.



é o seu jeito de professor, é a sua falta de jeito pra todo o resto, acho que são os olhos que não piscam, presos num ponto do ar. é o clarão da estrela no fundo do poço, é a surpresa armada no alto da árvore, é a chuva de sustos em pétalas e os carinhos amarrados como lenços saindo da cartola, a viagem sem fim.
meu bem-querer.

Nenhum comentário: