domingo, 10 de abril de 2005

tem um sagüizinho de rabo listrado morando na mangueira aqui embaixo da janela.
ele pia como quem manda beijos, como piam os morcegos, como piam altíssimo os filhotes de passarinho em suas fomes insaciáveis.
só ontem lembrei que morcegos não se manifestam de dia e, procurando um ninho, achei um rabo e depois uma cara pequena e familiar, de parente distante, me olhando de longe.
ele pia e abre janelas entre as folhas da mangueira.
eu também lhe mandei beijos, e ficamos assim trocando mensagens amorosas por um longo tempo:
"como vão todos?" "bem, as crianças cresceram e se enfiaram nos buracos do mundo" "encontrei um primo seu faz tempo, na Gávea, pegando frutas no quintal da Escola Parque" "aquele morreu no fim do ano, de pedrada, e foi parar numa panela" "ah, esta cidade e seus famintos sem sentimentos solidários para com outras espécies em extinção..."
mas tive que abandonar a conversa porque chegou a hora de viajar. não houve tempo de lhe dar conselhos, o que por um lado sempre é ótimo, mas por outro, sei lá, eu lhe teria avisado para não aceitar sobras de comida humana, fast food, batata frita redonda e ovinhos de amendoim.

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