sexta-feira, 3 de junho de 2005

o dia amanheceu cantando

cada degrau da escada me revelava mais um pouco do sentido da vida
- porque se a vida tem um sentido, é este: subir escadas
e ao chegar no alto, sobre todas as coisas, entendemos absurdamente,
totalmente, indubitavelmente quem somos, de onde viemos, para onde vamos;
a noite fica lá fora, a janela tem 17 polegadas e 48 cortinas grossas;
apenas um contato online vela pelas horas mortas;
um teclado sem parênteses, a constatação de que são dispensáveis
- tudo é substituível se a alma não é pequena;
a música ao longe - sempre há uma sublinhando as revelações importantes, mesmo que seja um ringtone;
e a noite passa lá fora ignorada - hoje não quero ver este filme repetido pela milésima vez, com efeitos especiais mirabolantes e atores canastrões demais.
a vida revelada se nos apresenta em forma de dilemas: o que fazer amanhã, antes que seja tarde demais?
o mundo não vale a minha cama, dizia um quadrinho de madeira da loja mineira, com um coqueiro estampado a fogo. acho que era isso.
mas é preciso muito esforço para alcançar a luz, e desço a escada correndo na manhã seguinte até a rua ensolarada
invertendo o sentido da vida.

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