sábado, 17 de julho de 2004

estou mandando uma mensagem em código, que só você pode decifrar, porque está escrita na água. (não na superfície da água, que seria muito fácil pra qualquer um, mas lá dentro do silêncio, o deep blue frio dos segredos afundados de propósito, onde nascem cracas e corais pros mergulhadores fotografarem).
minha mensagem não diz nada. só torce pra que tudo continue assim, amplos azuis e pequenas descobertas.
 

mermaid, dulac
 
 
Parecia tão inofensivo.
Brincando com fogo, ele disse. Malabares de fogo no espaço saturado de gás.
Deixa quieto.
Não deixei, explodir é efeito colateral das experiências de dominação do mundo, como sabem todos os cientistas loucos.
 
 
burn, baby
 

não fala sobre o acontecido. quem viu já sabe, quem não viu não acredita.
a verdade é relativa, os sonhos são inúteis e teve abobrinha no almoço, mas eu não ligo.
onde você se meteu?
volta logo, volta sempre. fica até mais tarde. não vai mais embora. vem ver os passarinhos.
(eles deram rasantes, acho que pra assustar. há tantos no mundo e vão voar sobre sua cabeça vezes sem conta. talvez cagar sobre sua cabeça. não por acaso, são verdes como esperanças de olhinhos vivos e te bicam mais com os olhinhos do que com os bicos).
aquilo não foi nada, esquece. não engolirei mais sapos. juro por Tara: agora só serei leve e despreocupadamente borboleta (tirando o  perigo de um sapo me engolir).
cumpre o não-prometido direitinho, preciso acreditar em você. acredita em mim. me espera que eu estou indo logo. demora um pouco, mas eu chego a tempo.
(quer dizer, o tempo é relativo, talvez tenhamos que fabricar alguma reserva de paciência).
não faz sua história andar pra trás, não é preciso. eu estive lá, estive em todos os lugares mas agora estou aqui.
me deixa entrar por esta porta sem pedir a senha, me conta tudo sobre todas as coisas que são e foram e serão, talvez. ou não fala nada importante, deixa assim, de mordidinha em mordidinha.
sabe, eu ganhei um presente.
sabe, eu recuperei o passado, desamassei as beiradas, estendi pra secar ao sol.
sabe, eu espero o dia seguinte como criança espera o Natal.

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