sábado, 10 de julho de 2004

ET phone home:


olhei e ele ainda estava ali. me seguiu por um quarteirão, com aqueles olhinhos entre suplicantes e dominadores de quem sabe que a presa tá no papo, e veja que nem conseguia andar direito. acho que encontrou o que procurava.
sabe quando você sabe que vai ser inevitável? que apesar dos alarmes do Departamento de Segurança foi desencadeado um processo que só acaba quando termina? parei, me abaixei, fiz um cafuné, peguei. tão pequenininho no meu colo, se aconchegando, tremendo todo, uma bolotinha embrulhada no meu casaco.
e eu me dizendo não, agora não dá, ainda não. mas você sabe, às vezes eu falo muito baixo, e por outro lado fico surda.

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"e vocês, que virão na crista da onda em que nos afogamos, ao falar de nossas fraquezas, pensem também no tempo sombrio a que escaparam" (Aos que vão nascer, Bertold Brecht)

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alguém escapará?

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te juro, segunda-feira passada conheci a bruxa do 61.

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já te contei que sou obsessiva compulsiva capaz de corrigir, até a auto-satisfação, a curva de um olhinho fechado que aparecerá por uma fração de segundo (que beira os limites da percepção visual humana) em uma piscada de personagem duma animação de proporções reduzidas que não vai pro Anima Mundi e sim pras telinhas mal resolvidas de monitores de 14 polegadas - enfim, um trabalho inútil? e eu GOSTO disso. eu me sinto realizada fazendo uma coisa que ninguém vai reparar.
a vida é assim, as pessoas são esquisitas.

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o egoísmo é o efeito colateral mais previsível da overdose de psicanálise, especialmente na nossa crasse mérdia.
de vez em quando, exercitar o "abrir mão em favor de" é saudável e não provoca danos à auto-estima, como temem alguns.

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é que naquele dia eu estava sob efeito de substâncias alteradoras da personalidade, além da consciência. gás hilariante, provavelmente.

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porque é assim, no que vc mergulha no oceano das improbabilidades vai perdendo a noção dos limites, e ao perder a noção vai se embrenhando no pântano das questões insolúveis e passa a oferecer sacrifícios semanais à Grande Lacuna.

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tão linda a mãe natureza e seus raios que nos partem.

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eu canto pela rua. eu rio pro sol, pra ventania, pros desconhecidos. eu saltito às sete da manhã. eu uso roupas coloridas, e de florzinha. eu choro em desenho animado. eu não acho que os humanos devam ser extintos. eu gosto de The Doors, Fernanda Abreu, Caetano e Dick Dale. eu não quero saber de orkut. eu não agüento filme trash, site trash, programa de tv trash e música trash por mais do que uma vez (animação, quadrinho e clipe tosco eu topo). eu gosto de praia e de surfe. eu assisto futebol. eu uso cinto de segurança, paro no sinal vermelho e atravesso na faixa. devo ter esperanças de que meus amigos um dia me amarão, apesar de tudo?

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mas deixa eu te contar do Pânico. você olha e não vê, você ouve e não entende, você lê e interpreta errado, e se alguém te faz uma pergunta na lata, tipo "qual é o seu nome?", dá um branco total radiante (e não é que você não consiga falar, é que você NÃO SABE A RESPOSTA).
um estado de ET-recém-desembarcado desencadeado por situações inéditas e/ou kafkianas - nas quais ninguém te informou as instruções mas você precisa cumpri-las urgentemente - que pode durar quinze minutos, dois dias, um mês e meio. mas passa. tem que ter paciência porque passa e aos poucos você se lembra do próprio endereço ou telefone, recorda que aquele barulho é um alarme que significa "saída de carro da garagem", portanto convém prestar atenção pra não ser atropelada na calçada de novo, essas coisas.
nesses momentos de ansiedade adaptativa a boa vontade das pessoas que te cercam não tem preço. e não é pra esquecer nunca mais na vida, por isso alguns ETs mochileiros das galáxias ficam na Terra para sempre.

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eu estaria animamundando a essas horas, mas hoje tem espetáculo, tem sim senhor.

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me explica: pra que importar espontaneamente a aflição obrigatória dos estudantes de high schools ou universidades americanas, de provar o tempo todo que são "populares" através de números, se um deus gozador, que adora brincadeira, pra te botar no mundo tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado etcetcetc e você pode ter amizades verdadeiras que se medem pela qualidade?
(upigreidando, era mais ou menos isto o que eu queria dizer).

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mas falando em celebridades, conheci recentemente duas do meu acervo de admiráveis, uma na área musical outra na área quadrinhal. que me parecem pessoas muito legais, como esperava. pra um eu já pedi autógrafo (pra vender daqui a três anos por milhões de dólares, euros ou trocar por petróleo, ações de empresas de telecomunicações ou água potável). pro outro, pedirei quando for a um show, pra dobrar meu patrimônio. porque se um dia houver justiça neste mundo eles serão famosos por méritos próprios, receberão as flores (e a grana a que terão direito) em vida e poderão condicionar sua participação num evento das Organizações Globo ao cancelamento do apoio global à candidatura do Bispo Crivella à presidência.

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cara, e pelo jeito, mais uma vez eu vou ter que votar no Qualquer Um da Silva pra tentar barrar o Crivella no segundo turno. qq 1 que provavelmente será o Cesar Maia, quem diria. e no primeiro turno, por falta de melhor opção, vou de Jandira mesmo.
que saco, sempre a mesma coisa. faz um tempão que não voto em quem acredito, aqui no Rio.
mas anular eu acho pior, os eleitores dessas catástrofes jamais anulam os seus vales-dentadura.

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