sábado, 6 de novembro de 2004

derradeira estação

não quero mais ouvir sua batucada
digital
(informática metralha
sub-UZI equipadinha com cartucho musical
etc)

em Faluja pelo menos há um sentido, uma lógica, uns inimigos circulando pra lá e pra cá.
aqui até os cachorrinhos fofos matam velhinhas e posam pros jornais com as meigas linguinhas lambuzadas de sangue.

mas pensa que eu asso a mente nas chamas do inferno cotidiano? pois o vapor tremulante que se desprende do cimento fervente provoca miragens, e vejo coisas lindas.
não sei quantas vezes subi o morro cantando.

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falando nisso, o puxa-saquismo é uma coisa abjeta.

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(não tem nada com isso, apenas lembrei).

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existe uma espécie de dependência entre atacante e vítima, se é que me entende, e tudo flui naquela gosma.

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argh.

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mas funciona, funciona.
abjetamente funcional.

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(reparemos que puxa-saquismo não é o mesmo que elogio.
geralmente somos generosos e até perdulários nas críticas e mãos-de-vaca pros elogios.
porque não queremos parecer puxa-sacos abjetos, é compreensível.
mas temos que equilibrar melhor isso, pra não sair inventando defeito onde não tem e disfarçando nossa admiração embaraçosa).

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aliás, inventar defeito pra tudo e todos que não correspondem às nossas mais viajantes expectativas: praticamente um esporte planetário.

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é até engraçado assistir o processo de completar as lacunas do desconhecido com o que já é sabido e mastigado, a aplicação de estereótipos para enquadrar pessoas e atos inexplicáveis em modelos compreensíveis pelas mentes simples e a crença inabalável no poder da própria imaginação.

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foi assim que Bush se reelegeu, parece.
os crentes, os simples, os tementes do desconhecido e um mundo decifradinho em dez lições.

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mas no poder da imaginação pode-se acreditar sem censura, quando seu ofício é inventar mundos paralelos e eles são tão mais fáceis de habitar.

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e também é inevitável reconhecer que todos enquadramos pessoas nos nossos preconceitos, e fazemos quase tudo o que criticamos, porque viver na prática conforme as boas regras é muito complicado mesmo e decifrar gente é tarefa pra uma vida longa.


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linka o meu que eu linko o seu:

entabular interações indiretas com carentes de popularidade, afeto digital e/ou discípulos pode fazer mal à paciência.

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blogs e outros canais virtuais são espaços para as pessoas dizerem o que pensam.
e muitas vezes não precisamos ouvir uma segunda opinião.

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pode-se tentar dizer o que os outros pensam, há quem prefira.

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ah, e se esquecemos de botar aquele ícone indicador de ironia, as pessoas que mandam cartas de protesto contra os artigos do Agamenon Mendes Pedreira ficam sem entender muito bem.

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também pode-se tentar manter comentários públicos e blog afastados como se fossem pimenta & olhos, imagina receber um assim

oie!!
nosss mto loko u blog!
passa lah nu mew dps, oks?
flw
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definitivamente, não ia prestar.

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alguns contatos imediatos de avançados graus ainda devem ser mantidos, porque Denise ainda está chamando.
mas é um grande alívio o encerramento de uma fase de confusão entre discursos fictícios e identidade, entre facilidade de comunicação e amizade.
a fase de máscaras, máscaras, máscaras e efeitos especiais.

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restaria apenas o saudável da proposta.

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vivendo e aprendendo.

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sonhar não custa nada.

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mas não, ainda não acabou.
quanto a mim, não é verdade que não leio mais blogs.
alguns eu leio com imenso prazer, e são descobertas recentes.
alguns eu li desde o início dos tempos e lerei enquanto existirem.
meia dúzia no total, e não é um modo de dizer.

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mas você sabe, o mundo muda quando o eixo dos seus interesses se desloca para um universo desblogado.

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